Cacá Carvalho fala da condição humana na peça '2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo', que reestreia em BH

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
22/03/2017 às 18:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:50

Um texto clássico que fala da condição humana se transforma em ferramenta para reflexão e o despertar da consciência nas mãos de Cacá Carvalho, ator e diretor nascido no Pará, radicado em São Paulo e morador esporádico da Itália. Cria do teatro e tendo esta arte como meio para um diálogo sincero e transformador com o público, ele reestreia “2x2 = 5 O Homem do Subsolo”, nesta quinta-feira (23), em Belo Horizonte.

A montagem é resultado de uma longeva parceria com o diretor italiano Roberto Bacci, da Fondazione Teatro della Toscana. Baseada na obra “Memórias do Subsolo”, do autor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), a peça apresenta um personagem sem nome, em dissonância com o mundo, e que abandona o convívio social para enfrentar a consciência.

Adentrar o próprio subsolo e tirar a poeira de debaixo do tapete é um ato de coragem, “ou melhor, necessário”, exclama o ator. “O superficial gera uma distância entre o que somos e o que demonstramos ser. E com um humor peculiar ele demonstra o que é a vida dos que ficam na superfície”, acrescenta. 

O espetáculo abre janelas. Em uma delas, mostra que a lógica na qual o homem vive – onde dois vezes dois é igual a quatro – nem sempre funciona para trazer a felicidade que se almeja. “A vida precisa de um ingrediente chamado fantasia e imaginação, que alteram a lógica cartesiana”, elucida Carvalho.

Espelho
A partir desse ponto, o personagem levanta inúmeras questões. “Precisamos dialogar com o que está dentro de nós para vivermos. Pois se não, seremos vividos pela vida”, filosofa. 

Nessa saga, o personagem tem a consciência do mundo em que vive, mas não se encaixa no padrão social. “Ele é cruel consigo e com o mundo. Quase um canalha. Que não soube o que é amor”, detalha. 

Dessa forma, levanta a reflexão do que é verdadeiramente necessário para se viver em paz. “Existe a ideia de que a obra de Dostoiévski é difícil. Não é. Ela é um espelho. Talvez isso incomode”, provoca Carvalho. Para ele, lidar com esse texto é como estar pela primeira vez diante de um Van Gogh. “Um espanto, pois ele disseca o homem”.

Reestrear na sede do Grupo Galpão tem gosto especial para Cacá Carvalho. Em 1999, ele dirigiu a montagem “Partidos”, da companhia mineira. “Quando estive nessa casa ela era virgem. Agora está cheia de impressões digitais de vários artistas. Voltar a esse lugar, com esses companheiros é como se tivesse reencontrado uma fonte”.

Serviço: “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo” Galpão Cine Horto (rua Pitangui, 3613, Horto). Hoje, às 20h; amanhã, às 21h; sábado, às 18h30 e às 21h; e domingo, às 19h. Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia)

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