Eleitor constrói e desenvolve opinião política na democracia

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
23/07/2012 às 07:29.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:45
 (Elza Fiúza/ABr)

(Elza Fiúza/ABr)

Na década de 1970, o jogador de futebol Pelé disse, a serviço da ditadura, que “o brasileiro não sabe votar”. Quase 35 anos depois, com a democratização do país, cientistas políticos negam a atualidade desta frase, alegando que apesar de o eleitorado cometer alguns despropósitos, a experiência brasileira tem mostrado a melhoria da qualidade do voto.

Para o doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Paulo Roberto Figueira, “o país atual é herdado da ditadura e hoje é melhor em quase todos os aspectos, tudo por causa da democracia”. “Dez anos atrás, a Lei da Ficha Limpa poderia ter sido objeto de riso. A longo prazo, o país caminha para um processo em que o eleitorado não é um bando de idiotas que cai no conto do vigário”, acrescenta o professor.

A ideia é compartilhada pela doutora em Ciências Políticas Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos. “De lá para cá, melhorou e muito. Tivemos aumento da escolaridade do brasileiro, abertura de voto para analfabetos, jovens de 16 anos podendo votar, transparência parlamentar e estabilidade partidária. O eleitorado é heterogêneo, mas está, aos poucos, construindo sua opinião política”, diz a professora.

Para Figueira, ainda há clientelismo no país e a participação do eleitor ainda está “longe do ideal”, mas é preciso criar mecanismos para lutar contra essa ‘batalha cultural’. Quem opta por trocar o voto por algum objeto não deixa de fazer uma escolha legítima”, pondera o especialista. Além disso, ele acredita na dimensão pedagógica do voto, baseado em erro e acerto, até criar afinidade com ideias ou políticas públicas específicas de grupos políticos.

Maria do Socorro destaca que esse tipo de troca ocorre em regiões pobres do país, em que o ambiente influencia diretamente na relação entre o agente público e o eleitor. Por outro lado, votos em candidatos celebridade ou em artistas, refletem, para a cientista política, um voto de protesto.

“Indica a desmotivação do eleitor em relação às práticas ilícitas dos candidatos e ganha principalmente eleitores jovens ou que têm maior nível de informação crítica”, esclarece.

Na opinião do ex-senador Paulo Brossard, a declaração de Pelé contém uma “generalização perigosa”. “O Brasil é muito grande, tem variedade de grupos sociais e a situação se difere em cada região. Não é possível falar que o brasileiro não sabe votar, ou o contrário, que sabe votar cada vez melhor”, observa.

No entanto, ele considera que a massa eleitoral no país é “razoável”: apesar de numerosa, nem sempre há uma consistência na participação do eleitor. “Muitos acham que não adianta votar, que todos os candidatos são iguais. Além disso, no Brasil há mais de trinta partidos, mas na verdade eles estão extintos no que se refere à coerência na política”, conta Brossard.

Já em relação aos casos de desinteresse ou abstenção do voto, Maria do Socorro afirma que isso acontece nos casos em que o eleitor tem “fraca percepção de que a escolha dele muda a própria vida, especialmente nas eleições municipais”.

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