Desconhecidos do público, os Roadies são fundamentais para a qualidade dos shows

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
10/09/2016 às 11:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:46
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Você vai a um show, vê seu artista favorito, canta, dança. Observa os músicos que estão no palco e percebe como todos ali estão contribuindo para que o público vivencie um momento especial. Mas para que aqueles artistas pudessem estar ali, há uma turma trabalhando nos bastidores para que nada saia errado e o som seja o mais perfeito possível.

Quem está ali atrás do palco, cuidando dos instrumentos, cabos e parafernália técnica é o roadie. Um profissional fundamental para o mundo do show business, mas que o público pouco conhece.

Um dos profissionais da área mais requisitados no mercado cultural belo-horizontino é Marco Antônio Ratho. Após trabalhar como roadie por 12 anos para o Skank, hoje ele atua como coordenador de palco, atuando em nome da harmonia entre os vários técnicos que trabalham na realização de um show. “O coordenador é o cara que organiza o palco para a troca das bandas. No Festival de Gastronomia de Tiradentes, um menino me perguntou porque usava tantas fitinhas de cores diferentes. Cada uma é a marcação para uma banda”, explica Ratho. 

Ele também percebeu uma demanda do mercado e abriu uma empresa de “locação backline”, ou seja, aluguel de equipamentos e instrumentos para shows, especialmente aqueles feitos por artistas que vêm de outras cidades. “Esse é um trabalho em que tem de saber um pouquinho de cada coisa. Você pode ser um técnico só de guitarra, por exemplo, mas o mercado fica muito restrito para esse profissional”, diz. 

Aos 60 anos de idade, Ratho afirma ter de lidar com novidades a cada evento. “Recentemente, fiz o palco para o Barbatuques, que usa apenas os sons do corpo e da voz. A sonorização foi totalmente diferente”. 

Início precoce

Boa parte dos roadies começam a carreira muito cedo. Caso de Marcelo Supla, que deu seus primeiros passos aos 14 anos, acompanhando a banda da igreja que frequentava. No ano seguinte, veio o primeiro desafio profissional: acompanhar a banda de baile do pai de um amigo. 

“Foi uma experiência única. Não me esqueço do frio na barriga quando anunciaram a banda, da dúvida se estava tudo certo, se estava tudo afinado, se a água e repertório estavam distribuídos e se realmente estava pronto para resolver qualquer imprevisto que poderia acontecer. Mas tudo ocorreu como planejado e, antes de chegar na metade do repertório, já estava mais calmo e tranquilo”, conta Marcelo, de 30 anos.

Segundo ele, há vários pontos fascinantes em sua profissão, como trabalhar diretamente com um artista que admira ou acompanhar o início de um grupo ou projeto e poder ajudar com sua experiência até a primeira apresentação. “Também gosto de sentir a energia de um espaço lotado com um público fervoroso e de poder vivenciar experiências profissionais e pessoais em diferentes lugares do Brasil e do mundo”, diz Marcelo.Arquivo pessoal / N/A

Lapinha e Marcelo Supla já trabalharam juntos em vários eventos

Psicólogo

Dificilmente um roadie planejou ter essa profissão na juventude. A paixão pela música e a oportunidade que aparece, meio sem querer, costumam ser as motivações iniciais. 

Humberto Lapinha trabalhava em uma empresa de áudio no início da fase adulta. Não demorou muito para que um cliente fizesse o convite: “por que você não vem trabalhar com a gente?” “Fui gostando do trabalho e, aos poucos, fui me desligando da empresa de áudio e aderindo ao trabalho com banda”, conta Lapinha, que foi roadie de César Menotti e Fabiano (na época em que a dupla começou a deslanchar), Pato Fu (por sete anos) e Paula Fernandes (por quatro anos). 

Para trabalhar com artistas de perfis tão diferentes, é importante ter inteligência emocional. “Roadie é um pouco psicólogo. Demorou um pouco para eu entender essa questão. Quando você trabalha para uma banda de seis pessoas, vivencia seis situações diferentes”, conta Lapinha, acrescentando que há sempre muita troca de informações entre músicos e roadies sobre novas tecnologias que podem ser usadas nas apresentações. 

Mas toda profissão tem seu lado ruim e a do roadie é ter uma agenda movimentada. “Por muitos anos, não participei de Natal e Réveillon com a família”, lembra. 

Planejamento

Filho de ator, Luis Nicéas teve contato com o teatro e a música desde muito cedo. Assim que surgiu uma oportunidade de trabalhar no universo artístico, a agarrou e transformou em profissão. Aos 19 anos, ele aceitou ser roadie da banda de baile Lex Luthor e viajou todo o Estado acompanhando a banda. “Foi um bom lugar para aprender. Trabalhei com a banda por dois anos e meio”, lembra.

O auge de sua experiência profissional aconteceu quando foi trabalhar com a cantora Paula Fernandes. Ao trabalhar com uma artista que atua em grandes palcos, ele sentiu necessidade de aprender mais. “Foi uma experiência que me deu uma visão mais ampla da profissão. Pude sair do país, viajar o mundo. Não há muitos cursos voltados para roadies, mas aproveitei para fazer um curso no Rio de Janeiro, no Iatec (Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação)”, diz. 

Embora as pessoas só vejam os roadies em ação na hora do show, ajudando na dinâmica do palco, o trabalho tem início muito antes. Normalmente, é o roadie quem cuida da afinação de instrumentos e equipamentos na passagem de som e de todos detalhes técnicos anteriores, dialogando com os responsáveis pela luz e pela mesa de som. 

“Trabalhamos para não ter nenhum problema no palco, de forma preventiva. A profissão envolve um planejamento muito grande”, afirma Luis. 
A parte delicada é lidar com egos dos artistas. “Em festivais, atuamos com egos bem diferentes. Mas os artistas já estão entendendo que, em um festival, eles são a parte de um todo e não adianta chegar e impor condições”.

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