Terceira idade abre oportunidades de trabalho que elevam a autoestima e reforçam a conta bancária

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
21/01/2017 às 18:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:30

Foi preciso esperar a chegada das rugas e dos pés de galinha para eles se darem conta de que o tempo poderia ser um aliado e tanto, inclusive na vida profissional. Na contramão de muita gente que pendurou as chuteiras ao completar 60 anos, Dodora, Sílvio e Lili representam uma geração para a qual terceira idade, definitivamente, não é sinônimo de aposentadoria. Eles tiram proveito da maturidade e da aparência e, de quebra, turbinam a autoestima e engordam a conta bancária trabalhando como modelos e atores.

A separação do marido combinada com o fim do tempo de trabalho caiu como uma bomba na vida da enfermeira Lili Diniz, de 64 anos. “Fiquei perdida, sem chão”, resume. A saída encontrada, ou melhor, sugerida por um amigo, foram os palcos do teatro.

É lá e nos estúdios de fotografia e de gravação de comercial que ela ressignifica a própria existência. Lili profissionalizou-se atriz e, hoje, atua em peças e comerciais de TV. 

“Sou a aposentada que não tem tempo para nada. É maravilhoso chegar aos 60 assim. Melhor ainda, aos 65”, comemora, enquanto faz contagem regressiva para a nova idade. 

ColeçãoFlávio Tavares/Hoje em DiaSONHO ANTIGO – Enquanto houver vida é importante trabalhar a autoestima, diz a modelo, miss e atriz Dodora

A colega de profissão Dodora Galinari, de 74 anos, seguiu rumo parecido. Psicóloga por formação e especialista em pedagogia, ela deu aulas durante boa parte da vida, mas nunca conseguiu se livrar do desejo de ser artista. “Fui criada em padrões muito conservadores. Filha de fazendeiro, tive que estudar, ser professora e, assim, o tempo foi passando”, lembra. 

Um dia, a filha dela leu anúncio de uma agência de modelos que recrutava pessoas com mais de 50 anos. Foi quando tudo começou. Hoje, a atriz e modelo concilia as aparições na mídia com os atendimentos no consultório e contabiliza mais do que pacientes, fotografias, faixas e coroas das dezenas de trabalhos que fez ao longo de mais de dez anos na carreira nova. 

A remuneração, confessa, não é de saltar aos olhos. “Vale a pena assim mesmo”, diz. “É um tempo muito longo para um retorno financeiro mínimo. Mas parada eu não fico, gosto de me envolver nas coisas e é uma área pela qual me interesso muito”, conta a dona de um título de Miss Melhor Idade.

Oferta farta

O produtor de casting e fotógrafo da Glam Studio Agency – agência de modelos sediada em BH –, Lincoln Macedo, diz que o cachê do atores e modelos da terceira idade varia conforme o tempo de veiculação e alcance do projeto – local ou nacional. Segundo ele, porém, a demanda é farta. “Não existe uma remuneração média ou determinado perfil que seja mais requisitado. Tem muita procura e muito trabalho. Às vezes, falta gente”, reforça. 

Sílvio Ferreira, de 84 anos, ingressou na carreira de modelo por acaso, após aposentar-se da área do turismo na qual trabalhou por mais de 50 anos. Autodidata, aprendeu a posar para as câmeras sozinho, e adora! “Quando garoto, brinquei muito de ser o Tarzan. Sonhava em ser ator de cinema. Quando me convidaram para um comercial pensei: ‘é minha oportunidade de chegar a Hollywood’”, brinca ele, que encara tudo com muito bom-humor e motivação. 

Demanda grande em agências por profissionais maduros

Ao contrário das cobranças enfrentadas por modelos jovens, que precisam se encaixar nos padrões da indústria da moda, os artistas da terceira idade têm mais liberdade para explorar as formas naturais do corpo e até as marcas da idade impressas no rosto.

Segundo o diretor de Casting da Glam Studio Agency, Lincoln Macedo, não existem biotipos mais requisitados. Há espaço para todos nesse universo de profissionais com mais de 50 ou 60 anos. As propostas também costumam ser variadas, indo desde comerciais para construtoras de imóveis a propagandas para planos de saúde.

Para quem tem interesse na área, ele recomenda buscar agências conhecidas e fazer pesquisas com amigos e nas redes sociais para não cair em ciladas. Modelos podem se dar melhor se tiverem um book pronto com boas fotos. Já os atores conquistam mais espaço e cachê melhor se têm formação em teatro. 

EmpreitadaFifty Models/DivulgaçãoFIFTY MODELS – Advogada paulista criou grupo de mulheres com mais de 50 anos que reúne modelos de várias partes do país 

Em São Paulo, uma advogada de 58 anos decidiu “dar as caras” no mercado para promover a si mesma e outras mulheres com idades próximas à dela. Maria Rosa von Horn é idealizadora da Fifty Models, agência virtual que reúne modelos maduras do país todo. 

“Foi uma ideia inédita e, no começo, muito criticada. Com o tempo fui descobrindo que outras mulheres pensavam como eu: tinham o sonho de se verem bonitas e serem valorizadas. É como uma pílula de autoestima”, diz. 

Sucesso na maturidadeInstagram/Reprodução'MUSA DO INSTAGRAM' - Yazemeenah Rossi acredita que o segredo é encontrar conforto na própria imagem

O corpo esguio e a naturalidade com que a modelo francesa Yazemeenah Rossi se comporta diante das lentes dificilmente entregaria a idade da nova “musa do Instagram” não fosse por um detalhe. O estilo “natureba” – a maioria das fotos que ela publica na web não têm retoques – e os longos cabelos brancos são as marcas registradas da senhora de 61 anos. Isso mesmo! A modelo da terceira idade soma 30 anos de carreira na indústria da moda, mas, talvez, só agora esteja, de fato, fazendo o sucesso que merece e sempre desejou. 

Recentemente, foi eleita protagonista da campanha publicitária da marca britânica Marks & Spencer. Além da forma física admirável, Yazemeenah, que contabiliza uma legião de seguidores virtuais, ostenta uma maturidade digna de causar inveja nas “novinhas”. Ela diz que o grande segredo do sucesso é encontrar conforto na própria imagem. Ao receber elogios sobre a coragem de expor o corpo na frente das câmeras, dispara: “isso não é coragem, é o que sou”.

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