Miguel Gontijo critica artes plásticas em exposição na Casa Fiat de Cultura

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
19/06/2016 às 19:33.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:58
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

“A arte plástica dá composições muito retrógradas”, responde Miguel Gontijo ao ser questionado sobre o que seria uma novidade nesse campo. Inconformado com a cena contemporânea, mesmo com muitos dizendo estar revigorada, ele critica tal visão na mostra inédita “Almanaque – Pinturas de Miguel Gontijo”, a partir desta terça-feira (21) na Casa Fiat de Cultura. 

Com curadoria de Robson Soares, a exposição é composta por 66 pinturas acrílicas sobre tela, finalizadas com óleo. O trabalho foi dividido em três partes: 42 telas de pequeno formato, que seriam as possíveis confecções de uma capa de almanaque (periódicos de variedades); 20 pinturas de grande porte representando o conteúdo que preencheria as páginas da publicação; e dois “livros de artista”. 

Usando os almanaques como analogia, ele diz que as artes plásticas não mostram “evolução”. A ideia pode ser evidenciada quando comparada com a internet. “Se o almanaque passava informações sem nenhum embasamento científico, a internet também faz isso, (mas) com muito mais velocidade e penetração”, frisa.

Em um dos “livros de artista”, essa proposta fica bem clara. Intitulado de “Jornal de Ontem”, Gontijo traz o que seria a “arte de hoje”. “É uma crítica a mim mesmo e às artes plásticas, porque, na minha concepção, estamos muito velhos. Estou vendo uma arte contemporânea com o olho de 1960. E todo mundo ‘arrotando’ que a coisa está nova. Não está nova, não. Acho que estamos precisando reciclar”, afirma. 

Sociedade de espetáculos

Para Gontijo, a novidade, que tanto procura, não remete apenas a questões técnicas, mas especialmente ao conteúdo. “As artes plásticas estão vivendo como ‘A Sociedade dos Espetáculos’ (livro de Guy Debord, 1967). Ela não está questionando o valor”. 

Não por acaso, as referências de Gontijo ainda vêm de tempos passados. “No meu gosto, o grande inovador já morreu há anos, que foi o (Pablo) Picasso. Ele sim teve uma carreira ‘danada’; sintetizou tudo quando fez o Cubismo e mais ainda quando transformou as artes plásticas numa coisa gráfica. Ele deu dois passos, enquanto muitos passam uma vida e não dão nenhum. O que existe são pessoas midiáticas, mas não uma obra que transforma e emociona as pessoas”.

Questionamentos que são refletidos nas obras, formando um novo almanaque. Os quadros reúnem elementos antigos e da atualidade como objetos, personagens de cinema e quadrinhos, cenas de violência, corpos, estudos científicos, entre outros. Cada pintura forma um enigma aos olhos do visitante, pois, afinal de contas, “as artes plásticas não têm que explicar. Ela é uma coisa para poder se perceber”, como diz o artista.

Exposição “Almanaque – Pinturas de Miguel Gontijo”, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10). Visitas gratuitas de 21/6 a 24/7 Terça a sexta, das 10 às 21h. Sábado e domingo, das 10 às 18h. Às quintas, visita com o artista, às 19h30

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