‘A Prefeitura de BH é uma adversária dos empreendedores’

Filipe Motta
fmotta@hojeemdia.com.br
17/09/2016 às 01:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:52
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Com poucas chances de chegar ao segundo turno, de acordo com as pesquisas, Marcelo Álvaro Antônio (PR) descarta a possibilidade de abandonar a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte. O candidato se defende das críticas por fazer campanha focada no Barreiro, propõe a criação de um sistema de melhoria das licitações públicas e o aumento da presença da prefeitura na agenda de segurança. Confira mais uma entrevista da série com os candidatos à PBH. 

As propostas do senhor têm sido focadas no Barreiro, seu reduto eleitoral. É uma campanha para prefeito ou uma pré-campanha para reeleição a deputado federal, como tem sido colocado por seus adversários?
Muito pelo contrário. Não faria uma tentativa de garantir minha reeleição a deputado no Barreiro, onde as pessoas já me conhecem. Tenho andado por toda a cidade: semana passada estive em Venda Nova e nas regiões Oeste e Noroeste. E sou consciente que não serei prefeito do Barreiro, mas de Belo Horizonte. Não é que eu foque a minha campanha por lá. A verdade é que jamais deixei de negar a minha origem. E como tenho dito, o Barreiro pode ser uma caixa de ressonância e apresentar Marcelo Álvaro Antônio para o restante da cidade.

“O problema não é ser político, como dizem por aí, mas ser mau político. Para resolver questões como a do metrô, é preciso bom nível de articulação”

 
O senhor ainda não conseguiu decolar nas pesquisas. Existe a possibilidade de desistir?
Essa possibilidade é zero, nula. É uma campanha muito curta, de 45 dias, que está privilegiando quem tem um recall, como é o caso de João Leite, que já foi candidato duas vezes, e Kalil, que é muito conhecido na cidade e tem o recall do Atlético. Além disso, há o detalhe de eu ter uma campanha mais modesta, em termos de estrutura, sem carros de som e militância paga em cruzamentos, não faço carreatas. O curto espaço de tempo é, realmente, prejudicial, mas acredito que possamos virar o jogo aos 45 do segundo tempo, com um gol de canela, e chegar ao segundo turno.

Caso o senhor não esteja no segundo turno, teria preferência por apoiar Kalil ou João Leite, que são os nomes à frente, no momento?
Não parei para pensar nisso porque não considero essa hipótese.

Qual a prioridade da cidade?
É necessária uma força-tarefa para a regularização fundiária das ocupações históricas existentes na cidade e, assim, entrar com a infraestrutura que a prefeitura precisa oferecer. Muitos locais são ocupações antigas, mas que estão consolidadas, algumas com mais de 4 mil famílias. São casas de alvenaria, de muitos anos. Todas as regionais têm áreas com esse perfil e em que não há nada: asfalto, esgoto, saneamento básico, escola ou transporte público. 

 Lucas Prates 


Como induzir o investimento na cidade, melhorando a arrecadação e gerando empregos?
O primeiro ponto é não atrapalhar. Tenho conhecimento da Secretaria de Regulação Urbana na cidade. A prefeitura se coloca como um adversária dos empreendedores. Aprovar um projeto em Belo Horizonte é um parto, uma dificuldade tremenda. Amigos que empreendem, constroem, dizem: “Marcelo, eu vou construir em São Paulo, vou para o Rio de Janeiro. Aqui não dá”. A prefeitura, enquanto pode, coloca empecilhos para aprovar um projeto. O habite-se, depois, é uma outra dificuldade. 

Qual o outro ponto?
O outro ponto é a questão das vocações da cidade, como os bares e restaurantes. É preciso encontrar um modelo em que a prefeitura seja parceira dos empreendedores da noite, mas que ao mesmo tempo não traga desconforto para os moradores. Esse processo de diálogo precisa ser aberto, o quanto antes. A prefeitura possui um código de postura extremamente rígido, mas ao mesmo tempo é preciso ter uma fiscalização eficiente para fazer com que a lei funcione.

Haveria outras vocações?
As startups de tecnologia já se tornaram uma vocação da cidade. Temos o San Pedro Valley, que tem sido muito importante. Mas há muita burocracia para os empreendedores registrarem suas startups, demorando de 40 a 60 dias, migrando para Nova Lima. Há pessoas que perderam clientes por causa disso: um grande cliente viria para a cidade, precisava se registrar, mas desistiu diante dos entraves postos pela prefeitura. São processos aos quais precisamos dar mais eficiência. E tem a questão do turismo, com a Lagoa da Pampulha, mas também temos que estimular o turismo de negócios, trazendo grandes eventos para a cidade.

