Bárbara Barcellos é convidada para turnê com Milton Nascimento

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
22/02/2017 às 19:20.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:40

"Milton (Nascimento) é o meu deus”, responde a cantora Bárbara Barcellos, de 24 anos, à reportagem do Hoje em Dia, após um breve silêncio diante do questionamento sobre o que Bituca representa para ela. “Ele é o meu deus da música, o melhor cantor que existe”, prossegue. “Não o comparo com outro... só com Elis (Regina), que é a melhor (nesse cenário) do lado feminino”.

Com um jeitinho tímido, tranquilo, bem mineiro – tipo Marina Machado, também apadrinhada por Milton Nascimento, diga-se de passagem –, a artista discorre sobre a própria trajetória. Somente Milton a faz acelerar um pouco mais. Há vibração quando o assunto é o ídolo, com quem, pela primeira vez, ela terá a chance de dividir o palco. Bárbara é a única cantora convidada a participar da nova turnê do grande expoente do Clube da Esquina, intitulada “Semente da Terra”. A estreia do espetáculo será em 25 de março, no Grande Teatro do Palácio das Artes, e já está com ingressos esgotados.

Natural de Belo Horizonte, a cantora bem que poderia ser uma das moradoras do vilarejo de Lapinha da Serra, distrito de Santana do Riacho onde aprendeu a gostar mais de mato do que de asfalto e se encantou com Bituca. “Meu tio tem um sítio lá e me influenciou muito, porque sempre colocava (o vinil) ‘Geraes’ (1976) para tocar quando eu o visitava”, recorda.

Os pais da jovem também têm “culpa no cartório”. Músicos, tocavam na noite e volta e meia escutavam o repertório do Clube da Esquina. “Me apaixonei, por isso me aprofundei (nesse repertório)”.

Carreira
Bárbara iniciou a carreira aos 14 anos. Aos 18, conheceu o violonista Beto Lopes, o primeiro padrinho dela na música. “Fui a um bar no (bairro) Santa Tereza e o vi com o violão numa roda. Fiquei impressionada. Ele tocava músicas que nunca ninguém tinha tocado. Tocamos juntos e naquele dia começamos um duo”, recorda.

A parceria rendeu oportunidades à artista, que acabou se apresentando também com músicos como Toninho Horta, Lô Borges, Beto Guedes e Daniel Jobim. No ano passado, ela lançou uma campanha de financiamento coletivo para a gravação do primeiro disco, “Ubuntu”, com previsão de lançamento para as próximas semanas.

“Meu sonho é tocar em muitos lugares do mundo, mas não necessariamente fazer sucesso. Sou reservada. Só quero continuar fazendo o que faço, viver bem, ter sempre minhas verdades na vida”, Bárbara Barcellos

Ao todo, são 11 faixas, sendo duas autorais – “Serra do Espinhaço”, feita em parceria com Beto Lopes, Gabriel Grossi e Tavinho Moura, e “Ciranda de Maria”, composta com Gabriel Grossi.

“Há algumas canções inéditas, como uma instrumental do Beto Lopes. ‘Chamego no Salão’, de Gabriel Grossi e Gabriel Moura, também nunca havia sido gravada com letra, só instrumental”, explica.

Registrado ao vivo, o álbum contou ainda com a participação de músicos como Vander Lee, falecido em agosto de 2016, na regrava-ção de “A Voz”. Tavinho Moura, Toninho Horta, Jorge Continentino, Thiago Delegado, Bebê Kramer, Wilson Lopes, Márcio Bahia, Aloízio Horta e Christiano Caldas completam o time.

 Nathalia Pacheco/Reprodução Instagram do artista / N/A

Milton Nascimento é famoso por apadrinhar jovens e dar voz a injustiças sociais em discos

Repertório do novo show terá forte conotação política e social

Milton Nascimento, claro, está representado no álbum de estreia de Bárbara Barcellos. A cantora regravou “Maria, Três Filhos” e “Sentinela”, ambas parcerias dele com Fernando Brant (1946-2015). A última, inclusive, foi a primeira música que Bituca ouviu Bárbara cantar.

“Há uns cinco anos, estava cantando no bar Godofredo. O Beto (Lopes) apareceu lá e de repente surgiu também o Milton, que estava fazendo um show na cidade, e um monte de gente. Gelei. Fechei os olhos para não errar tudo. Não imaginava vê-lo ali”, relata.

De lá para cá, a jovem reencontrou o ídolo algumas vezes e chegou a ir à casa dele com outros amigos. No fim do ano passado, por sugestão do filho adotivo Augusto Kesrouani e de Wilson Lopes, Milton resolveu levar Bárbara para a turnê “Semente da Terra”.

“Beto Lopes havia deixado com ele a masterização do meu disco. Ele gostou muito e, por isso, quis que eu participasse da turnê”, afirma Bárbara. “Sempre sonhei em cantar com ele. Estou muito feliz”.

Turnê
Bárbara conta que participará de “Semente da Terra” do início ao fim. “Vou fazer mais ou menos o que a Marina Machado fez naquela época”, diz, referindo-se à turnê “Pietá”, que rodou o Brasil e o mundo entre 2003 e 2006.

Com um cunho político, o espetáculo tem o objetivo de unir lutas que Milton tem travado ao longo da carreira. “Vamos falar sobre o racismo, a discriminação do índio. O show tem um contexto político também, fala do que temos passado nos últimos tempos”, afirma Bárbara.

Abordando injustiças sociais desde o primeiro disco, “Travessia” (1967), Milton já realizou projetos com os índios (“Txai”), com negros (“Missa dos Quilombos”), com trabalhadores sem terra (“Levantados do Chão”), mulheres (“Pietá”) e crianças (“Ser Minas Tão Gerais”).

O show chega em 2017, quando Milton Nascimento completa 75 anos de idade e 55 de carreira. Carioca, ele cresceu em Três Pontas (MG) e, atualmente, mora em Juiz de Fora, após três décadas no Rio de Janeiro. A turnê marca a volta de Bituca aos palcos após cerca de um ano.

A direção musical do espetáculo é de Wilson Lopes, que também toca guitarra e violão. Haverá ainda a participação de Beto Lopes (violão sete cordas), Lincoln Cheib (bateria), Alexandre Ito (contrabaixo) e Widor Santiago (metais).

Repertório

Turnê "Semente da Terra", de Milton Nascimento:

- "Tutu" (Marcus Miller)
- "A Terceira Margem do Rio" (Milton e Caetano Veloso)
- "Credo" (Milton e Fernando Brant)
- "Me Deixa Em Paz" (Monsueto e Airton Amorim)
- "O Que Será" (À Flor da Terra) (Chico Buarque)
- "O Cio da Terra" (Milton e Chico Buarque)
- "San Vicente" (Milton e Fernando Brant)
- "Milagre dos Peixes" (Milton e Fernando Brant)
- "Sueño Con Serpientes" (Silvio Rodríguez)
- "Coração Civil" (Milton e Fernando Brant)
- "Clube da Esquina 2" (Milton, Lô Borges e Márcio Borges)
- "Lágrima do Sul" (Milton e Marco Antônio Guimarães)
- "Canção do Sal" (Milton)
- "Caxangá" (Milton e Fernando Brant)
Bis: "Nada Será Como Antes" (Milton e Ronaldo Bastos)
- "Fé Cega, Faca Amolada" (Milton e Ronaldo Bastos)

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