Produtores na CeasaMinas reclamam da queda no volume de vendas

Lídia Salazar - Especial para Froça do Campo
02/12/2015 às 08:44.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:10
 (Sérgio Amzalak)

(Sérgio Amzalak)

Em tempos de crise, a ceia de Natal de 2015 pode ser menos farta se comparada aos anos anteriores. A mesa cheia, característica da tradição natalina, com peru, sobremesas, frutas e panetones deve sentir o peso da recessão econômica. Algumas famílias terão de se contentar com um jantar limitado, sem muita variedade. Os distribuidores das frutas mais procuradas nessa época também agem com cautela, já que a expectativa é de que o consumidor reduza os gastos neste fim de ano.   De acordo com uma pesquisa nacional realizada pela Boa Vista SCPC, o consumidor vai gastar menos no Natal. Dentre as estatísticas coletadas, uma delas foi a de que 52% dos brasileiros terão uma ceia menos farta em 2015, em comparação a 32% no ano passado. Apenas 34% preveem que a fartura será igual a 2014 e 14% consideram que será mais abundante.   Segundo os resultados da pesquisa, 62% dos consumidores deverão gastar até R$ 50 por pessoa nas festas de fim de ano; 31% gastarão até R$ 30 e 31% preveem gastos entre R$ 31 e R$ 50. Os gastos totais incluindo presentes, ceia, ano novo e despesas gerais deverão somar até R$ 500 para 66% dos entrevistados.   Dados como esses preocupam quem sempre teve o melhor faturamento no fim do ano. É o caso do distribuidor Reginaldo Ribeiro, da Irmãos Pereira, que comercializa frutas natalinas há 17 anos. O empresário importa frutas de diversos países, comprando também de alguns estados do Brasil tipos como uva, pêssego, ameixa, nectarina, damasco, romã, lichia, entre outras. Para atender à demanda, ele tem uma parceria em São Paulo que faz os trâmites de importação com todas as documentações e burocracias.   Cautela   A Irmãos Pereira fica nas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), em Contagem. Das frutas mais vendidas, os vários tipos de uvas são os campeões. Em seguida vem o pêssego e depois a lichia. São cerca de 16 mil toneladas de frutas comercializadas mensalmente para supermercados da capital e do interior de Minas.
O faturamento de Reginaldo Ribeiro gira em torno de R$ 4 milhões/mês e, em dezembro, o valor dobra, passando para R$ 8 milhões. “Este ano, no entanto, estamos agindo com cautela. Temos muitos clientes do interior que estão sentindo dolorosamente a crise econômica. Pessoas que compram conosco há anos, que sempre foram excelentes pagadores, estão fechando as portas. Outros não estão conseguindo pagar e continuam tentando, mas acabam acumulando dívidas”, lamenta.   O empresário acredita que em 2015 não será computado crescimento como nos outros anos, quando as vendas sempre cresciam em 20%. “Já constatamos uma queda de 30% nas vendas. Trabalhamos com frutas supérfluas. A ameixa, por exemplo, não é um alimento de extrema necessidade. Muitas famílias estão trocando esse tipo de produto por arroz e feijão. As frutas que continuam sendo consumidas são banana, laranja, as mais comuns”, explica.   Apesar do momento difícil, Reginaldo Ribeiro relata que foi um ano de mudanças na empresa, e que isso pode trazer bons resultados no futuro. “Tivemos que reaprender a trabalhar, avaliar o negócio internamente, reinventar as tarefas que eram feitas todos os dias da mesma forma, para que elas fossem mais eficientes e econômicas. Quem não fez isso não conseguiu, fechou as portas ou mudou de ramo”, afirma.   O distribuidor prevê ainda que janeiro e fevereiro de 2016 serão meses complicados para quem está contando com as vendas de dezembro. “Muitos estão esperando que o negócio melhore agora, no fim do ano, mas, se isso não acontecer, não sei se vão conseguir manter a operação”, opina.   “Pessoas que compravam conosco há anos, que sempre foram excelentes pagadores, estão fechando as portas”
