A sinopse do filme sueco “Um Homem Chamado Ove” pode ser singela – sobre um homem de idade que perde a esposa e vira um inimigo da vida, perseguindo os moradores que não obedecem as regras do condomínio –, mas engana-se quem pensa que o seu desenvolvimento é igualmente simples. O que levou esse longa-metragem a ficar entre os cinco finalistas do Oscar, sendo lançado agora em video on demand (VOD), com distribuição da Sofá Digital, é a mistura certa entre ingredientes como humor e drama, e divertimento e reflexão, a começar pela escolha do protagonista, vivido por Rolf Lassgard. PlanejamentoEle consegue fazer a transição do personagem chato, apegado a picuinhas, ao homem necessário nos dias de hoje, numa época em que as pessoas parecem viver ao acaso, sem qualquer planejamento. Ove é o contrário disso tudo: cada detalhe é pensado até que um dia a vida lhe prega uma surpresa, com a morte da mulher. O caminho que realiza para entender que a vida não é um trilho de trem, em que há pontos de saída e chegada, é o cerne do roteiro, levando o personagem a enxergar o que está a seu redor. A nossa identificação com Ove se dá principalmente por sua postura crítica ao mundo atual, que deixou de valorizar aspectos como respeito e compromisso. Enquanto a comicidade surge dos momentos em que tenta, inutilmente, se suicidar e da forma arredia como trata os vizinhos, vemos no protagonista um grande rebelde, especialmente no instante em que vira para um velho amigo e observa que “as pessoas deixaram de acreditar na luta”, aceitando facilmente o que vem de fora.