O Globo de Ouro e a vergonha da igualdade de gênero em Hollywood

Agência France Presse
05/01/2018 às 20:29.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:37
 (Reprodução/Cine Set)

(Reprodução/Cine Set)

O 75º Globo de Ouro premiará no domingo (7) um homem como melhor diretor pela 74ª vez, excluindo as mulheres da disputa após um ano excelente para as cineastas. 

Nos últimos 12 meses, Greta Gerwig se destacou com o aclamado "Lady Bird - A Hora de Voar", enquanto Patty Jenkins bateu recorde de bilheteria com a superprodução "Mulher Maravilha".

O drama racial de Dee Rees na Netflix, "Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississipi", obteve 97% de aprovação no site de resenhas Rotten Tomatoes, e Kathryn Bigelow foi notícia com o drama criminal "Detroit em Rebelião". 

Quando se acrescenta a esta lista Sofia Coppola, Amma Asante e Valerie Faris, todas criadoras de filmes muito elogiados, parece ainda mais estranho que o Globo de Ouro só tenha indicado homens de meia idade na categoria de melhor diretor. 

Espera-se que Guillermo del Toro ganhe por "A Forma da Água", superando Martin McDonagh ("Três Anúncios por um Crime"), Christopher Nolan ("Dunkirk"), Ridley Scott ("Todo o Dinheiro do Mundo") e Steven Spielberg ("The Post - A Guerra Secreta"). 

Um levantamento da reportagem mostra que só cinco mulheres foram selecionadas para competir na categoria de melhor diretor na história do Globo de Ouro, que começou em 1944.

Barbra Streisand, a única ganhadora por "Yentl" (1983), e Bigelow foram indicadas duas vezes, enquanto Coppola, Jane Campion e Ava Duvernay completam a pequena lista.

"Não houve mudanças"

"O problema das diretoras em Hollywood gerou muito debate nos últimos anos", disse Stacy Smith, professora da Universidade do Sul da Califórnia (USC). "A evidência revela que, apesar de receberem maior atenção, não houve mudanças para as mulheres que estão atrás da câmera".

A Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA), a entidade de 90 membros que concede anualmente o Globo de Ouro, não quis comentar o assunto, mas fontes familiarizadas com o tema indicaram que seria injusto culpar exclusivamente essa organização por um problema que diz respeito a toda a indústria. 

O Oscar é um exemplo disso, com seu recorde ainda pior de apenas quatro candidatas na categoria de direção desde 1927, incluindo Bigelow, que ganhou em 2009 por "Guerra ao Terror". 

Uma análise publicada na quinta-feira (6) pela USC mostra que a igualdade de gênero é praticamente inexistente na indústria cinematográfica.

O estudo, chamado "Inclusão na cadeira do diretor?", combina dados sobre gênero, raça e idade de 1.223 cineastas que trabalharam nos 1.100 filmes de maior arrecadação lançados entre 2007 e 2017. 

Apenas 4% eram mulheres, e entre elas só havia quatro negras, duas asiáticas e uma latina. 

Cerca de metade dos homens na lista trabalharam em outro filme sucesso de bilheteria durante essa década, enquanto mais de 80% das mulheres não foram contratadas para nenhum outro grande projeto cinematográfico.

O estudo da USC é atualizado todos os anos, e só oito mulheres foram adicionadas em 2017, um sinal de que se avançou pouco, segundo Smith.

Mudar a forma de pensar

O estudo aponta a Warner Bros como o estúdio que lançou a maior quantidade de filmes dirigidos por mulheres, mas o número continua sendo baixo: apenas 12 em 11 anos.

Enquanto isso, menos de um quinto dos membros da diretoria das sete principais empresas de entretenimento são mulheres, e os homens executivos de cinema ultrapassam as mulheres em uma proporção de mais de dois para cada uma. 

Jessica Chastain, duas vezes indicada ao Oscar, indica que o sexismo institucional, longe de ser só um problema de Hollywood, é fruto de um sistema patriarcal que inclui Wall Street e os meios de comunicação. Reprodução/Facebook

A atriz Jessica Chastain é ativista pela igualdade de gênero

A californiana de 40 anos disse à reportagem em uma entrevista recente que percebeu a discriminação inclusive antes de iniciar sua carreira, enquanto estudava na prestigiosa Escola Juilliard de Nova York. 

"Muito cedo percebi que cada turma era dois terços masculina e um terço feminina e perguntei a um professor: 'Por que não é 50/50?'", disse Chastain, indicada a melhor atriz dramática por "A Grande Jogada". "E ele disse: 'Bom, há mais papéis para homens que para mulheres'".

"Como vamos mudar este lugar se não se muda essa forma de pensar?"

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