Bate-bola nos palanques: ex-jogadores que migraram do futebol para a política

Wallace Graciano - Do Portal HD
09/09/2012 às 08:06.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:07
 (J.F.Diorio)

(J.F.Diorio)

O ditado popular afirma que futebol e política não se discutem. Enraizados na identidade nacional e tratados como “ópios do povo”, os temas movem paixões nos palanques e dentro das quatro linhas. Com o tempo, essas áreas se aproximaram e deixaram de ser tabus. Hoje há uma convergência entre os dois; seja feita por um político buscando apropriar-se do discurso esportivo para aumentar sua empatia com o eleitor, seja partindo daquele ex-jogador de futebol, que busca seu voto para levar sua ideologia a outra esfera, fato comum em eleições.

É o caso de Wilson Piazza. Lendário capitão do Cruzeiro nas conquistas da Taça Brasil, em 1966, e da Libertadores, em 1976, o ex-volante estrelado entrou para o meio político em meio a uma carreira vitoriosa, em 1972, época de repressão militar e sem remuneração para os parlamentares. “Cheguei à política por um acaso, uma vez que quando fui convidado, o primeiro candidato seria o Raul (ex-goleiro do Cruzeiro). Como ele não tinha título de eleitor em Belo Horizonte, o Luiz Otávio Valadares (ele mesmo, o Ziza, ex-presidente do Atlético) tentou me convencer de todas as formas a ingressar no meio, pois precisava de um esportista para compor a chapa do MDB”, recorda. 

O eterno camisa 5 celeste não queria ser parlamentar. Em 1972, ainda vivia o rescaldo do prestígio conquistado com o tricampeonato Mundial, dois anos antes, no México. Ao mesmo tempo, levava da infância sua opinião contrária aos políticos. Com o tempo, cedeu ao apelo de Ziza e mudou sua opinião ao ingressar na Câmara Municipal. “Tinha aversão à política. Naquela época, você não ganhava nada, exercia o mandato por idealismo, ainda assim, havia candidatos que não cumpriam suas promessas. Sempre tive minha concepção de que ninguém é obrigado a prometer nada. Se prometeu, cumpre. Quando entrei na câmara, não sabia o que realmente poderia fazer para minha cidade. E era difícil conciliar. Saía do aeroporto, ia correndo para a câmara. Mas, com o tempo, ganhei aval de meus companheiros e consegui batalhar pelo coletivo. Ali também aprendi que amo política, mas odeio politicagem. Cresci muito como pessoa”, avalia.

Piazza foi vereador por quatro legislaturas em Belo Horizonte, entre 1972 e 1988. Sua influência política impulsionou o convite para torna-se Secretário Municipal de Esportes, entre 1983 e 1988. Além disso, foi presidente da Administração dos Estádios de Minas Gerais (ADEMG), de 1995 e 1997. Seu maior legado, entretanto, foi a fundação da Associação de Garantia ao Atleta Profissional de Minas Gerais (AGAP/MG), instituição que busca dar assistência aos ex-esportistas do Estado. “Quando era parlamentar, tinha uma maneira de pensar no coletivo, não no executivo. Ali enfrentei muitas situações adversas, até com meu partido. Isso me fez ganhar prestígio e voz para atuar no direito dos atletas. O tempo na bola é curto. Sou do tempo que minha mãe falava para largar a bola e ir estudar. Hoje é o contrário. Por isso, consegui bagagem e coragem para fundar uma associação que conseguiu defender e dar condições ao atleta após a bola parar de rolar”, afirma o capitão, que levou o respeito que tinha nos campos aos palanques.

Um “Rei” no legislativo

A força das arquibancadas também se mostrou decisiva na vida de Reinaldo Lima, o “Rei da massa alvinegra”. O então técnico de futebol - e eterno camisa 9 do Atlético - foi eleito deputado estadual em 1990, com 15 mil votos. Também foi vereador em 2004, com 6,5 mil votos. Sobre os mandatos, o maior artilheiro da história do Galo tem orgulho pelos serviços prestados à população e agradece pela oportunidade por ter levado sua ideologia aos palanques.

“Desde a época em que atuava como jogador do Atlético, tinha minhas ideologias em prol da comunidade. Consegui levar boas propostas ao legislativo para o bem estar da população. Entre elas posso destacar a lei que determina a adoção de grama sintética nas comunidades. O projeto dá um impacto visual na região, eleva a autoestima da comunidade e elimina a manutenção do campo, o que pode trazer benefício a todos. A experiência no legislativo foi importante para eu ter a certeza que tentei trazer progresso e desenvolvimento”, avalia.

O Rei vai além. Ciente das dificuldades e compromissos que cada parlamentar deve ter, ele afirma que é preciso haver mais incentivo para o esporte, atividade apontada como essencial para ele para a construção do caráter da criança e adolescente, além do ensino. “O legislativo precisa incentivar a prática de esportes nas comunidades. É preciso a melhoria da estrutura básica e criação de opções orçamentárias para sobreviver o esporte armador, para, assim, conseguirmos afastar as crianças dos maus caminhos”, pondera.   Lembra deles?   Alguns dos candidatos que mudaram de time (ou ao menos tentaram)   Ademir da Guia – Ex-craque do Palmeiras tenta vaga de vereador em São Paulo Andrade – Campeão Brasileiro como técnico e jogador do Flamengo, Andrade quer ser eleito no pleito carioca Bebeto – Deputado estadual pelo Rio de Janeiro Beijoca – Ex-jogador tenta vaga no legislativo de Salvador Dadá Maravilha – Tentou a legislatura, mas fracassou nas urnas. Danrlei – Deputado federal eleito pelo Rio Grande do Sul, em 2010, com 173 mil votos Dinho – Ex-volante do Grêmio e do América tenta vaga no legislativo de Porto Alegre Marcelinho Carioca e Dinei – Ex-jogadores do Corinthians tentam vaga no legislativo de São Paulo Marques – Deputado estadual mais votado em Minas Gerais, em 2010, com 153 mil votos Roberto Dinamite – O atual presidente do Vasco está no seu segundo mandato como deputado estadual   Robgol - Ex-atacante do América, ganhou fama no Pará, vestindo as cores do Paysandu. Subiu ao palanque como deputado estadual, em 2006. Romário – Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, em 2010, com 146 mil votos Túlio Maravilha – Eleito vereador em Goiânia, em 2008, com 10 mil votos. Washington – O “coração de leão” quer levar sua força para o legislativo de Caxias do Sul Zezé Perrela – O ex-presidente do Cruzeiro foi eleito deputado estadual e federal por Minas Gerais enquanto dirigia o clube estrelado. Assumiu a vaga de senador pelo Estado, em 2011, após a morte de Itamar Franco

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