Cia. Fusion de Danças Urbanas estreia questionando limites entre passado e presente

Da Redação*
almanaque@hojeemdia.com.br
30/11/2016 às 14:45.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:53

Na cena há 14 anos, a mineira Cia. Fusion de Danças Urbanas estreia mais um espetáculo em casa. Desta vez, para falar sobre feridas do passado que reverberam no presente. Ao expor temas como o sexismo, o racismo, a vaidade humana e a violência contra a mulher, a companhia apresentará sua quinta montagem no CCBB-BH, "Pai Contra Mãe", entre os dias 2 e 12 de dezembro.

Inspirado no conto homônimo de Machado de Assis, o espetáculo traz a questão do negro e da escravidão para o público e, inevitavelmente, o racismo como assunto-chave. "O conto do Machado é sobre uma escrava que foge para criar seu filho em um ambiente livre. Foi publicado em 1906, mas é um tema mais do que atual. Quisemos, este ano, trabalhar com literatura, com a ajuda da nossa produtora que é mestra em tal. A Fusion sempre se esforçou para sair de lugares comuns, e a literatura é um deles. O outro esforço foi não utilizar o texto como roteiro, mas apenas como ferramenta para provocação e ponto de partida", explica Leandro Belilo, diretor da companhia.

Além do racismo, o espetáculo se apoia no machismo, no feminismo e na violência contra a mulher, questões exploradas atualmente, que são nada mais do que frutos de feridas não cicatrizadas na nossa sociedade. Belilo conta que será a primeira vez que o elenco conta com um número relativamente grande de mulheres. De sete bailarinos, três são mulheres; fato inédito na história da Fusion. "Precisamos delas para falar sobre o feminismo; são elas quem nos ensinam o que, de fato, é isso", sintetiza o diretor.

Processo

O momento de pesquisa deste espetáculo foi mais intenso do que dos anteriores. Uma peça com tantos questionamentos exigiu muita pesquisa por parte dos artistas envolvidos. Segundo Belilo, foi necessário provar que a dança de rua pode, sim, ser lugar de pesquisa e estudo. "Geralmente, a dança de rua não é referência para esse tipo de abordagem; o que tornou o nosso processo ainda mais rico, visto que é um grupo que veio da periferia. Esse momento não deixa de ser um tipo de formação, porque o processo não serve apenas para gerar uma obra final, mas para nos aprofundarmos no social e no político. Aproveitamos nosso patrocínio e incentivo para isso."

O processo de criação de "Pai contra mãe" durou 12 meses e algo curioso motivou a escolha da trilha sonora. Elza Soares, que recentemente venceu o Grammy Latino pelo álbum "Mulher do Fim do Mundo", compartilhou em sua página do Facebook um vídeo em que os bailarinos da Fusion dançavam uma música do seu mais novo álbum vencedor, "Maria da Vila Matilde". Na publicação, Elza manda um beijo para eles e o vídeo viralizou. "Depois do beijo e da bênção da diva da MPB, tivemos que usar a música no espetáculo. Foi muito especial", conta Belilo.

 Lucas Gregório / N/ASete bailarinos emprestam seus corpos para mostrar que o racismo é uma ferida aberta do presente


Presente, futuro

Apesar do apoio e dos incentivos que a companhia recebe, o diretor reconhece que o cenário artístico atual do país está em crise. "É impossível fingir que está tudo bem, que a cena está aquecida. Na verdade, está cada vez mais complicado trabalhar com dignidade, visto o contexto político que estamos vivendo."

Para o artista, Minas abriga um dos melhores, se não o melhor, mercados de dança do país e, Belo Horizonte especificamente, é um celeiro de excelentes bailarinos e profissionais da dança. "Estrangeiros vêm pra cá e ficam encantados com a qualidade do trabalho desenvolvido aqui. Nesse momento específico de cortes, em que as portas estão sendo fechadas, os grupos e companhias mineiras estão se unindo para reabrir essas portas e reafirmar que a arte e a cultura são essenciais para uma sociedade. É preciso criar meios para fazer arte num país que só se preocupa com a economia."

 Teaser "Pai contra mãe":

  "Pai contra mãe", da Cia. Fusion de Danças urbanas. De 2 a 5 e de 9 a 12 de dezembro, de sexta a segunda, às 20h30, no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450, Funcionários). Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).

*Gabriela Brito

  
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por