Depois de três décadas, ‘Feliz Ano Velho’ volta aos cinemas

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
06/02/2017 às 18:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:43

 Primeiro livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, “Feliz Ano Velho” também foi a primeira ficção assinada pelo diretor Roberto Gervitz, que começou fazendo documentários de temática política. O filme foi lançado em 1987, cinco anos depois do livro, e retornará à telona para projeções comemorativas, com som e imagem remasterizados. O cineasta lembra que seu interesse pela história de “Feliz Ano Velho” partiu da imagem da imobilidade, “que metaforicamente utilizei como uma paralisia frente à vida, fruto do medo de crescer e viver”. Gervitz tomou muitas liberdades com a narrativa autobiográfica de Paiva, que começa falando do acidente que o tornou tetraplégico, em 1979, após saltar num lago. “Diferentemente do livro, o acidente aparece quase como uma consequência. É um filme de leitura bastante simbólica, que me fascinava na época, fruto de minha proveitosa análise junguiana”, registra o diretor, que, assim como em outros de seus longas-metragens, fez do amadurecimento do homem o foco central. A questão do movimento do corpo também é um ponto de atração. “Nesse filme me pareceu muito interessante destituir o personagem do corpo (do qual tinha pouca consciência) e do movimento, pois o movimento pode ser muitas vezes enganoso. O personagem a um certo momento reflete que em movimento você pode estar em muitos lugares sem estar em nenhum”, assinala. O filme foi realizado num momento de grande produtividade do cinema paulista, voltado às questões de uma metrópole que acaba se transformando em personagem. isas em comum com outros trabalhos daquela época, destacando que seu longa tem um tom mais existencial, com temas “mais modernos do que pós-modernos”. Ele trabalhou longamente no roteiro, resultando numa leitura muito pessoal do livro – abordagem que se repetiu em outras adaptações, como “Jogo Subterrâneo” e “Prova de Coragem”. Diz não acreditar no conceito de fidelidade, uma vez que literatura e cinema são linguagens narrativas radicalmente distintas e intransponíveis. “Fui respeitoso ao que me pareceu a essência do livro, mas acrescentei outros temas. Tanto assim que Marcelo Rubens Paiva costumava dizer que Mário não era ele, e não é mesmo, por isso troquei os nomes”, salienta Gervitz, que viu a fotografia de Cesar Charlone (o mesmo de “Cidade de Deus”) ganhar a forma de polêmica nos jornais, durante o lançamento. “Foi com ele que nasceu o termo neon-realismo. Era a incorporação das cores (do neon) na fotografia e, no caso de ‘Feliz Ano Velho’, também da direção de arte, como produto, entre outras coisas, da forte influência de Vitório Storaro e sua teoria das cores no cinema”, recorda o realizador.  Leia mais:Marcelo Rubens Paiva abre, nesta terça-feira, a edição 2017 do “Sempre um papo”

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