Documentário de Haskell Wexler expõe feridas da ditadura no Brasil

Lady Campos - Do Hoje em Dia
05/08/2012 às 12:44.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:11
 (Canal Brasil/Divulgação)

(Canal Brasil/Divulgação)

Um capítulo obscuro da história, a violência no período de ditadura militar, será relembrando durante a madrugada de segunda (6) para terça-feira (7) no Canal Brasil, que vai exibir o documentário, inédito no país, "Brasil – um relato de tortura". O filme, dirigido por Haskell Wexler (diretor de fotografia de clássicos como "Um estranho no Ninho" e "Quem tem medo de Virgínia Woolf?") e Saul Landau, retrata depoimentos do chamado Grupo dos 70, presos políticos soltos em troca da libertação do diplomata suíço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado por guerrilheiros de extrema esquerda.

O documentário foi gravado no Chile, em 1971. Na ocasião, Wexler e Landau, cineastas americanos, estavam no país com a missão de filmar com o então presidente Salvador Allende, quando souberam da presença de brasileiros exilados no país. Os registros trazem depoimentos contundentes de pessoas que foram torturadas durante o regime militar.

Ativistas, como Maria Auxiliadora Lara Barcelos, 25 anos, integrante da organização de extrema-esquerda VAR-Palmares, que participou da luta armada contra a ditadura na década de 60, revelou à equipe detalhes do horror vivenciando nos porões do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

"Levei 20 bofetadas que deixaram meu rosto deformado. Eles (os policiais) diziam em tom de escárnio que queriam ver minha cara diferente", revelou Maria Auxiliadora, acrescentando que algumas sessões de tortura eram feitas "ao som de música de macumba", deixando os torturadores mais animados que o normal.

Cicatrizes de queimaduras de cigarro, marcas de tiros, de espancamentos, de choque elétrico e outros atos abomináveis foram mostrados pelas vítimas, que também simularam como eram realizados os atos de horror. "Brasil – um relato de tortura" apresenta ainda outra faceta cruel do período: a ação truculenta do Estado se estendia aos estudantes, intelectuais, religiosos e outros membros da sociedade civil.

O estudante de teologia, Tito de Alencar Lima, na época com 25 anos, foi preso durante uma batida na Ordem dos Padres Dominicanos de São Paulo. O fato aconteceu no dia 4 de novembro de 1969. O frade foi torturado durante três dias consecutivos no Dops, a ponto de cortar os pulsos na tentativa de colocar fim à tamanha violência.
" O Brasil campeão da Copa do Mundo de 1970 é também campeão de torturas", desabafou no longa. Tanto Maria Auxiliadora quanto Tito suicidaram-se anos depois.

O filme traz ainda relatos de Jean Marc van der Weid, ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e Nancy Mangabeira Unger, irmã do ex-ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. A tomada do poder pelas Forças Armadas foi justificada como forma de combater a ameaça comunista.

No entanto, os fatos mostram que houve cerceamento dos direitos humanos da população, num período sombrio e violento.
Antes da exibição do documentário, o Canal Brasil vai abrir a sessão com uma entrevista exclusiva feita pelo jornalista e crítico de cinema Carlos Alberto Mattos com o produtor e cineasta Jom Tob Azulay, que vai falar também sobre o documentário.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por