BH vive um furor na cena da dança com a retomada de projetos e mobilização de coletivos

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
15/07/2016 às 20:46.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:19
 (Cristiano Machado)

(Cristiano Machado)

Belo Horizonte vive um fortalecimento da cena da dança. Famosa por grupos como O Corpo e Primeiro Ato, atualmente a cidade mostra também o quanto é plural. Seus artistas estão engajados para movimentar o cenário cultural, a exemplo da volta do projeto “Terça da Dança”, uma referência na década de 80.

Na estreia na última semana, em uma noite que contou com um variado leque temático – do tango ao frevo –, o evento deu uma pincelada no que vem pela frente. “Nosso desejo é ampliar e diversificar o público da dança em BH. Mostrar que a cidade, considerada um pólo de dança, tem trabalhos de qualidade em vários estilos”, explica a coreógrafa do grupo Primeiro Ato, Suely Machado, que assina a curadoria ao lado de Jacqueline de Castro (1,2 na Dança), Fernando de Castro (Grupo Corpo) e Mauro Fernandes (Incomodança).
 
Todas as terças, o projeto ocupará o Teatro Francisco Nunes com ingressos a R$20 e R$ 10 (meia). Hoje, às 20h, a programação levará ao palco danças urbanas com o grupo Suburbanos; dança de salão com o Incomodança; dança contemporânea com a Mimulus, e outros. “Ele é muito importante para o reconhecimento dessa cena. Pessoas fora de BH já estão sabendo e nos procurando”, garante Jacqueline de Castro. 

Para ela, esse é um dos muitos passos que a dança tem dado na cidade. “Eu nunca vi uma retomada e um encontro de artistas tão fortes como agora. Toda crise gera algo bom. E aí está o resultado”, comemora Jaqueline, que pontua outras ações do setor. “O teatro Marília se tornou o centro de referência da dança. Toda segunda ocorre, às 10h, as reuniões do Fórum da Dança, quando levantamos várias questões, aberto a quem quiser participar”, conta. 

O “Terça da Dança” inclui solos, duos, trios e grupos profissionais, incentivando novas criações e a prática da utilização do espaço cênico

Mobilização
Muitas vezes reféns de leis de incentivo, os artistas começaram a cavar seu próprio espaço. “Estamos vivendo um momento político importante. E isso despertou a necessidade de nos organizarmos para fazer a cena acontecer”, registra. 

“A grande fala neste semestre é que a dança está se reconhecendo. Há uma mobilização enorme dos coletivos que entenderam que é preciso se fortalecer e estar juntos”, comenta o diretor das Artes Cênicas e Música da Fundação Municipal de Cultura, Jefferson da Fonseca Coutinho. Para ele o ‘Terça da Dança” vem para somar à união desses grupos. “Ainda tem muito a ser feito pelo setor na cidade. Mas acho que logo no início do ano que vem, em temporadas do ‘Verão Arte Contemporânea’ e ‘Campanha de Popularização’, veremos algumas folhagens brotarem dessa ação”, anseia. 

As inscrições para os artistas ocuparem o projeto estão abertas. O regulamento pode ser conferido na pagina facebook.com/tercadadancabh, assim como a programação. 

 Grupo independente de Belo Horizonte se apresenta no México

 Emanuell Carvalho / Divulgação “Sopro” – Cena do espetáculo que o Grupo Contemporâneo de Dança Livre apresenta na Cidade do México

Na última quinta-feira, o grupo Contemporâneo de Dança Livre, de BH, embarcou para a Cidade do México, onde cumpre temporada, até o dia 31, na edição especial do Urbe y Cuerpo – Encuentro Internacional de Arte Escenico em Espacios Urbanos. “O convite veio após contatos por e-mail com a produção. Mandamos material para festivais e eventos que interessam para o grupo. Tudo é feito sem conhecer ninguém que está do outro lado”, conta uma das bailarinas do grupo, Duna Dias.

O grupo, que trabalha com pesquisa e criação em dança contemporânea para palco e rua desde 2010, selecionou cinco espetáculos para essa turnê. “A Corda”, “Áporos”, “Na Reta de 4 Corpos”, “An-gús-tia” e “Sopro” serão executados em espaços urbanos na capital mexicana pelos bailarinos Duna Dias, Heloisa Rodrigues, Leonardo Augusto, Marcelo Henrique e Socorro Dias. “Esse intercâmbio cultural é importante. Nós mostramos o que tem sido produzido por aqui. No retorno faremos oficinas baseadas no que foi vivenciado no local”, considera.

Além disso, realizarão a oficina “Hidrografias urbanas-improvisação e o espaço urbano” no Centro Cultural Brasil-México. Muitas vezes as viagens são bancadas com recursos do grupo, oriundos de apresentações por Minas Gerais, e também de editais de apoio a viagens de artistas. “Tivemos a felicidade de ser contemplados duas vezes por um edital, pois não é fácil bancar tudo sem patrocínio direto”, afirma.

O grupo Contemporâneo de Dança Livre já participou de festivais na Inglaterra, Escócia, Argentina, Portugal, França e Bélgica

Grupos sólidos 
“Estamos em um momento que as pessoas querem fazer e não esperar audições e editais para verem o trabalho acontecer. E isso tem fortalecido a cena independente da cidade”, acredita Duna Dias.

Para a bailarina, esse movimento faz com que os grupos acreditem mais no próprio trabalho. “Isso é empoderador. Temos grupos sólidos fora das grandes companhias da cidade, e isso não só na dança. Está por todos os lados, inclusive na região metropolitana”, pontua.

A criação de espaços auxilia o fortalecimento da cena, mas não é o único fator. “Tivemos a volta do ‘Terça da Dança’, que é maravilhoso. Mas precisamos participar cada vez mais dos fóruns de discussão para abordarmos questões como as políticas públicas para a dança”, considera.

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