Disco "Estrela Decadente" revela um novo Thiago Pethit

Cinthya Oliveira - Do Hoje em Dia
10/09/2012 às 10:33.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:08
 (Gianfranco Briceño/Divulgação)

(Gianfranco Briceño/Divulgação)

Thiago Pethit cansou da imagem de "bom moço" passada pelo disco de estreia, "Berlim Texas" (2010), e o sucesso "Mapa-Mundi". Assumiu o lado agressivo, transgressor e questionador, como logo se vê na capa do segundo trabalho do artista, "Estrela Decadente", lançado recentemente de forma independente.

Se o primeiro disco era leve, calcado no violão e na bela voz do rapaz, dessa vez Pethit investiu em um disco com referências sonoras e intelectuais que perpassam a ideia de questionamento. Uma diversidade que ganha força com a produção do prestigiado Kassin.

"No primeiro disco, queria que as pessoas ouvissem minhas histórias, por isso a superva-lorização da voz e das letras. Agora, quero que se sintam dentro delas. Mas as pessoas não precisam entender a história por inteiro, pois é um trabalho mais sensitivo", avalia Thiago Pethit.

"Estrela Decadente" conta com nove faixas, sendo oito autorais e uma versão de "Surabaya Johhny", de Bertolt Brecht e Kurt Weill. As convidadas para participações especiais foram Mallu Magalhães (na bilíngue "Perto do Fim") e Cida Moreira (em "Surabaya Johnny", que ela interpreta desde a década de 1980).

Crise

Como boa parte das destacadas criações artísticas, "Estrela Decadente" nasceu a partir de uma crise. Em novembro do ano passado, em meio a uma passagem por Lisboa, Pethit se viu mergulhado em um momento de intenso estresse e depressão, por conta das cobranças do mercado – ele cuida também de toda sua produção. Quis jogar tudo para o alto.

"Me senti desajustado, esquisito e mal compreendido. Decidi que não queria mais uma carreira, que não faria mais discos", relata Pethit. "Mas com o passar do tempo, percebi que ganho força ao fazer as coisas do meu jeito. Meu lema agora é: se está tudo errado, é porque está tudo indo bem".

Tudo esclarecido, Pethit resolveu voltar ao Brasil e explorar sua agressividade em um disco. Tanto que, para surpresa de quem acompanha a carreira dele, agora o rapaz se alimenta do rock. "Sempre gostei de rock, mas essa verve ainda não estava presente em mim".

De cabarés a Marianne Faithfull

No novo trabalho de Thiago Pethit é possível perceber duas influências musicais: os sons dos cabarés dos anos 1920 e 1930 – caso de "Pas de Deux", transformado em belo videoclipe – e os mais variados ritmos das décadas de 1960 e 1970.

"Tinha vontade de ter três camadas sonoras no álbum: o cabaré, misturado a elementos dos anos 1960, e que soasse contemporâneo, para que as pessoas pensassem: isso é moderno".

Misturar passado e presente, orgânico e eletrônico, não é tarefa fácil e, por isso, Pethit procurou Kassin. O músico e produtor foi responsável por elogiados álbuns de Adriana Calcanhoto, Vanessa da Mata, Marcelo Jeneci, Los Hermanos, Jorge Mautner e muitos outros.

"Gravamos tudo na casa dele, no Rio. Sinto que foi uma produção íntima, com arranjos bem elaborados, que refletem bem a relação entre artista e produtor", revela o músico.

Faithfull brasileira

A escolha de Mallu também passou por uma questão conceitual. Ao conceber o álbum, Pethit pensou muito na figura de Marianne Faithfull (cantora britânica, sucesso nos 1960) e viu na namorada de Marcelo Camelo a encarnação da musa dos Rolling Stones.

"Estava ouvindo muito as músicas dela na época (na produção do disco). A Marianne tem duas fases: a da menina ingênua, que estudou em colégio católico, e outra louca, de namorada de um rolling stone", explica o artista.

"Guardadas as devidas proporções, Mallu passou por um processo parecido. Surgiu ingênua e hoje reflete profundidade".

A história que envolve Cida Moreira é mais emocional. Os dois já haviam se apresentado juntos no Palácio das Artes, ano passado. Uma das principais referências para Pethit em "Estrela Decadente" foi o álbum "Cida Moreyra interpreta Bertolt Brecht", de 1988. "A Cida entrou nesse disco para representar a loucura dos cabarés", explica.

Pethit faz questão de frisar que essas escolhas não são apenas estéticas, mas também pessoais e conceituais. A principal intenção é fugir do rótulo de "fofo", que tem sido atribuído a vários artistas de destaque nos últimos cinco anos.

"Não posso aparecer defendendo um casamento na igreja (clara referência a Marcelo Jeneci, um dos principais nomes da tão comentada MPB paulistana). Não sou assim. Prefiro falar de uma pessoa que perdeu a inocência".

O lado bom de toda repercussão que o novo disco vem conquistando na mídia é como fica mais claro a Pethit que não é preciso ter música em novela para ter reconhecimento. "Quando estive no Palácio das Artes, vi mais de mil pessoas cantando a minha música comigo. Foi surpreendente", conta, referindo-se ao show deste ano dentro do Conexão Vivo.
 


 

Baixe o álbum em Thiagopethit.com. Pethit terá show no Granfinos no dia 27 de outubro.

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