"Censura" a filme francês pode gerar aumento de vendas

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
27/02/2014 às 08:05.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:18
 (Divulgação)

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“Não seria a proposta do realizador gerar polêmica com o filme?”, indaga Jô Furlan, médico, professor e pesquisador na área de Neurociência do Comportamento, ao analisar a polêmica envolvendo o filme “Azul é a Cor Mais Quente”, de Abdellatif Kechiche.

Na noite de segunda-feira, a distribuidora Imovision publicou em seu facebook que duas empresas fabricantes de blu-ray (Sony DADC e Sonopress) se recusaram a prensar as cópias devido às cenas de sexo explícito contidas na produção francesa.

As primeiras palavras que surgiram nas redes virtuais foram “censura” e “homofobia”, já que as protagonistas vivem um tórrido caso de amor, com muitas sequências de relação sexual. Passadas 24 horas, surgem novas interpretações.

“Quando um filme normal dá ênfase a longas cenas de sexo, eu me pergunto qual o objetivo do diretor com isso. Por que o filme não gerou bochincho sobre a relação de amor das personagens? Talvez porque queria que as pessoas reagissem ao sexo”, pondera Furlan.

Com reações como aplauso ou rejeição, o filme ganhará atenção da mídia e de curiosos, de acordo com o treinador comportamental. O que, de fato, aconteceu com a exibição do filme nos cinemas, no ano passado.

Ação de Marketing?

“Quando você foca demais no explícito, você acaba saindo do erotismo e indo para a pornografia. Não quero rotular o filme, mas ele pode ter realmente abusado da sexualidade”, analisa Furlan.

Ele destaca que um aspecto foi negligenciado na mídia sobre a questão: o fato de que o filme será lançado em DVD pela Imovision. Desta forma, ele não foi impedido de chegar ao mercado de homevideo, informação ausente da nota divulgada pela distribuidora.

“Em relação ao DVD, o blu-ray detém uma pequena fatia do mercado. Não lançá-lo em blu-ray não irá comprometer em nada o filme. Mas quando você muda a percepção de algo e gera mídia espontânea, com pessoas sérias escrevendo sobre o assunto, essa polêmica acaba sendo benéfica”, observa.

Apesar de concordar que há ainda muito a ser discutido e explicado, o crítico de cinema Lucas Salgado não exime os fabricantes: “Parece sim que o fato do filme abordar uma relação homossexual pesou na decisão das empresas”.

Salgado assinala que a Sony DADC replicou o blu-ray de “Último Tango em Paris”, enquanto que a Sonopress prepara as cópias de “Ninfomaníaca”, trabalhos conhecidos por seu forte erotismo. “Com isso, é difícil não concluir que o problema não é o sexo em si, mas o sexo gay”, afirma.

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