Reginaldo Ribeiro – Irmãos Pereira
  A expectativa é na manutenção dos hábitos de consumo   Gilmar Mendes é também distribuidor na CeasaMinas, em Contagem. Há 13 anos, trabalha com frutas diferenciadas e preserva a comercialização de produtos de extrema qualidade na loja Global Frutas. Mesmo com o cenário econômico desfavorável, ele acredita que terá um bom faturamento no fim do ano. As uvas, cerejas, pêssegos, ameixas e nectarinas são os principais produtos que o empresário vende em dezembro, importados do Chile, Argentina, Estados Unidos e adquiridas em alguns estados do Brasil, como Santa Catarina, Rio Grande do Sul e interior de São Paulo. “A maioria dessas frutas precisam de temperaturas baixas e, por isso, não são encontradas em Minas Gerais”, explica.   Segundo o empresário, a loja vende a quantidade de frutas que ocupam 12 caminhões no fim do ano, sendo que cada um tem em média capacidade para 14 toneladas. A uva rosada é a principal mercadoria comercializada, quando a venda total é 40% maior do que nos outros meses. Gilmar Mendes espera manter esse aumento sazonal para seguir firme em 2016.   Dentre as frutas de natal a ameixa teve a maior alta   Outra pesquisa recente, divulgada pelo site Mercado Mineiro, apurou 75 produtos consumidos na ceia de Natal. No geral, foi constatado que eles estão até 54% mais caros na comparação com o mesmo período do ano passado. O alimento que registrou a maior alta foi a ameixa, a importada e a seca com caroço. Além da inflação mais alta, o valor elevado do dólar contribuiu para o aumento desses preços, Para complicar ainda mais o fim de ano do consumidor, a variação chega a 270% entre uma região e outra na capital mineira.   Além disso, de acordo com o pesquisador da Epamig, as frutas estão mais caras também devido ao aumento de outros insumos que o produtor necessita para o seu cultivo, por exemplo, o combustível.   Para os especialistas a orientação é de que a população pesquise bastante antes de comprar. O diretor executivo do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, aconselha os consumidores a esperar chegar mais próximo do fim do ano para encher o carrinho de compras, para ele a tendência é de que até lá os preços fiquem menores.   O clima em Minas Gerais exige a importação de produtos   O pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Emerson Dias Gonçalves, trabalha com frutas de clima temperado, que são consumidas no natal. Dentre elas, destacam-se as uvas de mesa e viníferas, maçãs, pêssegos, ameixas, nectarinas, caqui, morango, amora, framboesa, mirtilo, figo, pêra e marmelo.   “Mesmo com uma área plantada inferior em relação às frutas de clima tropical e subtropical, as de clima temperado têm uma importância socioeconômica destacada em diversas regiões do Brasil, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e o Vale do São Francisco, seja como cultivo in natura, agroindústria ou agroturismo”, afirma.   Essas frutas são classificadas como espécies que precisam de frio para a sua produção. “Algumas variedades necessitam de aproximadamente 600 horas em temperatura abaixo de 7,2ºC, o que não encontramos na região Sudeste, só na região Sul. Por isso, a maioria das frutas de clima temperado no Brasil tem sua produção concentrada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, que são estados que apresentam temperaturas baixas”, esclarece Emerson Gonçalves.   Segundo o pesquisador, as frutas de clima temperado representam apenas 1,8% do total produzido em Minas Gerais. “Umas das frutas queridinhas dessa época do ano, a cereja, é a mais complicada de ser encontrada. Ela exige entre 1.200 a 1.400 horas de frio em temperatura abaixo de 7,2ºC”, revela. Por esse motivo, os distribuidores importam de outros países para atender à demanda nos estados brasileiros.

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