Caras-metades musicais: Kurt Vile e Courtney Barnett se encontram em 'Lotta Sea Lice'

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
27/10/2017 às 18:49.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:26
 (Divulgação)

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A tal da “química”, de que tanto se fala quando o papo são as relações amorosas, realmente pode ser transformadora – capaz de irromper paixões avassaladoras, de criar conexões profundas, de promover revoluções pessoais e afetivas. Quem já sentiu-se plenamente conectado a outra pessoa sabe como é intenso quando “borboletas no estômago” surgem anunciando as delícias de um encaixe perfeito. 

E, claro: essa fusão d’alma pode se dar de várias outras maneiras, seja numa amizade leal ou numa parceria profissional profícua. O segundo caso é, nitidamente, o de Kurt Vile e Courtney Barnett – dois cantores, guitarristas e compositores com trabalhos que dialogam diretamente e que lançaram impecáveis discos em 2015.

Da mútua admiração artística entre o americano e a australiana, veio o desejo da partilha. A paquera musical começou com uma despretensiosa troca de e-mails e se concretizou em uma imersão na cidade de Melbourne, na Austrália. Em oito dias, acompanhada por um time talentoso de instrumentistas, a dupla finalizou as nove faixas de “Lotta Sea Lice”, sem dúvidas, um dos álbuns mais bonitos de 2017. 

A sintonia entre Kurt e Courtney – esses, tranquilos e pacatos, ao contrário dos xarás "tóxicos" dos anos 1990 – fica clara logo em “Over Everything”. Na faixa que abre o disco, a voz letárgica e desleixada do americano se completa com a da australiana, melódica, suave e limpa. A conversa instrumental também está ali, entre timbres e texturas das guitarras e violões tocadas pelo duo. Se Kurt puxa a primeira, é Courtney quem dá as notas iniciais da arrastada “Let it Go”. Na sequência, o disco cresce com o pop rock melódico de “Let It Go e Fear Is Like a Forest” e de “Outta The Woodwork”.

O bucolismo e a psicodelia preguiçosa são traços que norteiam todo o passeio, assim como as questões existenciais e filosóficas que recheiam as letras. O bate-bola continua com o folk de “Continental Breakfast”e o pop lisérgico e sonolento de “On Script”. Aqui, a dupla mais uma vez troca composições – Kurt interpreta Barnett e vice-versa, e tudo se completa naturalmente, em instantes individuais de brilho. 

A sequência final dos folks “Blue Cheese”, “Peepin’ Tom” e “Untogether” (versão do grupo americano Belly) é de derreter o coração. Se não estava apaixonado antes, o ouvinte se entrega ao fim de “Lotta Sea Lice”, dando por certo que a “química” é possível, seja no amor ou na arte. 

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