Assis Valente tem sua vida passada em revista

Hoje em Dia*
21/12/2014 às 11:49.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:27
 (Hoje em Dia/Arquivo)

(Hoje em Dia/Arquivo)

"Brasil, esquentais vossos pandeiros / Iluminai os terreiros, que nós queremos sambar”. Você provavelmente já ouviu este samba-exaltação ser cantarolado em vários carnavais. O que poucos sabem é a trágica história do autor deste e de vários outros sambas que ajudaram a definir os rumos da música brasileira, e que é agora revelada na biografia “Quem Samba Tem Alegria – A Vida e o Tempo de Assis Valente” (Civilização Brasileira, 657 páginas, R$ 65), do jornalista baiano Gonçalo Junior.   “Foi a partir de Assis Valente (1911-1958), trabalhando com símbolos de São João para falar de solidão em “Cai, cai, balão”, por exemplo, que o samba incorporou a melancolia” explica Gonçalo, defendendo a tese de que Assis foi um dos “reinventores” do samba, ao lado de Noel Rosa.    “A vida do Assis é a mais trágica da música brasileira. Uma vida que começou para não dar certo”, diz Gonçalo, para quem as frustrações sofridas na infância influenciaram diretamente a obra do sambista. “O abandono gerou uma depressão terrível, que Assis tratava com cocaína”, revela Gonçalo.   Nascido em berço pobre na Salvador de 1911, Valente, filho bastardo, foi entregue a uma família para que recebesse educação. A infância roubada pelo trabalho no campo fez com que fugisse com um circo. Já morando no Rio de Janeiro, compôs seus primeiros sambas, que fizeram sucesso na voz de Carmem Miranda. O uso de drogas, como a cocaína, se deu por influências do meio musical dos anos 40, na companhia de Nelson Gonçalves e Orlando Silva.    O abismo da depressão, que o seguiria durante toda a vida, junto às dividas financeiras e aos problemas matrimoniais, finalmente o alcançara pela primeira vez em maio de 1942, na primeira das seis tentativas de tirar a própria vida, quando, no lado mais perigoso do Corcovado, pulou de uma altura de 800 metros rumo à morte. Após 70 metros de queda, uma aterrissagem não-planejada em uma árvore salva sua vida. O suicídio de fato veio 16 anos depois, quando bebeu refrigerante “batizado” com venenos para ratos.   Após alguns anos de ostracismo, Assis Valente voltou a ter sua obra reconhecido com a versão dos Novos Baianos para “Brasil Pandeiro”, cuja letra abre essa matéria. Gonçalo afirma que um dos motivos para a queda de Assis no Corcovado foi a mágoa com Carmem Miranda, que receosa da reação do mercado americano quanto à música que da hora “dessa gente bronzeada” mostrar seu valor, não quis gravar a canção. Mas, ao saber da tentativa de suicídio, Carmem pagou todas as dívidas financeiras de Assis Valente, fazendo com que “Brasil Pandeiro” se tornasse uma espécie de maldição e redenção para o inventor do samba melancólico.   *Colaborou Danilo Viegas/especial para o Hoje em Dia

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