Especialistas políticos analisam campanhas "bizarras" pelo país

Cristina Barroca - Do Portal HD
01/09/2012 às 08:25.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:56

Ainda na época em que o sistema de votação era por meio de cédulas de papel, muitas figuras pitorescas apareciam como opção de voto para os eleitores. Dois casos marcaram a história das eleições neste período. Em 1959, quando um rinoceronte de nome Cacareco recebeu quase 100 mil votos para vereador da cidade de São Paulo, e em 1988, quando um macaco conhecido por Tião, recebeu mais de 400 mil votos para a prefeitura do Rio de Janeiro.
 
Essas duas figuras do zoológico  de suas respectivas cidades são os maiores exemplos do que ficou conhecido como "voto de protesto", que na verdade, era computado como nulo.

Hoje, esse tipo de voto não existe mais. Os candidatos são previamente registrados na urna eletrônica e a aparição espontânea de personagens que queiram roubar a cena política não são possíveis de surgirem em meio ao sufrágio.
 
Agora, esses personagens aparecem previamente e com direito a campanhas bizarras. Por isso, o Portal HD coletou materiais sobre alguns concorrentes ao poder público nas eleições de 2012 que possuem uma linha peculiar em sua campanha, e propôs a alguns especialistas da área de política que comentassem.

Análises de campanhas "bizarras"
 
Professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Helcimara de Souza Telles, diz ter notado o uso indiscriminado do humor nesse tipo de publicidade, o que acaba por deslegitimar a política. "Como os partidos são vistos com desconfiança, o lugar do debate é ocupado por sátiras e o conteúdo da política é esvaziado. Por isso, observa-se a expansão de folhetos satíricos e anedóticos, que alcançam o público que desconfia das instituições representativas".
 
Para Hermínio Naddeo, autor do manual "Livro de cabeceira do candidato", essa situação reflete não só a intenção dos concorrentes ao cargo público, mas também o nível cultural de uma sociedade. "Do ponto de vista do Marketing Político são aberrações apelativas. Mas que infelizmente podem funcionar, já que o mau gosto não está apenas nos candidatos. O povo aceita. As letras de músicas que fazem sucesso com a juventude não são muito diferentes, às vezes até piores", afirma o escritor.
 
Segundo o cientista político da Universidade Federal de Juiz Fora (UFJF), os candidatos necessitam se diferenciar para serem lembrados. "Há uma demanda excessiva em ser lembrado apelando para o ridículo. Isso é um tipo de estratégia. Além de ser uma questão cultural, a regra do jogo acaba incentivando esse tipo de situação".
 
A professora Helcimara de Souza Telles compartilha da mesma opinião de Leal quando afirma que o número de candidatos proporcionais é muito grande e o tempo disponível para o eleitor se informar sobre cada um deles não é suficiente e, por isso, ocorre a apelação. E continua, "os candidatos a vereador utilizam-se de todos os recursos para chamar a atenção e fixar seu nome na memória do eleitor. Para isso, o panfleto anedótico exagerado é apenas mais uma peça na engrenagem que transforma a política em 'espetáculo'".

O palhaço Tiririca
 
Um caso emblemático é o de Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca (PR), eleito deputado federal por São Paulo, com uma campanha insistente em fazer a política com humor e muitas vezes chamada de "ridícula".
 
O cientista político da UFJF, Paulo Roberto Figueira Leal, afirma que a escolha do palhaço tem relação com o sistema eleitoral existente, e que candidatos como ele são potenciais puxadores de votos. "O Tiririca não bateu na porta de partidos. Partidos foram até ele. Atrair votos tem mais importância que as ideias partidárias" conta Leal.  
 
No entanto, Paulo Roberto não desqualifica estes candidatos apresentados e sustenta que "esse tipo de voto representa alguma coisa. Quem votou no Tiririca como voto de protesto deve saber que ele hoje faz um mandato bem melhor que muitos outros que não fizeram nenhuma piada durante a campanha. Não desqualifico o candidato por ele utilizar dessa estratégia".


Cidinei Soares da Silva, a Tia Nei (DEM), de Guararapes, São Paulo fez a camapnha "Na urna é Batata", paródia da música Hakuna Matata, do filme "O Rei Leão".
 

William Martins, o William da Van Escolar (PSDC), de Sorocaba, São Paulo, parodiou a música de sucesso na internet, "Para Nossa Alegria".



Wenceslau Braz Silveira Nogueira Junior, o Bilaw da Cultura (PP), de Jequié, Bahia, usa como frase de efeito "Deixa o Bilaw entrar!"



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