Vivemos um momento perigoso no Brasil. Comportamentos extremistas, preconceituosos e violentos estão crescendo cada vez mais na nossa sociedade. Qualquer discussão passou a ser pretexto para agressões e troca de farpas entre pessoas de diversas áreas, seja na forma presencial ou via redes sociais.
A violência a direitos e à cidadania está se tornando rotina. Estamos perdendo a nossa civilidade, nossa capacidade de se indignar com o que está errado e nossa sensibilidade com a dor do outro em nome de um modo de vida extremamente egoísta, em que a nossa visão de mundo deve sempre prevalecer. Estamos cada vez mais ressaltando nossas diferenças e deixando de admirá-las, respeitá-las e aprender com elas.
Essa falta de solidariedade afeta programas e projetos que precisam dessa preocupação para ajudar a quem precisa, para salvar vidas.
É o caso do Redome, que é o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea no Brasil. Apresentamos nesta edição que o número de inscritos sofreu queda significativa entre 2015 e 2016, quando o normal seria que a lista só crescesse, já que, em teoria, as pessoas vão ficando mais informadas sobre doenças e tratamentos. Hoje, apenas 2% da população brasileira é doadora de medula óssea.
E o pior é que em 20% dos casos em que um possível doador é identificado, ele não é encontrado para fazer a doação. Tente se colocar no lugar de um paciente que precisa do transplante e que poderá morrer porque o doador mudou de telefone ou de cidade e se esqueceu de avisar o registro.
Especialistas apontam também a interrupção de campanhas de conscientização como causa principal da queda do número de doadores. Mais uma vez escolhemos o caminho do ajuste fiscal de ministérios e secretarias a qualquer custo em vez de olhar para os benefícios que as ações trazem. Campanhas como as de doação de medula podem não dar voto e não melhoram a imagem de nenhum governo, mas salvam vidas.
Por isso, fazemos um apelo para que você, leitor, seja um doador. Faça a inscrição no Redome ou atualize seus dados. A solidariedade pode ajudar a combater o crescimento do ódio em nossa sociedade, e você pode ser tão beneficiado quanto quem recebe a doação.
NOTA:
Sobre o texto acima, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), esclarece que "o número de cadastros no REDOME continua a crescer, tendo alcançado a marca de 4.3 milhões de doadores cadastrados em 2016. O Brasil tem hoje o terceiro maior registro do Mundo e é o que mais cresceu nos últimos 10 anos. Apesar do número de cadastros de novos doadores em 2016 ter sido inferior a 2015 e da manutenção regulada de novos doadores, ainda assim o REDOME cresceu.