Exposições em MG retomam o uso da pedra-sabão para a arte

Elemara Duarte - Hoje em Dia
20/01/2016 às 07:38.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:05
 (Hoje em Dia)

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Duas exposições, uma em Ouro Preto e outra em BH, tentam devolver a nobreza da escolha da pedra-sabão por vários artistas como matéria-prima para uma obra de arte. Mas são peças únicas. É a mesma ideia que Aleijadinho (data imprecisa 1730-1814) consolidou no início do século 19, por meio dos profetas que compõem o adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.

É no rastro daquele mestre que o empresário Osmar Puperi, atuante no segmento de extração de pedra-sabão, se inspirou para idealizar a exposição “Pedra Sabão: Do Ventre de Minas, a rocha, na memória permanece”, que abre nesta quarta (20), em Ouro Preto.

“A pedra-sabão é um produto nobre”, reafirma este gaúcho, radicado no Estado desde os anos 1970, onde estudou geologia na Escola de Minas, em Ouro Preto. Ele diz que quer recobrar o significado “que Aleijadinho deixou” para a pedra.

Onde estão os talentos?

Para isso, Puperi foi buscar adidos à esta ideia e os encontrou. São escultores – amadores e profissionais – a quem cedeu blocos de pedra-sabão selecionados e a eles propôs o desafio.

A única exigência: esculpir souvenir não vale. Assim, a ideia que tem sido construída ao longo da última década, agora, chega em uma exposição. Nela, oito artistas esculpiram cerca de 20 peças entre figuras humanas, santos e arte contemporânea. “O objetivo é mostrar que é belo e fácil trabalhar esta pedra”.

Os integrantes da mostra concordam que a matéria-prima pedra-sabão perdeu espaço para outros materiais com histórico sempre avivado com muito apelo à nobreza, como é o caso do mármore de Carrara. “Pedra-sabão alia a Aleijadinho ou ao artesanato (produção manual de utilitários com alguma repetição). O mármore, no Brasil, tomou este lugar por ser mais consagrado internacionalmente. E, infelizmente, a pedra-sabão não entrou neste ramo”, analisa um dos participantes, o escultor Marco Aurelio R. Guimarães.

“Trabalho com mármore, madeira e bronze. Pedra-sabão foi para esta exposição”, completa. Entre as peças para a mostra coletiva, ele fez “Cinderella”, uma versão contemporânea de um conto de fadas. Mas em vez do sapatinho de cristal, a menina perde um chinelo de dedo.

Após décadas de amizade artística especialmente com o bronze, a escultora Raquel Albernaz, aventurou-se com a pedra-sabão, graças ao convite para a exposição. “É uma outra abordagem. Tem muito artesanato e utensílios em pedra-sabão por aí. Panelas, inclusive, tenho várias”, brinca.

SERVIÇO

“Pedra Sabão – Do Ventre de Minas, a rocha, na memória permanece” tem abertura nesta quarta-feira (20) e segue até 14 de fevereiro, com visitação das 8h às 18h, no Centro Cultural e Turístico do Sistema Fiemg. (Praça Tiradentes). Na sexta-feira, haverá um bate-papo com os escultores da mostra, das 19h às 21h.

 

ESCULPINDO A "SONHADORA" - Raquel Albernaz aderiu à proposta de trabalhar com pedra-sabão. A peça em produção nesta foto estará na exposição em Ouro Preto. Crédito: Arquivo Pessoal

Artista de Dores do Indaiá também adota matéria-prima

Outra iniciativa defensora do uso da pedra-sabão para o universo da obra de arte é a exposição “O Toque Mágico de Ricardo Costa – Esculturas”, em cartaz em BH. Costa, aos 43 anos, é escultor há 25 e vive em Dores do Indaiá, Centro-Oeste mineiro. Na exposição na, ele trouxe profetas, madonas e figuras oníricas, como as gárgulas, mas também, palhaços de Folia de Reis e animais.

“São 22 peças, metade é em pedra-sabão. A outra, em madeira”, explica. As peças têm inspiração na arte barroca, mas também, diz ele, na moderna. “Conheci a obra de Aleijadinho aos 8 anos, em uma visita em Congonhas, mas eu já tinha este dom e na minha cidade não existia escultura (ou escultores)”, lembra, sobre a inspiração do trabalho dele.

Há cinco anos no trabalho com a pedra tipicamente mineira, é do escultor dorense o monumento “Tributo aos Congadeiros”, na praça da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no Centro da cidade em que vive. E a matéria-prima? “Pedra-sabão!”

A escultura traz um conjunto de peças com cerca de 2 metros de altura. “Foram oito meses de trabalho”, lembra. De talhadeira e marreta nas mãos, o artista diz que não precisa riscar a pedra. “A proporção já está na minha cabeça”, conta ele, que além de escultor, é marceneiro.

E nesta labuta intuitiva, o artista lida com alguns desafios típicos da arte. “Às vezes, a pedra tem ‘veio’, rajas tipo um mármore, mais duras de talhar. Mas sou perseguidor da obra de Aleijadinho e acredito que estas dificuldades fossem as mesmas com ele”, compara o autodidata.

Graças ao legado daquele mestre é que Costa diz que as peças sacras sempre o comoverão. “E enquanto existir a pedra, vão existir artesãos”, profetiza.

SERVIÇO

“O Toque Mágico de Ricardo Costa – Esculturas”. Até 14 de fevereiro, no Centro de Arte Popular Cemig (rua Gonçalves Dias, 1.608, Funcionários). Info.: (31) 3222-3231

 

 ENTALHE DORENSE - Escultor Ricardo Costa se diz um admirador da obra de Aleijadinho. Crédito: Arquivo pessoal

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