A compaixão agrega e mobiliza, seja nas ruas da cidade ou por meio da internet

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
12/06/2015 às 08:21.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:27
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Não precisa ser religioso para entender que o mandamento “ame o próximo como a si mesmo” é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade justa e menos segregada. Ao redor, não faltam exemplos de ações que espalham carinho, solidariedade, respeito e alegria pela cidade, comprovando que é possível mobilizar pessoas em torno do conceito de amor.

O discurso sobre a importância do sentimento se tornou recorrente no Carnaval de Belo Horizonte. Mas o bloco Baianas Ozadas, que este ano arrastou uma multidão de 100 mil pessoas, trabalha para que o conceito não seja apenas papo de folião. Durante todo o ano, o grupo abre suas portas para qualquer pessoa que queira fazer parte da bateria – mesmo que não saiba tocar ou não conheça os integrantes. Para isso, realiza oficinas gratuitas de formação.

“Temos uma bateria cheia de senhoras e este ano saímos com quatro crianças. São pequenas ações que mostram que aquela festa vale para todo mundo”, conta a diretora do grupo, Renata Chamilet.

Espalhando o amor

Esta semana, integrantes do bloco puderam levar o discurso afetivo do axé para um novo público: pré-adolescentes de escolas municipais – ação que faz parte do projeto “Identidades Musicais”, do Sesc.

“Carnaval não é só bebedeira. É aquele momento em que você abraça desconhecidos, toma água no mesmo copo, respeita o diferente. Naquele curto espaço de tempo, o mundo fica mais afetivo. O problema é que o Carnaval acaba e a gente volta a ‘vestir’ os preconceitos. O ideal seria que aquele espírito de amor pudesse durar o ano todo”, diz Renata, lembrando os versos de Baianidade Nagô: “eu queria que essa fantasia fosse eterna”.

Rede do bem

A consultora do terceiro setor Adriana Ferreira está sempre disposta a criar correntes do bem – especialmente pela internet. Entre suas ações, uma das mais destacadas é o projeto “Grupo Solidário”, onde divulga vagas de emprego e currículos, para ajudar pessoas a conseguir trabalho. Algo que lhe rende bastante trabalho e nenhum retorno financeiro – mas muitos agradecimentos.

“Também ajudei muita gente a montar currículo e a se portar em uma entrevista, além de dar apoio emocional. A pessoa desempregada normalmente tem que lidar com a depressão e precisa ouvir que aquele problema não acontece por culpa dela”, diz.

A importância de se valorizar as simples ações de gentileza

Há dois anos, a jornalista Michelle Ferraz decidiu deixar sua contribuição para um mundo melhor ao criar o movimento “Faz Bem”. Sua ideia é realizar várias e diferentes ações que possam mostrar às pessoas a importância de pequenas atitudes cheias de amor e gentileza..

 

FAZ BEM – Irce Silveira e Michelle Ferraz já distribuíram abraços na Praça 7 e espalharam bilhetinhos pela cidade (Foto: Izabella Medeiros/Divulgação)

Junto a seus amigos, especialmente a estudante de Psicologia Irce Silveira, ela já desenvolveu ações criativas como soltar balões com bilhetinhos no hipercentro da capital e espalhar pedaços de plástico-bolha pela avenida Afonso Pena com o recado “artigo antiestresse grátis”. Essa turma também já montou varais em praças públicas para um “correio elegante” da amizade, sugerindo que as pessoas deixassem palavras gentis a desconhecidos.

Sorrisos largos

Nos recadinhos distribuídos pela cidade, estão sugestões simples e eficazes contra a intolerância: ofereça abraços mais apertados, dê sorrisos mais largos, passe mais tempo com a família.

Uma das principais ações do movimento “Faz Bem” é a promoção de abraços grátis, que funciona de forma bem simples: a turma vai para a rua oferecer abraços por meio de cartazes, como na foto acima. Aceita quem quiser.

