“Blade Runner 2049” detalha questões que foram deixadas em aberto no filme de 1982

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
06/10/2017 às 19:25.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:07
 (WARNER/DIVULGAÇÃO)

(WARNER/DIVULGAÇÃO)

“Blade Runner 2049” é menos complexo do que aparenta. Sequência do clássico da ficção-científica distópica lançado em 1982, em cartaz nos cinemas, a produção aponta para questões básicas e permanentes da humanidade, como “de onde eu vim?”, “o que é a nossa existência?”, “o que é o amor?” e “para onde vamos?”.

Apesar da narrativa mais pausada, como se a cada dez minutos na tela oferecesse um tempo para o espectador refletir, o roteiro é claro no desenvolvimento da busca da paternidade pelo protagonista, que surge nos primeiros movimentos como um ciborgue moderno que possui a mesma função de Rick Deckard (Harrison Ford) no filme anterior– caçador de replicantes rebeldes.

Para além de indagações sobre o convívio entre homens e máquinas numa sociedade globalizada, “Blade Runner 2049” repete, até em seu final melancólico, a jornada do replicante Batty. Vivido por Rutger Hauer no original, ele retorna à Terra de forma clandestina para simplesmente encontrar aquele que o projetou e questionar a finitude de sua vida.

A ampulheta do tempo não é um problema na continuação – neste sentido, para deleite ou não dos fãs, algumas perguntas do filme de 1982 são respondidas agora, sobre as diferenças entre criador (homem) e criatura (androide). Para K (Ryan Gosling, que empresta seu rosto impassível ao personagem), o novo blade runner, a vida começa a fazer sentido em toda a sua complexidade.


Lágrimas de chuva
Ele conhece o amor, direcionado a uma imagem holográfica, repetindo assim o amor impossível entre Deckard e Rachael – agora numa casta inferior, entre um ciborgue e algo ainda mais efêmero. E vê a chance de ter algo mais do que memórias implantadas, enquanto passa de perseguidor a perseguido. A famosa cena das “lágrimas de chuva” ganha uma variação, mais uma vez com a água como ingrediente.

Há uma limpeza, um certo alívio, que, pelas peças que foram encaixadas em relação ao primeiro filme, é significativa de uma mudança, de uma nova forma de enxergar o futuro – não distópico e conciliador. Aliás, esse é o grande tema dos últimos trabalhos de ficção-científica, como “Ghost in the Shell” e o próprio “Star Wars”, em que a paternidade está presente por meio de outro personagem de Harrison Ford: Han Solo.N/A / N/A

Harrison Ford, 35 anos depois de viver Rick Deckard no filme de 1982

 Longa original antecipou várias questões que marcaram época

A ideia de retomar um filme cult e ainda muito estudado deixou os admiradores preocupados. O original não foi bem digerido na época, talvez porque usava o futuro para falar de um mundo em transformação naqueles anos 80.

“O filme carregava um clima obscuro que se casava muito com o que estava acontecendo, apresentando os punks, os darks”, lembra Eduardo de Jesus, professor titular do Departamento de Comunicação Social da UFMG.

Para ele, o filme antecipava, de uma forma pessimista e crítica, o lugar da tecnologia na vida cotidiana. “A questão da globalização, que ainda não era conhecida, era debatida a partir de coisas que não cabiam no próprio mundo”, analisa.

E como exemplo Eduardo cita o fato de os replicantes comandados por Batty serem levados para planetas chamados colônias, expostos a todo tipo de sorte. Após acumularem essa experiência, voltam à Terra para encontrar o criador.

“Na cena final entre Rutger Hauer e Harrison Ford havia um gesto complacente do humano com o replicante, liberando-nos de alguns medos sobre a convivência entre homem e máquina”, observa o pesquisador.

Globalização
O professor salienta que, entre os filmes distópicos daquela época, os roteiros apostavam na ideia de um medo provocado pela substituição do homem pela máquina. Em “Blade Runner”, estes dois lados se convergem.

Também chamou a atenção na época a direção de arte do filme, que misturava ícones de culturas diversas, uma ilustração da “globalização de coisas, situações e contextos locais”, de acordo com Eduardo.

Retrô
Em suas aulas de cinema na UFMG, o filme é uma referência, não somente por parte dele. “Os alunos estão nesta onda retrô, vendo tanto coisas contemporânea com cara antiga, como a série ‘Stranger Things’ quantos os próprios filmes da época”.

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