Ben Affleck virou especialista em personagens atormentados por traumas do passado, que se valem de métodos violentos e contraditoriamente carregam uma certa ética. Seu papel em “A Lei da Noite”, outra estreia de amanhã, não é muito diferente do super-herói Batman ou do especialista em fraudes de “O Contador”.
Após lutar com os alemães na Primeira Guerra Mundial, Joe Coughlin retorna aos EUA dos anos 1920 se recusando a estar de qualquer lado, tornando-se um ladrão autônomo. Como nos personagens anteriores de Affleck, além de preferir trabalhar sozinho, ele tem valores morais muito próprios, entre o mocinho e o vilão.
Esse é um dos temas principais do filme, baseado no livro homônimo de Dennis Lehane. Os personagens que cruzam o caminho de Coughlin estão sempre nesse encruzilhada. Não há exceções, nem para o pai chefe de polícia, que chantageia o procurador a pedir uma sentença menor para o filho.
Como em muitos policiais noir, a história passada na época das organizações mafiosas americanas está mais interessada em mostrar como os personagens tropeçam em seus caminhos, buscando soluções que só aumentam seu infortúnio. Um caso até pode ser encerrado, mas as feridas de seus protagonistas nunca se fecharão.
Isso fica claro quando Coughlin parte para a vingança, ingressando numa organização para chegar àquele que matou a sua namorada. Ele vira um homem poderoso, vendendo bebidas alcoólicas durante a Lei Seca, sem aderir ao dinheiro fácil das drogas, mas recorrendo às armas sempre que algo ameaça o seu império.
O gângster nos remete a tantos outros mafiosos charmosos do cinema, mas perde força na parte final, quando se transforma em exemplo de uma mensagem moralista, pontuada momentos antes pela personagem de Elle Fanning, sobre dívidas que serão cobradas futuramente, num acerto permanente com o passado.