“As reações são as mais diferentes. Tem gente que nos recebe de maneira mais grosseira, pois não está preparada para a ação, e tem gente que pede oração, achando que somos de alguma igreja”, lembra Michelle, reforçando que o movimento não tem nada de religioso. “Não perguntamos se a pessoa acredita em Deus, mas se ela acredita no amor”.

Um dos momentos mais emocionantes que a jornalista viveu com o abraço grátis foi quando viu um morador de rua chorar intensamente. “Ele chorou como uma criança, nos dizendo ‘ninguém nunca encosta em mim”.

Empoderamento

Há também quem mude realidades por meio do amor profissionalmente. A terapeuta complementar Dani Cuccia decidiu investir seu conhecimento sobre heiki, shiatsu, massoterapia e ioga para ajudar mulheres a elevarem a autoestima por meio de grupos de trabalho.

“Trabalho com o resgate do sagrado feminino, especialmente com mulheres que sofreram algum trauma, como um aborto ou um abuso. É um trabalho que envolve o espírito, a mente e o corpo físico”, explica a terapeuta.

Segundo Dani, sua principal missão é despertar as mulheres para o empoderamento individual. Para ela, quanto mais conhecimento e autoestima tiverem, mais as mulheres terão capacidade para ter melhores escolhas sobre a vida e a saúde – como defender o parto normal, por exemplo. “É importante a mulher ter consciência de que tem poder sobre ela mesma”.

Brincadeira distribuiu mais de 80 mil corações para foliões

Às vezes, o ato de espalhar amor pode ser feito de maneira simbólica. Em 2011, o DJ Rafael de Souza e o artista plástico Thiago Mazza tiveram a ideia de distribuir pequenos corações para os foliões do Carnaval de Belo Horizonte. Chamaram os amigos e fizeram um mutirão para que centenas de coraçõezinhos pudessem ser cortados à mão.

A ideia foi tão bem aceita que deu origem ao movimento carnavalesco Bloco do Amor. De lá para cá, a produção de corações cresceu e deixou de ser feita de forma artesanal – a dupla contratou uma empresa prensar os adesivos.

Se no primeiro ano haviam sido mil, este ano foram cerca de 80 mil coraçõezinhos distribuídos entre os foliões. Foi preciso cerca de R$ 500 para fazê-los – mas a venda de camisas do bloco cobriu parte do custo.

“Foi uma iniciativa legal, pela ideia de passar o amor para frente. É uma brincadeira positiva, sem malícia e sem dinheiro envolvido. É algo que mostra um amor pela cidade, amor pelas pessoas, por ruas pelas quais nunca passamos. O amor de abraçar e se divertir com pessoas que nunca havíamos visto”, diz Rafael, que é DJ residente do Baixo Centro Cultural.

Amor brega

E por falar na casa noturna, localizada na rua Aarão Reis, 554, nesta sexta-feira (12) ela será ponto de encontro de pessoas que gostam de falar de amor sem qualquer temor de parecer piegas.

O Baixo recebe, logo mais, uma edição (especial Dia dos Namorados) da festa “Eu Não Presto Mas Eu Te Amo”, com os DJs Capitão Ingrato, Hambúrguer Leviano & Lobo Solitário, Kemille Lorraine e Ingrid Gabrielle.

 

MAÇÃ DO ROSTO – Rafael de Souza e seu adesivo (Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia)  

Depois do sucesso do Bloco do Amor, outras pessoas começaram a confeccionar seus adesivos de coração. "Acredito que é também possível aprender com o amor, não somente com a dor. Todas as vezes em que ajudei alguém, mesmo com uma palavra, me senti em paz comigo. Ver gente trocando amor é gratificante e quero fazer parte disso” Adriana torres Ferreira. Sábado (13), o Baianas Ozadas realiza um baile no Necup (av. N. Sra de Fátima, 3312), com o slogan “paz, amor e axé”.
 

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