'Bixa Travesty' documenta a história de Linn da Quebrada

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
20/02/2018 às 19:29.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:28
 (DIVULGAÇÃO)

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Kiko Goifman atende o telefone com algumas palavras em inglês. “São tantas entrevistas, para jornais de vários países”, desculpa-se o cineasta mineiro, em entrevista ao Hoje em Dia, pouco antes de embarcar para a capital alemã, onde o documentário “Bixa Travesty” está sendo exibido dentro da Mostra Panorama do Festival de Berlim. A primeira sessão aconteceu no domingo e já pôs o filme entre os favoritos para levar o Teddy Awards (para produções com temática LGBTQ). A personagem principal, a cantora transexual Linn da Quebrada, ganhou os holofotes e permanecerá na Europa, após o festival, para mostrar seu repertório funk baseado em fatos de sua vida. “Para ela, nunca teve nada fácil”, salienta Goifman, ao comentar a história da cantora do hit “Bixa Preta”. Quando a esposa Claudia Priscilla lhe propôs o projeto, ele avaliou que seria prematuro fazer um longa sobre uma performer de pouco mais de 20 anos. “Será que teria algo para contar? Aí fui ao show dela e fiquei encantado com a potência, um punk bem punk”. Nas primeiras conversas, o cineasta encontrou um passado pautado por situações de preconceito, pelo fato de Linn ser transexual, negra e pobre, mas enfrentado “por uma pessoa que nunca se lamenta”. É justamente essa energia que explode em “Bixa Travesty”, com a artista verbalizando um discurso anti-machista muito forte. Claudia e Goifman têm uma filmografia muito atenta à questão da diversidade – realizaram juntos o longa “Olhe para Mim de Novo” (2012), sobre um transexual nordestino, também exibido em Berlim. “Com ‘Bixa Travesty’, continuamos a falar de uma questão que nos interessa muito, sobre os novos corpos”, sublinha. De acordo com o diretor, existia uma ideia pré-constituída sobre a figura do travesti, “mais próxima dos padrões imaginados para a mulher, com seios siliconados, sem pêlo e certa feminilidade. A Linn rompe com isso totalmente: ela não tem seios, não tem o menor desejo de colocar, e não esconde o pênis e os pêlos. É um novo corpo que tem a ver com o título do filme, pois não está nem na esfera clássica do feminino nem do masculino”. O realizador mineiro revela que “Bixa Travesty” é seu filme que tem maior identidade política, assinando embaixo no discurso de Linn. “Em ‘Olhe para Mim...”, era um discurso do Syllvio Luccio, com características bem singulares de quem vive no sertão. No caso da Linn, compramos o discurso com o maior prazer do início ao fim. Está sendo uma delícia”, afirma. Neste sentido, a artista não é mera personagem do filme, participando ativamente de sua feitura. “Não é demagogia. Com essa discussão atual sobre o lugar de fala, que pegou fogo no último Festival de Brasília, fizemos questão que ela participasse, indicasse personagens, locações e temas. Cada versão do roteiro foi discutida com a Linn”.  Um exemplo disso aconteceu durante as filmagens, quando a equipe estava pronta para uma determinada diária e Linn resolveu que iria fazer as sobrancelhas no salão. “Ela disse que deveríamos acompanhar e, de fato, lá encontramos uma personagem super importante, uma travesti clássica, fundamental para tratarmos da sua questão corporal”, diz.

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