'Bingo: o Rei das Manhãs' é drama redentor sobre o famoso palhaço Bozo

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
14/08/2017 às 19:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:04
 (UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

(UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

Nos Estados Unidos, é quase uma fórmula. No Brasil, porém, a ideia de um personagem que enfrenta o sistema de maneira revanchista, abrindo mão de seus próprios valores para desafiá-lo, ainda é mal aproveitada, com poucos exemplos de sucesso – talvez por receio de cair num drama de redenção. Previsto para estrear na próxima semana, “Bingo: O Rei das Manhãs” é a melhor apropriação deste subgênero feita pelo cinema nacional. O diretor Daniel Rezende, montador de “Cidade de Deus” que assina o seu primeiro longa, encontrou na história real do palhaço Bozo a tradução perfeita desse formato. Na primeira cena, vemos Armando Mendes conversando carinhosamente com o filho pequeno no camarim, antes de tirar a roupa e entrar no set de uma típica pornochanchada, gênero popular muito em voga no cinema dos anos 70 e 80. Há esse primeiro choque, entre o pai que faz de tudo para sobreviver. Logo descobrimos que ele está divorciado, com a ex, protagonista da novela das 8, e a mãe, uma diva do teatro, fazendo-lhes sombra. O talento de Armando é inegável e ele só precisa de uma chance para mostrá-lo, principalmente quando surge um pequeno papel na mesma novela da mãe de seu filho. Humilhado pelos diretores após improvisar nos diálogos e romper com o modelo hierárquico, ele sai pelado da TV Mundial (na verdade, Rede Globo) prometendo roubar o que lhes é mais precioso: o primeiro lugar em audiência. Esta chance surge quando passa nos testes para vestir a roupa de Bingo (ou Bozo). Desejo de holofoteOs passos seguintes não são difíceis de imaginar, para quem conhece o receituário americano: a cada passo em direção ao topo, mais ele se afasta da figura do pai carinhoso que surgiu sequência inicial. Esta contraposição se fortalece quando entra em cena a diretora evangélica vivida por Leandra Leal. O roteiro consegue promover o caminho de volta do protagonista sem a redenção simplista que poderia gerar, na troca de “palcos” e “drogas” que Armando realiza. Ele continua anônimo, mas já não mais sob a máscara do palhaço, emprestando seu desejo de holofote a outras audiências. A troca de nomes, para evitar ações na Justiça, se torna uma ferramenta de humor, principalmente para quem viveu os anos 80. Vladimir Brichta ganha a sua oportunidade de se aproximar a um Robert De Niro (o Jake LaMotta de “Touro Indomável”) ou Tom Cruise (o Jerry Maguire do filme homônimo) compondo um personagem cativante, entre a simpatia e a loucura, características assumidas pelos protagonistas dos dramas redentores americanos. Sem forçar a mão, sabendo sublinhar os momentos de virada da narrativa, Rezende só aumenta a nossa curiosidade sobre o verdadeiro Bozo, Arlindo Barreto.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por