Eles trocaram a rotina da cidade pela vida promissora do agronegócio

Maria Helena Dias - Especial para Força do Campo
16/09/2015 às 08:23.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:45
 (Fernando Viana/ Divulgação)

(Fernando Viana/ Divulgação)

Os números do agronegócio brasileiro têm mudado a opinião de muitos jovens, profissionais que cursaram a faculdade e também de famílias inteiras. Percebendo o setor como rentável e apostando num futuro promissor, eles têm deixado o caos da cidade grande e encontrado tranquilidade e muito trabalho no campo, uma situação inversa vivida até há pouco tempo, quando as capitais do país eram destino certo para o homem rural.

Segundo dados do IBGE, a agricultura familiar representa hoje 70% da produção de alimentos no país, havendo oito milhões de jovens, entre 15 e 29 anos, vivendo no campo. Uma pesquisa da Emater, de 2013, destaca que 54% dos homens e 74% das mulheres não pretendem continuar na zona rural, estatística que certamente já apresentou mudanças.

Mesmo diante da instabilidade econômica, a produção de alimentos e insumos agrícolas lidera o mercado e mantem o Brasil como um dos maiores fornecedores mundiais. Fato é que a participação do agronegócio na balança comercial do Brasil está crescendo.

De janeiro a julho deste ano, o setor representou 46,4% da balança comercial. Nos últimos 17 anos, foi superavitário. De 2011 a 2014, o agronegócio teve saldos positivos de US$ 80 bilhões, enquanto que, com poucas exceções, os outros setores tiveram saldos negativos.

Em 2014, foi o agronegócio que contribuiu para amenizar o saldo negativo da balança comercial do país. O Brasil participa com 1,2% do comércio global. Na área do agronegócio, esse percentual foi de quase 8% em 2013 e 7% em 2014.

Qualidade de vida

A grandiosidade dos números foi um dos motivos que levou Annie Moura Almeida Viana, formada em turismo e hotelaria e também em veterinária, a deixar a capital mineira, há cerca de um ano, juntamente com o marido Fernando Cardoso Vianna e os dois filhos, de dois e três anos, rumo a Abaeté, município do Planalto Sertanejo, na microrregião de Três Marias, a cerca de 220 quilômetros de Belo Horizonte.

“Os negócios da minha família estão em Abaeté. Foi minha opção atuar na área quando fiz veterinária. Mas o que mais pesou na minha decisão foi a insegurança dos grandes centros e a busca de qualidade de vida”, disse Annie Viana.

O pai, José Fernando Almeida, é quem administra os negócios em Abaeté, que envolvem a pecuária de leite e de corte, a silvicultura, com a plantação de eucalipto, e a fruticultura, com a Indústria e Comércio de Frutas Alto São Francisco Ltda, a Frutuai, uma empresa de polpa de frutas que tem o maracujá como carro-chefe.

Natural de Juiz de Fora, Annie Viana morou durante muitos anos em Brasília, já que o pai trabalhava no serviço público.

Nos últimos anos, antes de se mudar para Abaeté, a família residiu em Belo Horizonte, onde se estabeleceu com outros empreendimentos.

A necessidade uniu o útil ao agradável

Annie Viana é irmã de Fernando Júnior, presidente do Grupo Meet de Investimentos, o maior grupo de entretenimento de Belo Horizonte, com nove operações: Porcão BH, Espaço Meet, Meet Bar, Meet Lourdes, Red Meat, Meet Buffet, Meet Produtora, Meet Bebidas Finas e Na Mata Drinks.

“Trabalhei no Grupo Meet por quatro anos. Na família somos somente eu e o Nando de irmãos, e ele já está totalmente absorvido na gestão dos empreendimentos em BH. Então, alguém teria de assumir os nossos negócios no setor de agronegócio”.

Com o crescimento das operações do negócios em Abaeté, José Fernando Almeida passou a necessitar da ajuda de um dos filhos.

Ela conta que até chegou a exercer carreira na hotelaria, mas que percebeu a falta de aptidão. Ao decidir-se por cursar veterinária, Annie Viana já visava aos negócios da família.

Atualmente, ela vem a capital mineira uma vez por mês, e ainda aguarda a finalização das atividades do marido em BH para concluir de vez a transição.

