Com a França na pauta, 'Samba' fala de imigração

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
16/11/2015 às 07:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:29
 (Califórnia/divulgação)

(Califórnia/divulgação)

A cena de abertura de “Samba” nos remete aos grandes musicais dos anos 40 e 50, com um festa filmada de uma forma claramente coreografada, oferecendo harmonia tanto no movimento dos atores como da câmera, que faz um plano-sequência até chegar à cozinha do restaurante, onde passamos a acompanhar a história do imigrante senegalês Samba.

A intenção dos diretores Olivier Nakache e Éric Toledano, os mesmos de “Os Intocáveis” (2012), um dos maiores sucessos de bilheteria da França no Brasil, é assinalar esse contraste de mundos, além da falta de conhecimento da população sobre a questão da imigração, que deverá se agravar após o ataque terrorista em Paris, na última sexta.

Luta por identidade

A chave adotada pelos realizadores não é política, apostando num drama cômico e romântico, a partir do carisma de Omar Sy, ator que também rouba a cena em “Os Intocáveis”. Disponível em DVD, “Samba” mostra o quão rica pode ser essa convivência para a França, invertendo, de certa maneira, os papéis de seus personagens na trama.

Apesar de estar constantemente se escondendo para não ser pego e deportado para o Senegal, Samba é exatamente o que o seu nome sugere: uma pessoa que nos seduz por sua forte empatia, com movimentos abertos e uma fala melodiosa. É o oposto da francesa Alice (Charlotte Gainsbourg), sempre tensa e represando suas emoções.

Se Samba luta para ter sua identidade reconhecida, quem precisa de fato se conhecer e superar seus traumas é Alice, com o filme imprimindo um movimento diferente para cada um deles. O senegalês evolui na trama mais no sentido horizontal, no campo da ação, fugindo o tempo todo, mudando de emprego e participando de situações cômicas.

Alice percorre um caminho vertical, tanto que, se o desfecho é positivo para ambos, é com ela que o filme se encerra, levando consigo um objeto de Samba que lhe dará segurança para vencer seus traumas. Um objeto colorido e envolvido em paixão, que fará toda diferença no ambiente de aparências do trabalho da personagem.

Brasil na trilha

As diferenças de desenvolvimento também se sobressaem na atuação, com Omar se comunicando principalmente pela fala, enquanto Charlotte se concentra no olhar. As suas atitudes seguem essa escolha. É numa conversa com outro imigrante que Samba irá viajar para conhecer uma garota. Já Alice manifesta sua paixão por meio de uma foto antiga do senegalês.

A força desse encontro se perde um pouco na segunda metade, ao abrir espaço para situações de humor dos coadjuvantes, especialmente do brasileiro Wilson (Tahar Rahim), que sabe bem usufruir do nosso jeitinho. Oportunidade, por sinal, para “Samba” incluir uma música de Gilberto Gil (há outra de Jorge Ben Jor) no instante que o amigo de Omar dança para se exibir.

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