(Arquivo Hoje em Dia)
O cinema dos anos 1980 foi a resposta dos homens à liberdade sexual das mulheres, conquistada nas duas décadas anteriores.
Elas passaram a ser pintadas na tela como insaciáveis e mentalmente doentes. A procura pelo sexo se transformou numa psicopatia, com a ala masculina no papel de vítima indefesa de uma obsessão.
No rol dessa produção estão "Atração Fatal" (1987), "Corpos Ardentes" (1981), "Crimes de Paixão" (1984) e "A Garota de Trieste" (1982), filme de Pasquale Festa Campanile que acaba de ser lançado em DVD.
Ben Gazzara, o Jece Valadão do cinema italiano, sempre interpretando personagens másculos e cercado de mulheres, agora vira joguete nas mãos de uma garota vivida por Ornella Muti. Os dois já haviam atuado juntos em "Crônica do Amor Louco" um ano antes.
Ele é Dino, um desenhista americano que acha que já viu de tudo na vida, morando numa tranquila vila de Trieste. Nicole mostrará que não, colocando a rotina dele de cabeça para baixo.
Campanile, que foi roteirista de Luchino Visconti e faleceu cinco anos depois, aos 60 anos, baseou-se em seu romance homônimo e carrega um pouco nas tintas na concepção desse drama romântico, beirando o folhetinesco.
A música de Riz Ortolani é bonita, mas acaba se tornando irritante ao ser tocada sempre quando surge a mínima tensão no filme.
A primeira metade envolve o espectador pelo jogo criado por Nicole – que finge estar se afogando para que as pessoas se preocupem com ela – e a entrega de Dino à sua paixão. Na segunda parte, porém, a narrativa patina ao insistir nas neuroses da personagem.
Campanile parece testar a paciência de Dino e também do espectador com as atitudes da garota, terminando por pintar um retrato cruel dela, bem a propósito das mulheres fatais que pipocaram no cinema há 30 anos.