Responsabilidade

Sobre os desafios de sair de uma cidade grande e ir para o campo, mudando muito sua rotina, ela explica: “Em Belo Horizonte eu tinha uma vida muito tumultuada, com dois filhos e atividades na área comercial. Naturalmente que a mudança para Abaeté exigiu adaptações quanto a hábitos, costumes e também uma mudança cultural. Porém, o maior desafio foi assumir a responsabilidade de fazer com que os negócios continuem prosperando, num momento em que toda atividade empresarial se encontra diante de uma economia totalmente desajustada, que exige dos empresários ações redobradas, visando sempre eficiência que possa minimizar os riscos”.

Acostumada em grandes centros, onde a vida obedece um outro ritmo, ela garante que não sente nenhuma falta da agitação. “Na realidade, a minha vocação rural supera a cosmopolita”.

Olhos no futuro

Sobre o futuro dos filhos, Annie Viana diz não ver grandes problemas: “Temos boas escolas, acesso a todo tipo de informação em função dos avanços tecnológicos, e acredito que a qualidade de vida e a forma de relacionamento da vida interiorana trazem valores que superam eventuais benefícios que o grande centro poderia apresentar como diferencial”.

Orgânicos garantem o sustento de família em Entre Rios

Quem trocou a vida da cidade grande pelo campo garante que voltar para o agito dos grandes centros é uma opção já descartada. Esse é o caso do médico-veterinário Euler Andrés Ribeiro, que nascido e criado em Belo Horizonte, decidiu em 1970 que iria assumir a fazenda dos pais, em Entre Rios de Minas, na região das Vertentes.

Euler Ribeiro, que não pensa em voltar para BH, quer diversificar ainda mais a produção. Foto: Erasmo Reis/ Divulgação

Em busca de uma vida diferente da que tinha , mais tranquila, ele se mudou com a mulher, a psicóloga Iara Rolim de Oliveira, que abandonou a profissão que exercia na capital, assumindo a fazenda que, na época, tinha uma realidade diferente da que vivia na cidade. Sem energia elétrica e com as estradas eram quase que intransitáveis.

Na Fazenda Luziânia, o casal contava com 180 hectares e a primeira iniciativa foi construir um curral. Começou a criar gado de leite, a plantar arroz, frutas e a cuidar de uma pequena horta, sem defensivos agrícolas, para consumo próprio.

“Em 2001, conseguimos a certificação de orgânicos, sendo um dos primeiros produtores em Minas a receber essa certificação. Isso facilitou para que pudéssemos ampliar a produção e atender às demandas por alimentos mais saudáveis”, disse Euler Ribeiro.

Vendas

A comercialização dos produtos é feita pelo site dahorta.org, onde os consumidores podem escolher e fazer as encomendas. São cultivadas cinco variedades de alface, rúcula, manjericão, almeirão, agrião, espinafre, brócolis, couve, cenoura, beterraba e morango.

Uma vez por semana, Euler Ribeiro vem a Belo Horizonte fazer a entrega de cerca de 100 cestas de produtos, previamente encomendadas e compostas por hortaliças, frutas e legumes, tudo sem agrotóxicos. “Vou uma vez por semana à capital e já fico doido para voltar para casa. É muita confusão.”

Diversificação

Ele conta que vai diversificar a produção: “Quero investir mais num pequeno laticínio, para produção de leite, queijo e requeijão de qualidade. O leite tirado é de gado 100% a pasto o ano inteiro”.

O casal teve três filhos, todos criados na fazenda, mas que não seguiram os passos dos pais. “Cada um tem uma profissão e buscou outro rumo”, conta ele, que, apesar de admitir ser a atividade muito trabalhosa, garante não trocar por nada a tranquilidade da fazenda, onde acorda às 6h e dorme às 20h.

Doces com frutas da estação em Boa Esperança

A família é de Boa Esperança, mas mora em Belo Horizonte. Após formar-se em agronomia pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), no ano passado, o jovem Lucas Muzzi decidiu deixar os pais na capital mineira e voltar para Boa Esperança, na microrregião de Varginha, a 280 km de BH. No sítio dos pais,

Ele passou a cultivar hortaliças e frutas, a comercializar mudas de plantas e a fazer, das frutas da estação, doces diversos.

Venda garantida

Conhecido na cidade pela diversificação da oferta, o jovem Lucas Muzzi comercializa seus produtos nas feiras de Boa Esperança. Recentemente, ele passou, também, a prestar acompanhamento técnico a produtores de café orgânico em assentamentos de reforma agrária.

Toda a produção dos doces tem comercialização assegurada. Foto: Divulgação

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