Num mundo de moda sexy, uma estilista cobre suas modelos até o pescoço

AFP
05/09/2012 às 16:04.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:02
 (Site Oficial/Reprodução)

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NOVA YORK - Os estilistas amam testar os limites na busca por um estilo sexy e provocante, mas Nzinga Knight, um americana muçulmana, resolveu adotar um look mais ousado: cobrir quase que completamente suas modelos.

Na Semana de Moda de Nova York, que começa nesta quinta-feira (6), mulheres altíssimas com looks justos desfilarão pelas passarelas do Lincoln Center mostrando roupas que deixam pouco para a imaginação.

Mas quando chegar a vez do desfile de Knight, os espectadores terão que esquecer dos flashes em decotes e aberturas nas saias. Para chamar atenção, a estilista aposta em mangas compridas e punhos longos, bem diferente do que normalmente é visto nessas passarelas.

"Definitivamente as pessoas vêem meu trabalho e afirmam que é realmente diferente e a moda consiste em ser diferente", disse em entrevista em seu estúdio no Pratt Institute, no Brooklyn, onde bordava um romântico mas discreto vestido preto e creme.

Knight, de 31 anos e devota muçulmana, reza cinco vezes por dia. Mas esta estilista emergente é mais uma seguidora da moda que uma religiosa fervorosa.

"A aparência do meu trabalho é sensual, misteriosa, inovadora", disse, descrevendo seu objetivo como o de vestir "uma mulher que está feliz em ser mulher".

A diferença da marca é a forma como é criada essa sensualidade. Quando lançou sua linha em 2008, encontrou estilistas obsessivos com a roupa que "mostra frente e costas". "Sentia que muitas mulheres estavam comprando coisas porque era isso que as revistas diziam para que comprar", afirma. "Parecia que todos os estilistas tinham o mesmo ponto de vista".

Foi quando Knight decidiu combinar os rígidos códigos morais do islamismo com o senso de estilo de sua nativa Nova York, e encontrou rapidamente o que qualquer jovem estilista com iniciativa busca: um nicho de mercado.

"Minha estética é algo que realmente falta no mercado", diz. "É muito diferente e isto pode me dar uma vantagem".

Sua nova coleção apresentará dez vestidos de noite e várias blusas. Utilizando diferentes tipos de cor, incluindo o preto e com predomínio do rosa e do ouro fosco, acrescenta a seus looks pérolas bordadas à mão na Índia.

É uma roupa discreta, mas não pensada para pessoas tímidas. "Quem quiser usá-las, tem definitivamente aonde ir", afirmou.

Nova-iorquina muçulmana caribenha com uma nova visão

A visão original de Knight a transforma em alguém quase único no mundo da moda, onde até mesmo os estilistas homens e negros são raros, e os negros e muçulmanos ainda mais. "Basicamente não existe", afirma a estilista.

Com sua origem exótica, Knight se sente cômoda navegando em seu próprio caminho.

Seu pai imigrou de Trinidad, sua mãe da Guiana e ambos se transformaram em muçulmanos ao chegar em Nova York, onde criaram as seis filhas.

"É fato que estou em Nova York, sou uma nova-iorquina nativa, e Nova York é predominantemente sobre estilo, o que é novo, o que está na moda, é fato que venho de uma cultura caribenha muito efervescente, e que sou muçulmana..." diz Knight, parando para tomar fôlego. "Encarno muitas coisas", afirma.

Em alguns países muçulmanos é obrigatório para as mulheres o uso de túnicas até os pés, chamadas de abayas, enquanto estão nas ruas, algo que horroriza os ocidentais.

Mas Knight afirma que sua experiência encontra ecos. Em uma viagem no ano passado para Dubai, onde vive uma de suas irmãs, ela lembra de ter descoberto que o aparente uniforme de tela preto tem uma grande variedade de sutilezas individuais. "Não havia duas mulheres iguais", disse.

Também observou que em casa as mulheres deixam essa roupa de lado para mostrar as últimas tendências que levam por baixo da túnica.

"São brilhantes e têm cores surpreendentes. Somente amigos especiais chegar a ver, não obstante", afirma Knight. "Acho que é sexy para uma mulher guardar segredos, bons segredos".

Na sociedade ocidental, argumenta, as mulheres não estão tão liberadas como se acredita.

Knight dá o exemplo os cantores de música pop, argumentando que os homens os julga por seu talento para cantar, enquanto as artistas femininas tem que dar um passo além para ter sucesso.

"Acho que nesta sociedade não se permite às mulheres serem julgadas por seus méritos", afirma. "Para a maioria das mulheres que realmente conseguem, se sabe que têm que tirar a roupa. É um jogo que elas têm que se jogar."

Em seu próprio trabalho, Knight está tentando mudar as regras desse jogo.

"Estou contando uma história que a maioria não está contando", conclui a estilista.

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