Crianças na cozinha transformam o trivial em espetáculo gustativo

Eduardo Avelar
25/10/2015 às 11:12.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:12
 (Divulgação)

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Dentro e fora da TV, crianças e adolescentes compartilham um ingrediente em comum: o sonho de se tornar chef de cozinha.

No momento gastronômico em que vivemos, saber cozinhar ‘desde a infância’ pode ser taxado como modismo ou influência dos programas de televisão. Mas elas sempre estiveram na cozinha, acompanhando a mãe, os avós, o pai e os tios. Eles começam aos poucos, ajudando a família a preparar a salada, o bolo de aniversário ou até a sobremesa de um almoço de domingo. Contudo, alguns fogem à regra e se aventuram em possibilidades gastronômicas e empreendimentos que surpreendem, inclusive, os chefs e profissionais que já estão inseridos no mercado.

Biel Baum quer revolucionar o mundo por meio da alimentação saudável. Gabriel, como consta na certidão, apresenta programas de televisão sobre o universo culinário e já palestrou no TED (Tecnologia, entretenimento e design), a maior série de conferências que reúne ideias inspiradoras pelo mundo a fim de compartilhá-las e torná-las possíveis. Seguindo o exemplo do chef britânico Jamie Oliver, que trabalha com alimentação saudável e consciente, Baum trilha os mesmos caminhos da fonte inspiradora, já lançou um livro “Meu diário para Jamie Oliver - Realizando sonhos e inventando receitas”, está à frente de uma empresa do ramo e viaja pelo mundo mostrando sua arte.

Devido à idade, o jovem chef foca a carreira na disseminação de uma cultura alimentar adequada para crianças e adolescentes, os mais vulneráveis as comidas industrializadas e fast foods. Ele tem “apenas” 13 anos de idade e quatro de gastronomia, que cursa no Instituto Tecnológico Superior de Zapopan, Jalisco, no México. É vegetariano e nômade.

PEQUENA NOTÁVEL

Oito anos mais jovem que Baum, a mini chef Sarah Domingues apresenta o “Cozinhando com Sarinha”, programa de receitas na internet divulgado no canal dela no YouTube. Aos cinco anos e no auge de suas peraltices, a pequena cozinheira, assim como muitas crianças, não gosta de feijão, mas afirma que nunca fez questão de provar, aos risos.

Ela ensina aos internautas que cozinhar não é tarefa exclusiva dos adultos. Em meio a brincadeiras e caretas, Sarinha tem auxílio da mãe, Taís Domingues, na condução das receitas e vídeos, mas a garota se vira e se diverte na mistura de ingredientes com seu liquidificador, Eduardo. “Tenho um amigo que se chama Eduardo. Ele tem uma barba branca e parece o Papai Noel. Gosto muito dele”, explica. A pequena notável ainda ressalta sua preferência no preparo de cupcakes. “O mais legal é que dá para fazer cobertura de chocolate!”.

A mãe da Sarinha, Taís Domingues, responsável pela administração do canal e das redes sociais da filha, aponta um dos momentos mais marcantes das filmagens. “Gravamos um vídeo que nomeamos como o Desafio: O que tem na minha boca? Com vendas nos olhos, as crianças provaram inúmeros alimentos e muitos foram aprovados. Quando a venda era retirada, os olhinhos espantados denunciavam que sem as vendas eles jamais comeriam aquele alimento”.

Aprender a cozinhar ainda jovem e ser um mini chef muitas vezes não é uma opção: faz parte da cultura de muitas famílias. Como a de Marcela Camila Pereira Pimenta, de 9 anos, que aprendeu a cozinhar por gosto e por estar presente no chamado “coração da casa”: a cozinha. Neta de cozinheira e filha de mãe prendada, a estudante se arrisca na culinária.

“Um dia minha mãe estava dormindo e preparei um café e fiz arroz”, descreve a menina, que começava a elaborar os primeiros pratos. Hoje, na categoria de receitas preferidas, Marcela sabe fazer macarrão e bolo de chocolate. “Preparo o jantar todos os dias para ajudar a minha mãe”, finaliza.