É impossível não falarmos em transporte público. O que o senhor propõe para a área?
Um compromisso que tenho com a cidade é fazer uma auditoria da relação da prefeitura com os empresários de transporte. Não sou opositor dos empresários, que têm direito de empreender e viver do lucro. Mas a cidade precisa entender essa relação. Além disso, a capilaridade de linhas de ônibus é muito aquém do necessário. É preciso aumentar o número de linhas próximas às pessoas. Precisamos estimular o transporte público na perspectiva do seu usuário e não de quem usa carro, que é o que aconteceu nos últimos anos. Vamos fazer mais corredores segregados de ônibus nas vias arteriais e construir o Move da Amazonas, já projetados. É preciso, ainda, aumentar o número de ônibus do Move em circulação, hoje superlotados.

“Um compromisso que tenho é fazer auditoria da relação da prefeitura com os empresários de transporte. Não sou opositor dos empresários, mas a cidade precisa entender essa relação”


E o metrô?
O primeiro passo é o prefeito ter a disposição de liderar o processo. A gente sabe que o recurso é proveniente do governo federal. É preciso sentarmos à mesa e dar o primeiro passo, que é a estadualização da CBTU, como já foi feito em São Paulo e no Rio. Senão, fica aquele jogo de empurra. É preciso resolver esses entraves. Não é uma tarefa fácil, mas o prefeito tem que se empenhar muito nisso.

É possível melhorar a gestão da cidade?
Tenho um projeto que vai ser inovador e vai trazer uma economia muito grande para a cidade, que é a criação de um centro de compras. O objetivo desse centro é acabar com a farra das licitações. Com a criação de um centro de contas, Goiás economizou cerca de R$ 1 bilhão no primeiro ano. Como funciona? Se por exemplo, a Secretaria de Educação precisar comprar 50 mil canetas, hoje, é a própria secretaria que faz a licitação e todo o processo de edital. Na minha proposta, a secretaria precisaria informar ao centro de compras, que seria responsável por fazer um apanhado de compras em todo o mercado até encontrar os menores preços. Muitas vezes, uma caneta que custa R$ 0,10 está sendo comprada por R$ 0,30. Belo Horizonte economizaria por volta de R$ 350 milhões por ano, fazendo uma relação proporcional com o orçamento de Goiás. Esse valor poderia ser investido na educação, na construção de Umeis, nos centros de saúde ou em convênios com hospitais.

O senhor é deputado federal. Como votará em relação às propostas de restrição dos gastos públicos em saúde e educação que estão em discussão em Brasília?
Eu sou contra. Saúde e educação são duas áreas estruturadoras para qualquer gestão e qualquer governo.

Quais a suas propostas para saúde?
A gente quer melhorar os exames utilizando as redes de hospitais privados já existente na cidade. Isso custa, mas saúde é prioridade. Hoje as pessoas estão aguardando oito meses ou um ano por uma especialidade médica. Já ouvi casos de dois anos. Isso é um absurdo. Queremos resolver através de convênios com a associação médica e a rede filantrópica, para garantir um atendimento médico especializado mais ágil para a população da cidade. 

E o que você propõe para a educação?
Precisamos universalizar o acesso de crianças de zero a três anos às creches. Muitas das mães que precisam trabalhar e possuem crianças nessa faixa etária ainda não têm onde deixá-las. 

Um ponto que tem aparecido bastante é a questão da segurança pública. De fato o prefeito tem a obrigação de investir em segurança pública? O prefeito tem total responsabilidade. E digo mais, o prefeito tem que liderar o processo da redução da criminalidade aqui na capital. Isso para mim é obrigação dele. Há responsabilidade de segurança do governo estadual, obviamente. Mas a prefeitura precisa, nessa inversão de prioridades, implantar ações como o BH Vidas, que tenho proposto. É um programa que tem dado muito certo em Bogotá e Medellín, na Colômbia, e agora também em Recife. Reduziu drasticamente os índices de violência, dando oportunidade para os adolescentes e jovens, principalmente, com atividades educativas, esportivas, musicais e culturais. As crianças aprenderam até robótica, há mediação de conflitos e redução de brigas entre vizinhos.

 Lucas Prates 

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