Digital acaba com mistério da fotografia no cinema

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/03/2017 às 15:23.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:42


Para Edgar Moura, um dos principais diretores de fotografia do país, a razão do nariz torto de boa parte de seus colegas de profissão em relação ao cinema digital é uma questão de perda de domínio. “Com a película, só a gente sabia fazer, mas com a chegada do digital passamos a dividir esse poder com outras pessoas, como coloristas e diretores de arte”, observa o fotógrafo de filmes como “Cabra Marcado para Morrer” e “Tieta do Agreste”.

Embora a fotografia no cinema deixe de ser um mistério, Moura não tem dúvidas que o digital melhorou substancialmente a qualidade das imagens. As razões estão no livro “da Cor”, lançado pela editora iPhoto, com apresentação do autor de novelas Gilberto Braga. O título já deixa claro o motivo para a superioridade dos pixels sobre o processo fotoquímico da centenária película, “suporte condenado”, como ele mesmo observa. 

Para exemplificar esse avanço, ele cita o caso de um filme que, passado na Terra e em Marte, precisava mostrar um céu vermelho. “Por mais filtro que se usasse na câmera, era impossível fazer isso com película. Hoje isso é a coisa fácil do mundo”, salienta Moura. O segredo está na fácil manipulação da imagem, retrabalhando as cores. “Antes do digital, ninguém podia tocar na cor. Podia colocar um filtro, mas fazer isso em apenas uma área só o digital consegue proporcionar”.

Fonte da juventude
Tão fácil que até os atores, principalmente os de novela, passaram a receber o “milagre do rejuvenescimento”. Moura lembra divertido da missão que recebeu da Rede Record para descobrir a “mágica” que a Globo fazia em suas novelas, deixando atrizes de 50 anos ou mais de pele lisinha, sem nenhuma ruga ou pé de galinha. “Tive que ir aos Estados Unidos para investigar uma coisa que era bem simples: um botão, em que você clica na pele da pessoa, podendo transformar essa área em qualquer coisa”.

Moura destaca que essa preocupação estética sempre existiu no cinema, mas que, na TV, esse desejo chegou ao exagero. “Na televisão, tudo é menos: menos tempo, menos cuidado...”, lamenta. 

Apesar dessa falta de tempo, ele tem contribuído para transformar o Rio de Janeiro em Jerusalém nas novelas bíblicas da Record. E para isso conta com a preciosa ajuda do digital. “Para fazer as pessoas que acreditarem que é fora do Brasil, é só tirar o verde, a gente faz tudo ficar amarelo ou verde”.

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