Vinte crianças, cozinheiras amadoras assim como Marcela, começaram na terça-feira (20) uma nova etapa na busca pelo sonho culinário: ser o primeiro MasterChef Junior do Brasil.

Novos participantes. Novos mesmo!

Crianças de 9 a 13 anos entram para a disputa culinária mais famosa do mundo. Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin enfrentam um novo desafio. Os jurados, já conhecidos pelos ácidos comentários nas duas primeiras edições do Master Chef da Band, agora vão julgar pratos preparados por crianças.

Maior audiência da emissora atualmente e aposta de maior sucesso nos últimos anos, o reality apresentado por Ana Paula Padrão é importado, assim como a versão mirim. Lá fora, as duas versões fazem sucesso em países de todo o mundo.

Criticado e adorado pela cobrança e avaliações sinceras, o júri promete ser mais “bonzinho” com os pequeninos que estão começando na cozinha. Porém, o fato de serem crianças não é justificativa para que o programa esqueça o profissionalismo: são crianças e cozinheiros.

Novidade é Jiang, participante da última edição da versão “para maiores” da atração. Ela vai apresentar os bastidores e curiosidades que essa galera vai aprontar nos estúdios do canal paulista.

Crianças na cozinha, para a professora de gastronomia do Centro Universitário UNA e personal chef Rosilene Campolina, é oportunidade de estabelecer um processo de ensino-aprendizagem em que o universo transdisciplinar está presente.

“Neste cenário, a criança pode socializar-se e aprender desde o português até a matemática, física, química, geografia, artes etc. Todas estas disciplinas estão presentes na cozinha. Alimentar é um ato vital e social”, destaca. “Ela descobre que o leite vem da vaca e não do supermercado, o ovo vem da galinha e não da caixinha, o frango vem da granja e não do frigorífico”, finaliza Campolina.

Além do título de Master Chef Junior Brasil, quem ganhar a competição vai para a Disney com cinco acompanhantes, leva um curso de culinária e vale-compra em supermercado por um ano, prêmio dado, também, ao segundo colocado.


Entrevista com Biel Baum

O que a cozinha representa na sua vida?
A cozinha representa na minha vida uma forma de demonstrar amor e preocupação pela saúde das outras pessoas.

O que você mais gosta de cozinhar?
Sempre gosto de cozinhar o que estou aprendendo no momento! Tipo, tenho paixões na cozinha até esgotar. Agora é a comida mexicana, porque estou no México fazendo minha faculdade de gastronomia e passo a manhã inteira cozinhando com os professores daqui.

Falar de comida para crianças é uma maneira de pensar no futuro? Tendo em mente que a criança, assim como alimentação, exerce um papel transformador capaz de conscientizar e mudar os hábitos de vida e as relações humanas?
Sim. Tudo o que aprendemos de criança fica mais fácil de seguir no futuro. Se aprendemos a comer bem, de forma saudável, sem mascarar os alimentos, sentindo o gosto real, as chances são maiores de sermos abertos a provar novos sabores e ampliar o paladar.

Que mensagem você deixa para as crianças que gostam de cozinhar e que pretendem seguir este caminho?
Que divirtam-se! Provem coisas diferentes. Se têm avós que cozinham bem, fiquem perto delas e aprendam o que é ter carinho ao cozinhar com tempo.

 

Biel Baum é um garoto de 12 anos que tem um sonho: “Ajudar as crianças a terem uma alimentação mais saudável” (Foto: Arquivo Pessoal)

Receita para crianças

Mousse de Maracujá
Por: Ana Paula Sandin

Ingredientes
1 lata de creme de leite
1 lata de leite condensado
120 ml de suco natural de maracujá (1 maracujá e meio).

Modo de preparo
Se for utilizar o maracujá in natura, bata o miolo da fruta no liquidificador com 10 ml de água apenas para soltar o suco das sementes. Coe o suco e bata no liquidificador com o creme de leite e com o leite condensado. Quanto mais bater, mais aerado o mousse ficará. Coloque a mistura em uma travessa e leve para gelar por no mínimo duas horas. Decore com folhas de hortelã.

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