Projetos de fotografia ajudam a elevar a autoestima de quem se sente à margem da sociedade

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
17/06/2016 às 18:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:56
 (Sheyla Pinheiro/Divulgação)

(Sheyla Pinheiro/Divulgação)

“Durante a gestação, a gente se sente feia, a barriga fica grande, nada te serve. Já, na amamentação, muitas ficam bem magras, com olheiras e rabo de cavalo no cabelo o tempo todo, como eu. As fotos fizeram eu me sentir bonita”. O relato de Gabriela Lúcia Carvalho Silva, de 18 anos, representa uma série de mães, que, assim como ela, tiveram a autoestima afetada com a gravidez.

Uma iniciativa, porém, vem variando, literalmente, o ângulo sobre tal perspectiva. Da fotógrafa Sheyla Pinheiro, o projeto “Mãe Solteira” ajudará, ao todo, 12 mulheres a ficarem com o astral lá em cima. A ação, felizmente, não é a única. No mesmo sentido, outros fotógrafos mineiros têm colocado como protagonistas aqueles, que, por vezes, acabam sendo marginalizadas pela sociedade, como os idosos e as pessoas com deficiência.

Sheyla explica que o projeto visa premiar com um ensaio newborn apenas mães solteiras, isto é, que não tenham a presença do pai na criação do filho. Para participar, a interessada deve enviar a história da gravidez, a previsão de parto e a situação familiar para sheyla@sheylapinheiro.com. A escolhida terá que autorizar a divulgação das imagens e é necessário que o bebê tenha de 4 a 12 dias de vida, além de ter nascido em hospital público pelo SUS. A cada mês, uma mãe será selecionada até o fim do ano.

Filha de mãe solteira, Sheyla conta que sempre teve vontade de fazer algo pelas mulheres que criam os filhos sozinhas. “Consegui a minha paternidade depois de um tempo. Passei pelo processo de requerer pensão, lidar com o pai que não quer ver a filha... Então, decidi doar uma parte do meu tempo, ajudando essas pessoas com a minha experiência e o meu trabalho”, diz.

Os cliques contam com figurino e produção profissional de cabelo e maquiagem. “A menina é toda produzida, o que dá uma revigorada na autoestima. Ela se sente feliz. Elas já sofreram tanto (pela carga que pode existir em serem mães solteiras); merecem ter uma recordação bonita desse momento”, afirma.Sheyla Pinheiro/Divulgação / N/A“MÃE SOLTEIRA” – Filho de Brenda, 18 anos, Arthur foi o primeiro bebê a participar do projeto

Bom exemplo
Vale dizer que a valorização não fica somente na questão estética. O projeto conta com advogadas, dentistas e psicólogas. Gabriela, a segunda a participar do projeto, conta que um grupo foi criado no WhatsApp com toda a equipe de Sheyla, o que tem sido um grande apoio para as participantes. “Tenho um irmão que é advogado, por isso, por enquanto, ainda não precisei deste serviço oferecido pela Sheyla. Mas vejo que as advogadas e as psicólogas têm ajudado muito a todas as meninas que pedem”, diz.

Gabriela, inclusive, tem sido um exemplo dentro do grupo. Mãe de Gabriel Lúcio, de um mês de idade, ela não se mostra abalada por ter que criar o filho sozinha. “Quando você acerta ninguém liga, mas quando você erra vem o mundo inteiro para te julgar. Então, olho a vida pelo lado da alegria. Penso que se estou aqui, com saúde, não tenho porque sofrer”.Marta Alencar/Divulgação / N/A

“TESOURO REVELADO” – Taline sorri para a câmara, enquanto a mãe Tallita se embeleza para o ensaio

"Tesouro Revelado"

Instigado a criar um projeto de cunho social, grupo de alunos de pós-graduação em Marketing Estratégico da PUC Minas doou 24 books fotográficos a crianças com deficiência. Samuel Costa, Samuel Mares, Lorran Faria, Alexandre Freitas e Eduardo Salles tiveram a ideia a partir de uma conversa com a dona de casa Tallita Naiara, de 22 anos. Mãe de Taline Raniely, de 4 anos, a jovem é atendida pela Associação Mineira de Reabilitação (AMR), onde Samuel Costa trabalha. 

“A Tallita me contou que tinha ganhado um book do fotógrafo Gustavo Dragunskis e ela estava muito emocionada por causa disso. Daí, pensei em quantas mães gostaria de ter a mesma alegria”, diz Costa.

A partir daí, o grupo buscou a parceria da Metrópole Escola de Fotografia. Para a surpresa dos estudantes, 28 fotógrafos da instituição resolveram aderir voluntariamente à iniciativa e ainda contribuíram financeiramente. A sessão de fotos ocorreu no último dia 5. O resultado do trabalho será mostrado em uma exposição na escola, de 25 de junho a 11 de julho.

Vinte e quatro famílias participaram da ação. Mas Costa diz que deseja fazer novas sessões para conseguir atender a todas as 168 pessoas que se inscreveram. “A gente ficou muito feliz porque vimos a alegria dos que participaram no dia. Foi muito bonito. Em cada ângulo, tinha uma criança sorrindo e uma mãe olhando para o tesouro dela de fato. Era nítido a questão da autoestima nas mães e pais e até mesmo nas próprias crianças. Porque, ali, eles eram os protagonistas”, diz o estudante.Carla Ferreira/Divulgação / N/A

“SOBRE ANJOS” – Carla Ferreira registrou momentos em que o olhar e os gestos dos idosos parecem ser uma súplica

‘Sobre Anjos’
Até o dia 4 de julho, o Centro Cultural Liberalino Alves de Oliveira (av. Presidente Antônio Carlos, 821) recebe a exposição fotográfica “Sobre Anjos”, de Carla Ferreira. Com o olhar voltado para os idosos, a mostra exibe com sensibilidade estas pessoas que, muitas vezes, acabam sendo esquecidas até pela própria família. Os ensaios aconteceram no Lar Padre João, em Caeté. 

O projeto nasceu após Carla descobrir que a sua mãe tinha Alzheimer. “Percebi que existia um preconceito enorme com essas pessoas. Por isso, quis lembrar que o idoso precisa de carinho”, registra. 

Por meio das fotos, Carla espera “dizer” à sociedade que aquele grupo também “existe”. “Percebi que eles ficaram superfelizes em ter essa atenção. Ficavam querendo ver as fotos”.

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