Bicicletas vintage viram objeto de desejo de colecionadores em BH

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
10/08/2014 às 14:52.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:44
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Há poucos anos era improvável imaginar Belo Horizonte como a cidade do ciclismo. Era. Porque, afinal, o que a capital tem abrigado, precisamente nos dois últimos anos, é um movimento crescente de apaixonados pelo esporte – mas não somente.

Dezenas de grupos vem ensinando que a bicicleta não deve ser encarada apenas como um objeto de lazer, mas como meio de transporte e solução para o caos urbano. Para as horas que se perde diante do amontoado de carros, ônibus e motos a solução é pedalar – ainda que devagar, mas sempre.

No entanto, além de ter na rua um número maior de ciclistas, a capital começa a ganhar um grupo ‘pra’ lá de original – que vem provando que ter uma bicicleta é negócio sério, paixão certeira.

São pessoas que não se limitam à compra atacadista e estão colocando a criatividade a todo vapor ao personalizar a companheira de estrada.

Se de um lado estão os modelos vintage, do outro ficam as moderninhas. Fato é que as ruas da cidade vêm facilmente ganhando status de passarela.

"Como comprei cada peça separada, nada fazia conjunto. O quadro original é uma Caloi Ceci rosa, provavelmente década de 1980. Fiz a pintura de outra cor. O banco e manoplas meu namorado trouxe de Nova York e até o farol é da China”, enumera a arquiteta Lígia Antunes, de 28 anos.

Assim como ela, o designer Gil Sotero, 35 anos, implantou a bicicleta como forma de se locomover na região central de BH. “A minha primeira bicicleta chegou cheia de barro, com alguns pontos de ferrugem. Eu soube que ela estava parada há anos em um porão. Dei o nome a ela de Anne Frank porque descobri que ela pertenceu a uma fábrica alemã que se instalou no Brasil, a Goricke”.

A paixão, que começou há três anos, acabou transformando Gil em um legítimo colecionador.

Isso porque ‘Anne’ tem outras nove companheiras, todas com nome: Margareth, Jessica Jones, Gabriela, Penelope, Lisbela, Catharina, Dorothy, Slavenburg e Brigitte. “E todas elas são vintage. Escolhi assim porque acredito que elas representam uma época em que as pessoas cultivavam hábitos mais saudáveis e simples”, justifica.

A bike da professora de francês, Renata Aiala, de 27 anos, também não fica ‘pra’ trás. As minúcias vão dos adesivos aos cestinhos charmosíssimos.

“Quem ainda está hesitando, não hesite mais. Junte-se à nós. Venha sentir o ventinho refrescante no rosto. Melhor sensação no mundo não há. Vamos pedalar!”, convida.

Bicicleta: opção viável, econômica, saudável, eficiente, abrangente...
 
Quando começou a consertar, por camaradagem, as bicicletas dos amigos, Vinícius Túlio, de 33 anos, mal podia imaginar que dois anos depois ficaria conhecido em Belo Horizonte como “mago das bikes”, título que ele prefere não ostentar. “Só gosto do que faço e faço meu trabalho bem feito”, justifica.

E o que Vinícius faz de diferente nesse mercado que ainda engatinha são projetos de personalização em bicicletas para uso urbano – além de restauração de bicicletas antigas.

E o que o caro leitor não imagina é o quão vantajoso é personalizar a própria bicicleta. “Cobro uma média de R$ 700 para personalizar uma bicicleta. Eu também posso montar bikes do zero e sob encomenda com uma média de preço de R$ 900. Mas o preço varia muito de acordo com o projeto e peças escolhidas”, explica ele.

“Hoje consigo comprar direto de distribuidores e oferecer peças adequadas para os projetos. Para alguns projetos ainda é preciso importar uma peça ou outra”, completa.

Mais respeito, por favor

“Os pedestres que me desculpem, mas eles são o maior problema do ciclista. Eles enxergam as pistas preferenciais, exclusivas, como uma extensão da calçada”, comenta o agente fazendário Felipe Campos, 30 anos, que há seis meses pedala três vezes por semana.

O músico Guto Borges, grande incentivador do ciclismo em BH, destaca que a bicicleta nunca deixou de ser um meio de transporte nas cidades. “O que vem mudando, muito lentamente, é que as pessoas estão enxergando que, além de viável, ela é uma opção econômica, saudável, eficiente e politicamente abrangente”.

Há que se comemorar ainda mais. Afinal, mais que importar um costume de países europeus, o belo-horizontino vem criando sua própria cultura em torno das bicicletas. Seja na conquista de espaço e respeito, nos debates, nos crescente número de simpatizantes e pautas políticas. O caminho, sabe-se, é longo e moroso, mas pedalar é preciso.
 
‘Não tenho mais paciência para ficar preso no trânsito’
 
Eles estão fazendo tudo certinho: adotaram a magrela como objeto de lazer, de mecanismo para espantar o sedentarismo e a tem como meio de transporte – não apenas para ir ao trabalho, como para trabalhar.

Em Belo Horizonte, a “Dizzy Express” está entre as pioneiras que prestam serviço de entrega em toda cidade com ciclistas – um grupo de nove mensageiros experientes e indiscutivelmente apaixonados por bicicleta. Um trabalho que o desenvolvedor de software e um dos membros do Dizzy, Gustavo Leal, 30 anos, acredita ser promissor.

“Indiretamente estamos contribuindo com o meio ambiente e a mobilidade urbana. Além disso, para curtas a médias distâncias a bicicleta consegue ser mais rápida que as motos e os nossos preços competem ou são mais baixos que os dos motoboys”, assegura.

Pedalando diariamente há seis anos, Gustavo acredita que apesar de bem quistos, ninguém sabe exatamente lidar com os ciclistas. “E acho que nós às vezes nos excedemos também. Eu tento me policiar para sempre dar preferência aos pedestres, para descumprir menos as leis de trânsito, mas acho que o maior problema é que as leis e a infraestrutura não foram pensadas para os ciclistas”, destaca o ciclista, que não pensa na magrela apenas como uma opção de esporte.
 
“Ela é meu meio de locomoção e acabou virando um pouco do meu estilo de vida. Não tenho mais paciência para ficar preso no trânsito e acho que a mudança será inevitável. Posso estar equivocado, mas eu já sinto essa mudança e eu quero acreditar nela. Embora lenta, ela é progressiva”.

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