"A Volta ao Mundo em 80 Vozes" em cartaz no Palladium

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
09/10/2012 às 11:11.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:56
 (Sébastien Soriano/Divulgação)

(Sébastien Soriano/Divulgação)

O cantor, sonoplasta e contador de histórias Khalid K exibe "A Volta ao Mundo em 80 Vozes", nesta terça-feira (9), no Sesc Palladium. Mix de recursos sonoros, ao vivo e pré-gravados, o show já foi exibido mais de 400 vezes, em vários países. O marroquino, que vive na França desde menino, nos respondeu por e-mail.

"Pouco a pouco teria percebido haver alcançado uma linguagem pessoal: "Elaborei uma linguagem de sobrevivência, direta, que permitia a todas as energias do meu corpo se conectarem, sem passar pela palavra, um atalho para tocar várias energias".

Sua arte o tornaria um artista único, original: "Sinceramente, não conheço outro que faça o mesmo que eu, que utilize técnicas de gravação em cena. O público e os programadores (de festivais) me confirmam isso". Tivesse que citar alguém assemelhado ele citaria (o cantor norte-americano) Bobby McFerrin. "Ele dá cores à voz".

Torre de Babel

"A Volta ao Mundo em 80 Vozes" seria uma espécie de torre de Babel sintetizada. Pergunto se ele acha que o mundo de hoje, tão generoso em canais de expressão, carece de mais vozes ou de um pouco mais de silêncio. "Música e barulho estariam uniformizando as cidades em que vivemos. Pretendo resgatar as cores que estão desaparecendo. A gente era mais musical, usava mais a voz, como oralidade e como música. Muita gente me diz que toco em algo que está desaparecendo, que faço re-conexões com essas energias simples. Tudo passa pelos mesmos canais, pela mesma maneira de cantar. Minha voz necessita de um trabalho corporal. As atitudes do corpo, do espírito emprestam cores à voz. Na França já não temos muito acesso a rituais, às músicas de cada época. Por isso, as pessoas se comovem tanto com meu espetáculo".

Ele fala, ainda, sobre o papel das tecnologias no seu show. "São fundamentais e ao mesmo tempo ficam em segundo plano: no início, enfatizo a presença da tecnologia, mas rapidamente ela se torna um simples acessório, está a serviço da história que conto. Os personagens é que estão em primeiro lugar".

Emoção imediata

Pergunto o que ele conheceu ou percebeu de mais estimulante, de mais interessante ao circular pelos festivais de artes cênicas de diversos países. "Minha participação em festivais ocorre sobretudo na França. Eles permitem encontros com artistas, de outras expressões, ter o retorno de artistas especializados no seu campo. Reconfortam, tranquilizam, me incentivam a seguir. Noutros países, muitas vezes sou a atração principal e também é estimulante, excitante, porque minha expressão um tanto especial favorece os encontros com pessoas do lugar. Gerar retornos incríveis por parte do público, por exemplo na América Central, onde as pessoas se comovem mais facilmente".

O fato de sua obra não se amparar num idioma lhe permitiria ir mais longe, travar contatos com mais gente de mais países? Ou a força de um trabalho pode superar os obstáculos de uma língua estrangeira? "Parto de uma língua universal", responde.

"Articulo, imito línguas do mundo inteiro, e elas passam pela minha expiração, pela minha inspiração, a partir das quais se operam transformações. Proponho uma espécie de língua universal e um corpo, a risada, as emoções, os medos, que todos temos em comum. Vivemos no mesmo planeta, respiramos o mesmo ar, no mesmo mundo globalizado, estamos nos nutrindo das mesmas informações".

Workshops

Além de trabalhar no teatro e no cinema – ele recém-atuou num documentário com o famoso dançarino Sidi Larbi Cherkaoui e criou a música para de filmes mudos, exibidos em festivais do gênero, cada vez mais comuns na França –, Khalid ministra treinamentos e realiza oficinas. Trabalhos autorais.

"Não realizei a música de blockbusters, não por enquanto", brinca. "Nas minhas numerosas turnês, pude organizar workshops, encontros com crianças e adultos. Em geral, proponho workshops de uma hora, após as apresentações, ou oficinas de até quatro dias, onde mostro detalhes das minhas técnicas vocais". A originalidade do espetáculo geraria muito interesse pelos workshops e oficinas.


Serviço

Nesta terça-feira (9), às 20 horas, no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1046, Centro). Entrada: uma lata de leite em pó.

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