Com foco no essencial, Casacor aposta no diálogo com a cidade

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
03/07/2017 às 11:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:21
 (FLAVIO TAVARES/Hoje em Dia)

(FLAVIO TAVARES/Hoje em Dia)

Belo Horizonte recebe, de 12 de agosto a 17 de setembro, a 23ª edição da CasaCor. Considerada a maior mostra de arquitetura, design e paisagismo das Américas, o evento acontece em um casarão na rua Sapucaí, no Centro – que está sendo restaurado em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O foco, pela primeira vez, será o conjunto arquitetônico da Praça da Estação.

Da escolha do local à programação, a CasaCor solidifica uma nova dinâmica de troca com a cidade, que passou a ser experimentada em 2015, junto aos diretores Eduardo Faleiro e Juliana Grillo. O Hoje em Dia conversou com Faleiro para entender melhor os novos nortes, recortes e desafios da CasaCor.

Em 2015, quando a Pampulha entrou no páreo pelo título de Patrimônio Cultural da Humanidade, a CasaCor assumiu u’m novo diálogo com a cidade. Como foi esse processo?
Enxergamos que a CasaCor não é apenas uma mostra de arquitetura e design, mas uma plataforma de conteúdo sustentada por quatro pilares: inspiração, conteúdo, entretenimento e networking. Com isso, a nossa preocupação hoje é apresentar uma mostra que esteja alinhada aos hábitos do público, fazendo com que as pessoas se identifiquem não apenas com os ambientes, mas também com toda a programação, que inclui bate-papos, apresentações culturais, programação de gastronomia, lançamentos de produtos, visitas guiadas, entre outras. Nossa proposta é mostrar uma CasaCor viva, que dialoga com a cidade e com seus habitantes. Ao nos associarmos com a candidatura ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade, nossa intenção foi trazer visibilidade à discussão sobre a valorização e consequente preservação daquele patrimônio.

Um ano depois, a Pampulha levou o título. Como avalia essa conquista para BH? Qual o legado arquitetônico da Pampulha?
A Pampulha é referência do modernismo para todo o mundo. Com a chegada do título, essa importância ganha outra dimensão. O modernismo brasileiro criado por Oscar Niemeyer é um traço da cultura belo-horizontina que ganhou o mundo. Ao celebrarmos a Pampulha, celebramos a nossa cidade. Por isso, uma das formas que encontramos de destacar esse conjunto arquitetônico foi promover algumas ações fora do casarão que nos abrigou ano passado, em espaços como o Museu de Arte, a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube. 

A próxima edição acontece no casarão da rua Sapucaí, onde funcionará o Museu Ferroviário. A CasaCor está restaurando o edifício, sob supervisão do Iphan. Como surgiu essa parceria com o Iphan? 
Essa é a 13ª edição da CasaCor em imóveis históricos tombados pelo patrimônio. Em todas elas, o evento estabelece uma parceria com profissionais e fornecedores, devolvendo o imóvel para a cidade com diversas benfeitorias. Vale lembrar da primeira edição da CasaCor Minas, realizada em 1995, no casarão do Arquivo Público Mineiro. Na ocasião, o prédio estava bastante comprometido e teve a revitalização inteiramente realizada pela CasaCor. Essa proposta de levar essa edição para o casarão da Rede Ferroviária foi abraçada integralmente pelo Iphan, que há anos vem tentando restaurar aquele prédio, fechado há mais de uma década. Muitas gerações inclusive nunca entraram naquele casarão. Estamos super felizes com esta parceria e com a oportunidade de levantarmos mais uma vez a questão sobre a importância da preservação patrimonial. 

Igual àquele existem vários outros edifícios públicos com arquitetura histórica abandonados ou em condições precárias. Na sua opinião, é preciso valorizar melhor o patrimônio arquitetônico de BH? 
Entendemos que a revitalização e a preservação destes prédios demandam investimentos pesados por parte do poder público. Infelizmente, muitos encontram-se abandonados ou sucateados. A CasaCor tem o potencial de trazer grande visibilidade ao imóvel escolhido a cada ano. Dessa forma, esperamos promover a valorização e também uma conscientização acerca destes imóveis “esquecidos” em alguns pontos da cidade.

Antes marginalizada, a rua Sapucaí hoje tem diversos restaurantes, bares e estabelecimentos que a têm transformado num novo corredor cultural e gastronômico. Inclusive, há a ideia do fechamento da rua aos domingos. Como vê essa transformação?
Sabemos do potencial dessa região, até então acontecendo de forma completamente espontânea e respeitosa, o que reforça a demanda que a cidade tem por espaços públicos para serem ocupados de diversas formas. A cidade é diversa e a essa ocupação precisa acompanhar essa multiplicidade, oferecendo atrativos e espaços voltados para todos os públicos. O fechamento para carros aos domingos servirá como experiência para a cidade do que poderá ser o nosso futuro corredor cultural. Estamos pensando numa programação que inclua música, gastronomia, artes cênicas, entre outras ações. A rua Sapucaí está localizada numa região estratégica, possibilitando uma das vistas mais privilegiadas da cidade, independentemente do horário da visitação. 

É possível ressignificar espaços decadentes sem infringir na gentrificação, respeitando não apenas a arquitetura, mas a população do entorno?
Ressignificar espaços sempre gera impactos, positivos e negativos, mas é preciso conhecer profundamente o contexto e minimizar ao máximo essas questões. Espaços urbanos vão além da arquitetura, são espaços humanizados e com vida própria, e devem andar em harmonia, em respeito às características e aos agentes envolvidos. Diversidade e respeito são aspectos fundamentais na vida contemporânea que acreditamos. 

Na sua visão, o que define o conceito de morar na contemporaneidade? Como a arquitetura está se reinventando para atender esses novos sentidos?
Trazemos nesta edição um tema que acredito ser o mais relevante da atualidade: o foco no essencial. Uma vida mais prática, mais dinâmica e menos complicada. Trata-se de uma tendência mundial trazida a partir do questionamento sobre o excesso de supérfluos em todas as áreas, tanto de consumo como de informação. A proposta desta edição é um desafio para que arquitetos, designers de interiores e paisagistas possam surpreender o público pelo simples.

O evento também terá inovações gastronômicas, como o bar de gim e o picolé com glitter comestível. A gastronomia e a arquitetura se namoram no que toca a inventividade?
A programação da Cozinha Inusitada foi um dos maiores sucessos do ano passado. A proposta é receber diversos chefs da cidade, que oferecem aulas abertas em um dos ambientes da CasaCor. As pessoas não só acompanham, mas também se envolvem com a preparação de toda a refeição e, ao final, degustam os pratos. A ideia do picolé, por exemplo, partiu de uma conversa com a Easy Ice. A proposta é homenagear o que é hoje uma das maiores manifestações de ocupação do espaço público da capital mineira, o nosso Carnaval.

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