Conheça os bastidores do Grande Teatro do Palácio das Artes

Até o espetáculo começar, muita coisa acontece por trás das cortinas. Conheça tudo o que rola para que tudo esteja perfeito para a plateia

César Augusto Alves
cpaulo@hojeemdia.com.br
06/05/2016 às 18:07.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:32
 (Fotos Cristiano Machado)

(Fotos Cristiano Machado)

O palco é um só. Ao redor dele estão pessoas, sentimentos, dedicação e memórias. Até o terceiro sinal anunciar o início do espetáculo, uma equipe se esforça para deixar tudo pronto, tendo em comum o amor pelo Grande Teatro do Palácio das Artes, que está completando 45 anos em 2016.

Para mostrar o que acontece nos bastidores de um dos principais palcos do país, visitamos as coxias do espaço enquanto era realizado o primeiro ensaio geral com público da ópera “Romeu e Julieta”, dois dias antes da estreia. 

  

Ritmo Frenético


São cerca de 300 pessoas envolvidas na produção da ópera. A equipe se divide entre profissionais da Fundação Clóvis Salgado (FCS), mantenedora do Palácio das Artes, e convidados, considerando elenco, técnicos e equipe artística, como figurinistas, maquiadores, cenógrafos, preparadores, dentre outros.

No dia da primeira apresentação ao público, o ritmo mostra a grandeza da produção. A correria impressiona. Todos concentrados na responsabilidade que têm. 

Enquanto o palco é preparado com testes de cenário e iluminação (não ouse atrapalhar o caminho dos técnicos, ou será repreendido), nos camarins as roupas são organizadas, os adereços checados e o elenco começa a se maquiar. Tudo cronometrado para que esteja pronto antes de o público chegar.

“Correria total. Entra cenário, sai cenário. É um lugar onde não se pode errar. Começamos a montar tudo ainda de manhã para o espetáculo que começa às 21h. Quando a plateia entra, nem imagina a correria aqui por trás, mas já está tudo pronto, em silêncio e escuro”, conta o gerente de palco Ronaldo Rodrigues, que está há 7 anos na casa. 

A ópera tem participação ainda da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, do Coral Lírico de Minas Gerais e da Cia. de Dança Palácio das Artes

A diretora de palco da ópera Malu Gurgel é responsável por tudo que chega até seu “terreno” à frente da plateia. “São 314 pessoas na produção que, em algum momento, terão que vir ao palco. Tenho que organizar para nada sair errado”.

Cada detalhe é checado à exaustão: tudo precisa estar perfeito. A ópera é uma aposta da FCS para a temporada, e mobiliza toda a instituição. Os olhos estão completamente voltados para a estreia de “Romeu e Julieta”. O clima é de ansiedade e, também, felicidade.

ImponênciaCristiano Machado/Hoje em Dia

A figurinista e estilista Sayonara Lopes é outro eixo desta engrenagem. “Bastidor é isso. É gincana. É correria. O maquinário do palco é imenso, todo mundo precisa falar com todo mundo pelo rádio, gritando, correndo. Ninguém na plateia consegue dimensionar o tamanho. Uma adrenalina deliciosa. Eu recomendo duas vezes por ano”, brinca. 

O Grande Teatro é, de fato, um espaço que impressiona tanto pela beleza quanto pela imponência. Tudo o que acontece por trás da cortina vermelha de 13 metros de altura, no entanto, é um mundo à parte. O público realmente não seria capaz de imaginar que tamanha engenharia se faz nos bastidores. Só após todo este envolvimento de centenas de profissionais é possível tocarem o terceiro sinal, apagarem as luzes da plateia e acenderem as do palco.


Paixão pela arte e forte relação com o Grande Teatro caracterizam a equipe técnica


Além da grandiosidade da coxia e do espaço de trabalho entre os camarins, há algo fundamental para que tudo funcione: a paixão no olhar de cada um que faz parte da equipe. 

Apesar de não fazer parte do time oficial da FCS, a figurinista Sayonara Lopes define com uma única palavra sua relação com a instituição: amor. “Eu venho ao Palácio desde que sou adolescente. Sempre tive as minhas melhores referências aqui. Eu entro na casa e sou muito bem cuidada. Aqui tem uma estrutura”, conta. 

