Cinema de rua de BH é tema de filme

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
13/03/2018 às 10:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:50
 (DÉBORA AMARAL/DIVULGAÇÃO)

(DÉBORA AMARAL/DIVULGAÇÃO)

A partir das pesquisas e entrevistas que realizou para o documentário “Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora”, que será exibido hoje, às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec, o diretor Alfredo Alves percebeu que a trajetória das salas de cinema em Belo Horizonte acompanha o movimento do comércio varejista. “Não sou historiador, mas desenvolvi uma teoria com esse trabalho que, enquanto o comércio se concentrou no Centro, a partir de grandes lojas de departamentos como Sears e Mesbla, os principais cinemas estavam localizados nesta região. Quando ela deixou de ser importante, as salas fecharam”, registra. No filme, Alves conta a história das salas de rua de BH a partir de depoimentos de personalidades como o estilista Ronaldo Fraga, o ator e diretor teatral Chico Pelúcio e a socióloga Celina Albano. Entre os cinemas lembrados no documentário estão o Floresta e o São José, frutos do primeiro movimento migratório do comércio. “Na Segunda Guerra Mundial, com a migração do comércio para os bairros, cinemas passaram a ser criados fora da região central”, observa o cineasta, que entrevistou os filhos de Abraão João, o principal proprietário de salas de bairro na capital mineira, entre eles o Cine Horto, onde hoje está o Galpão Cine Horto. Cinema em casaAlves conta que João era um grande empreendedor, assim como Antonio Luciano, dono de cinemas como Palladium, Brasil, Jacques, Pathé, Acaiaca e Odeon. “Ele tinha um pequeno projetor e passava filmes para amigos na casa dele. O sucesso destas exibições o levou a montar, a duras penas, um cinema, num terreno da família no bairro Prado (o São José)”. O público, destaca o realizador, aderiu aos cinemas de rua, já que, para ver uma estreia no Centro, além de ter pagar pelo bonde e por um ingresso mais caro, tinha que ir bem vestido. “No bairro, era mais fácil ir, sem ter todos esses gastos. O problema é que a distribuidora só liberava o filme seis meses depois da exibição no Centro”. Um segundo movimento migratório do comércio, na década de 1980, levou ao fim dos cinemas de rua, com a abertura dos shoppings centers, que hoje concentram mais de 90% das salas da capital mineira. Antes deste capítulo triste, o documentário comenta a criação dos cineclubes, a partir dos anos 60, voltado para cinéfilos. É de chorarApesar de o elemento histórico estar fortemente presente, Alves frisa que o filme também se sustenta pela memória afetiva, “sejam elas boas ou más”. Como um exemplo de lembrança ruim, ele cita o caso da publicitária e escritora Cris Guerra, que, residente próximo ao Palladium, ia para ao cinema da rua Rio de Janeiro para chorar. “Ela só descobriu isso enquanto estava dando a entrevista o filme. Para Cris Guerra, aquele cinema era o espaço para desafogar as suas mágoas. Assim que se apagavam as luzes, com a atenção de todos voltada para a tela, ela poderia chorar a vontade que ninguém perceberia”, destaca Alves. Serviço: Exibição do documentário “Entre uma Pipoca, um Beijo e um Drops Dulcora”. Hoje, às 20h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Avenida Amazonas, 315). Entrada franca. N/A / N/A

No espaço onde hoje está uma loja da Elmo e uma igreja evangélica, funcionava o Cine Floresta

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