Casa Fiat abre hoje mostra inspirada em tapumes

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
07/05/2018 às 19:22.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:42
 (MARIÂNGELA HADDAD/DIVULGAÇÃO)

(MARIÂNGELA HADDAD/DIVULGAÇÃO)

 Com as cidades em constante modificação, pondo abaixo antigas edificações, os tapumes viraram parte da nossa rotina. Para a arquiteta e artista visual Mariângela Haddad, essas placas de madeira, geralmente na cor rosa, são um indício de finitude de algo que teve um certo valor, seja ele individual ou coletivo. “O fato de ter um tapume é porque há uma transformação, uma mudança. Gostando ou não gostando, é uma história que acaba e outra que começa”, observa Mariângela, que abre hoje, na Casa Fiat de Cultura, a exposição “Por Trás do Tapume”.  Reunião de 11 fotografias e de duas montagens fotográficas sobre rastros urbanos, o projeto teve início após a artista caminhar pelas ruas do bairro Sion, em Belo Horizonte, e notar que estabelecimentos dedicados a pequenos ofícios estariam em breve encerrando as atividades. “Foquei nesses espaços, frequentemente insalubres, que fatalmente serão eliminados devido ao lugar muito valorizado que ocupam”, registra. Entre os espaços condenados está uma reformadora de estofados, na rua Chile, que meses depois de ser clicado acabou dando lugar a uma farmácia. “Minhas fotos são vestígios de histórias que aconteceram nestes lugares. A reformadora fechou e suas histórias vão se perder. E o que ficou delas serão as fotos que eu fiz”, lamenta Mariângela. Aparência degradadaOutros ambientes notados pela artista foram um ateliê de molduras e pátina de móveis e uma oficina de bicicletas. A escolha se deu pela semelhança entre os três: além de estarem instalados no mesmo bairro há muitos anos, possuíam uma aparência degradada pela ação do tempo. Ela documenta as paredes desses lugares, como se buscasse um diário do cotidiano, imaginando uma história que fatalmente se perderá no tempo. Um outro eixo da exposição, que ficará em cartaz na Casa Fiat até 24 de junho, são os próprios tapumes, destacando, para além de seu significado, suas cores, marcas e nós. “A partir destas imagens, você começa a perceber outras coisas e enxergar uma casca de ferida ou um figo em decomposição”, salienta Mariângela. NarrativasA artista também é autora e ilustradora de livros infantis didáticos e de literatura. Trabalhou para a maioria das editoras nacionais, tendo escrito nove livros e ilustrado mais de uma centena de obras. Neste último ofício, recebeu o prêmio NOMA de Incentivo, no Japão, pelas desenhos de “Cantos de Encantamento”, de Elias José, e o Jabuti 2016, com “Minha Vó sem meu Vô”, de sua autoria. Presente em sua trajetória desde 1980, a literatura não poderia deixar de se refletir no trabalho fotográfico, em especial em “Por Trás do Tapume”, como frisa Mariângela. “Carrego muito essa questão da narrativa, de querer contar uma história, inventada ou verdadeira. Algumas delas se perderão e outras vão ser criadas ali”, assinala. Serviço: Exposição “Por Trás do Tapume”, de Mariângela Haddad. De hoje até 24 de junho, na Piccola Galleria da Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10). Terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada gratuita.

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