Candidato a melhor filme do Oscar 2018, "A Forma da Água" estreia nesta quinta em BH

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
30/01/2018 às 18:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:03
 (Fox/Divulgação)

(Fox/Divulgação)

Se substituirmos o estranho ser amazônico que protagoniza “A Forma da Água”, grande favorito ao Oscar deste ano, por qualquer pessoa que sofreu ou ainda sofre alguma forma de discriminação, encontraremos no filme do mexicano Guillermo Del Toro – em cartaz a partir desta quinta-feira (31) nas salas de Belo Horizonte – um dos mais belos e pungentes libelos contra o preconceito já feito pelo cinema.

Durante a narrativa, ele espalha várias associações e críticas, estampadas nas participações de Octavia Spencer, Richard Jenkins e Michael Stuhlbarg, representantes, respectivamente, dos negros, dos gays e dos estrangeiros a partir de uma incômoda percepção do americano branco e heterossexual.

Esses personagens, que não escondem a sua solidão (Jenkins faz um bonito discurso sobre o fato de ter nascido numa época errada), encontram amparo em Elisa Esposito (Sally Hawkins) – por conta de seu sobrenome, ela também é um “estranho no ninho”, principalmente se levarmos em consideração que esse ninho seja um laboratório secreto de pesquisas supervisionado pelo Exército.

É neste laboratório que, no início dos anos 60, uma “forma” chega e quebra a rotina de Elisa, responsável pela limpeza no local. Seu capturador (Michael Shannon) é um extrato do americano preconceituoso e egoísta. Sua entrada em cena é marcada pela violência e sujeira (física e moral), quando acessa um banheiro que ainda está sendo limpo e, após urinar na frente das faxineiras, chupa uma bala sem lavar as mãos.

A mudez de Elisa não é por acaso. Ela é a representante da mulher tolhida e subjugada, sem voz num mundo preponderantemente machista. Em uma de suas primeiras cenas, à delicadeza de seus gestos se soma um ato diário de se masturbar na banheira. A sequência pode soar estranha no início, mas é plenamente justificada mais tarde, quando sua satisfação sexual vem de onde menos se espera.

Entre as suas muitas camadas, todas elas facilmente acessíveis, “A Forma da Água” se torna um convite à falta de temor para se aceitar o que está dentro de si e aceitar o outro. A previsível fuga nos minutos finais representa um grande esforço pela liberdade individual, independentemente de países, línguas ou governantes (neste sentido, a carapuça serve bem a Donald Trump).

E não é difícil entender o fascínio dos acadêmicos do Oscar pelo filme, já que o cinema é celebrado de maneira nostálgica, como um lugar de sonhos. Elisa mora justamente sobre uma grande sala de exibição que apresenta “A História de Ruth”, sobre sacerdotisa pagã que é tocada pela crença de um hebreu. Um general militar parece resumir Hollywood: um exportador de bons valores, sem uso interno.

Dentro da filmografia de Del Toro, “A Forma da Água” não foge a alguns elementos comuns, como o fato de se passar boa parte no underground, assim como “Hellboy” e “O Círculo de Fogo”, e a beleza encontrada no que é bizarro. Mas se em “Labirinto do Fauno” ele impôs um olhar agridoce a uma fábula passada durante o franquismo, na sua mais recente obra o cineasta lavou a alma –nos diversos contextos que essa frase pode figurar.

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