Os Estados Unidos continuam sendo a terra da liberdade mesmo quando o beneficiário é um traficante de drogas que faz troça das principais agências de investigação do país. A graça de “Feito na América”, uma estreias de hoje nos cinemas, reside justamente neste conflito entre indivíduo e Estado.

No filme protagonizado por Tom Cruise, estes dois lados surgem imbricados: o piloto de avião Barry é resultado de um EUA em suspeição, pós-Richard Nixon e Guerra do Vietnã, como mostram as primeiras cenas, exibindo um noticiário negativo enquanto vários aviões aparecem em fila no pátio.

O avião parado, à espera de decolar, é bastante simbólico dessa chance que Barry tem para mudar de vida, após escutarmos da boca do presidente americano Jimmy Carter, em 1978, a expectativa “dos quatro piores anos” por vir. Logo ele é recrutado pelo governo para ações clandestinas em países de perfil comunista.

Barry é tão louco quanto seu interlocutor na CIA, que lhe dá um aeroporto e um mapa de rotas não vigiadas para o piloto voar livremente, armando guerrilheiros da América Central. A história é baseada em caso real e renderia um <CF36>thriller</CF> investigativo sobre a participação ativa dos EUA em guerras.

Os produtores, porém, enxergaram mais humor nas ações de um homem que fazia jogo duplo e guardava milhões de dólares no terreiro de casa, numa jornada que, apesar de alguns sustos, podemos definir como feliz enquanto durou. Cruise faz uma espécie de anti-herói charmoso e de bom coração.

Diferentemente do colombiano Pablo Escobar e do general panamenho Noriega, que surgem violentos e de viés realista, Barry não mata ninguém, como se não tivesse responsabilidade com a escalada de usuários de drogas no início dos 80. Prevalece o trabalhador e marido dedicado. Como ele faz isso, é o que menos importa.

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