O relato não se difere em outras vozes. O gerente de palco Ronaldo se emociona ao falar do trabalho e da relação com o que chega até ele. “Tenho orgulho de trabalhar em um dos melhores teatros do Brasil. Fico emocionado. Fiz muitas amizades conhecendo gente do mundo inteiro. A gente aprende muito com cada espetáculo”, relata.

Relação com a Fundação Clóvis Salgado, aliás, é quase pré-requisito para estar ali. Malu, diretora de palco, pisou lá pela primeira vez como cantora no Coral Lírico. “Era outra visão do que era palco. Aqui me sinto em casa. Já conheço bem as pessoas, a maquinaria. Gosto muito de trabalhar aqui”. 

Com 45 anos de Grande Teatro, a diretora de produção artística Cláudia Malta começou aos 14 anos, como bailarina do antigo “Corpo de Baile”, hoje a Companhia de Dança Palácio das Artes. “Uma vida de intensa relação com as expressões artísticas, da criação à exibição”, pontua. Cristiano Machado/Hoje em DiaExperiência – Ronaldo trabalha com palcos há 17 anos: “Tudo tem que ser sincronizado, afinado, para acontecer e dar certo”

Formação

Tanto amor não é em vão. Além da excelência do produto, a FCS é responsável também pela formação de muitos destes profissionais, não só pela experiência que adquirem, como por projetos como o Cefart, que oferece cursos profissionalizantes. “Praticamente em todos os teatros de Belo Horizonte é possível encontrar um profissional que aprendeu seu ofício no Grande Teatro, atuando em funções como iluminação, contrarregragem, manipulação de maquinário de palco, entre outros”, conta Ray Ribeiro, diretora de programação artística da casa. 

Braço forte da arte na capital, o Grande Teatro já enfrentou um incêndio em 1997. Todos se uniram e, pouco mais de um ano depois, o teatro reabriu com programação que reuniu mais de 20 mil pessoas

Constelação 

Desde sua fundação, o Grande Teatro já recebeu inúmeras estrelas do mundo todo. Vejamos alguns nomes: Astor Piazzolla, B.B King, Charles Aznavour, Julio Iglesias, Ray Conniff, Toni Bennett, as Orquestras de Berlim, Moscou, Paris e Nova York, nas décadas de 80 90. Ballet Bolshoi, Grupo Corpo, Royal Ballet de Londres e Deborah Colker também marcaram presença. Da música e teatro brasileiros, pisaram por lá Bibi Ferreira, Cartola, Chico Buarque, Gal Costa, Nara Leão, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, o Grupo Galpão, Irene Ravache, Marília Pera, Paulo Autran, Raul Cortez, Tônia Carrero, Gerald Thomas, Nana Caymmi, dentre inúmeros outros. 

Da coxia à Plateia, os números são impressionantes

No Grande Teatro do Palácio das Artes, a cortina é chamada de “Vestimenta Cênica”. Possui 13 metros de altura por 9 metros de largura. O público pode se acomodar confortavelmente em 1.705 assentos distribuídos em dois níveis, dois camarotes e em um ambiente equipado com potente ar refrigerado. 

Para o conforto dos artistas, estão disponíveis sete camarins recentemente reformados. O projeto de luz, assinado por Raul Belém Machado, comporta 322 refletores, sendo 286 no centro do palco, e outros 36 direcionados para a boca de cena. Tal capacidade faz do Grande Teatro um dos poucos palcos brasileiros deste porte. 

O palco possui 20m de profundidade e uma boca de cena com 18m de largura por 7m de altura. A coxia (espaço ao redor do palco) é uma das maiores entre os principais teatros nacionais, possuindo 49 metros. 

Desde 1995 o espaço recebeu aproximadamente 4 mil espetáculos, com público estimado de 3 milhões e 897 mil pessoas

Números de "Romeu e Julieta" dimensionam o tamanho da produção

Os técnicos se comunicam o tempo todo nos bastidores com 60 rádios comunicadores. São servidos 300 lanches individuais por dia. Foram usados mais de mil metros de tecido para o figurino (vestidos, anáguas, lenços, pano para chapéu, etc). Vinte perucas, 60 pares de cílios, 120 máscaras, 300 flores artificiais, 120 medalhas para figurinos, 60 pacotes de lenços demaquilantes, 100kg de grampos de cabelo e mais 20 litros de sangue cenográfico completam a plástica do espetáculo. O cenário engloba 10 bancos de igreja, 4 luminárias, 60 cadeiras, 180 refletores e 15 coroas de flores.

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