'Calma, Vítor Hugo': você tem medo de quê?

Lady Campos - Hoje em Dia
31/08/2015 às 07:49.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:34
 (Ilustrações de Rubem Filho)

(Ilustrações de Rubem Filho)

O medo faz parte da condição humana e ajuda homens e animais a identificarem ameaças à integridade e reagir a elas. É fato. Mas e quando o temor é tanto que um dentista legal se torna o principal vilão da história? Em “Calma, Vítor Hugo!”, livro de Flávia Savary (editora Mundo Mirim), um garotinho sente muito medo de ir ao dentista e passa a ter pensamentos apavorantes na sala de espera do consultório do doutor Pereira.
“Pela porta de vidro do consultório dá para ver a sombra de um pobre coitado se contorcendo na cadeira. Aposto que ele tá tentando se livrar dos instrumentos de tortura que tem lá dentro. Eu não vou segurar uma barra dessas – sou muito novo para ver cenas chocantes!”, conta no livro Vítor Hugo, que desenvolveu como mantra a frase “Calma, Vítor Hugo!”, na tentativa de se tranquilizar.
De todos os desafios que as crianças têm na vida, os medos que enfrentam estão entre os mais difíceis de superar. Como explicar o medo do escuro, de ficar sozinho ou de sentar na cadeira do dentista? Este último temor é o fio condutor da publicação, que segundo a Flávia Savary, pegou alguns atalhos e abordou outros medos na narrativa.
Atalhos
“Acho bacana autores que seguem uma linha reta. Não consigo fazer isso; pego atalhos”, afirma a autora, que bate um papo sobre literatura infantojuvenil, no estande da FTD, no próximo dia 4 de setembro, durante a XVII Bienal Internacional do Rio de Janeiro.
No decorrer da trama, Vítor Hugo recorda momentos difíceis, como o dia em que o amigo Rodrigo teve medo de perder o avô. “A sociedade moderna gosta de colocar o problema do medo para debaixo do tapete. Existe uma coisa meio imatura em lidar com o sofrimento. A gente acaba virando velhos que têm medo de envelhecer, pais que não querem levar o filho ao velório porque têm medo de o filho sofrer. Acho isso um horror, essa cultura de proteger os nossos filhos numa bolha, numa redoma, não existe. A bolha estoura e aí entra vírus e bactérias”, fala, botando o dedo na ferida. A autora, que também ilustra livros, é dramaturga.
Assombrado
Flávia Savary enfatiza que o clima aterrador vivido pelo protagonista foi captado com sucesso pelo ilustrador Rubem Filho. “As ilustrações têm textura de xilogravura. Ele (Rubem Filho) utilizou recursos de sombra e luz, uma coisa espetacular”.
O contraponto para os temores do garoto é a figura do avô, que segundo a autora tem uma perspectiva positiva de puxar o melhor que o garoto tem de dentro de si. É o vô que trouxe um monte de biscoito com gosto de pizza, bala de hortelã e chocolate, mais uns gibis e um álbum de palavras cruzadas quando Vítor Hugo esteve de cama. Detalhe: o travesso garoto desobedeceu à mãe, subiu no telhado, caiu e quebrou a perna. A autora se inspirou em seu avô Francisco, que adorava palavras cruzadas. Vítor Hugo, que a princípio não gosta de palavras cruzadas, se rendeu ao jogo. “Aquilo de descobrir o outro nome das coisas, de cruzar palavras, fazendo aqueles quadradinhos se encherem de letras, foi uma curtição”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por