Em 'Hotel Transilvânia 3', o verdadeiro monstro é quem não tem o bom coração

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/07/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:19
 (Sony/Divulgação)

(Sony/Divulgação)

A tolerância ao que é diferente também virou palavra de ordem no mundo da animação. “Os Incríveis 2”, já em cartaz nos cinemas, e “Hotel Transilvânia 3 – Férias Monstruosas”, com estreia amanhã, têm como um dos temas a questão étnica, apropriando-se dos próprios universos (respectivamente super-heróis e monstros) para dizer que “todos são a mesma coisa”, uma das frases mais ouvidas na continuação protagonizada pelo Drácula dono de hotel.

Desde o primeiro filme, lançado em 2012, a franquia da Sony já promovia essa interação, a partir do casamento da filha de Drácula com um humano. Mas, desta vez, a proposta ganha mais força dentro da história, tornando-se a grande mensagem deixada para o público. Entra em cena um caçador de monstros (Van Helsing, velho conhecido do terror), que carrega no DNA uma luta eterna contra os seres de outro mundo, levada por gerações e gerações.

Por trás das vozes em inglês estão Mel Brooks, Adam Sandler, Andy Samberg, Selena Gomez e Steve Buscemi

Atualidade

No lugar de protetor da humanidade, Helsing vira uma pessoa obcecada, tão monstruosa quanto os rivais. Acontece que, como numa história de “Romeu e Julieta”, a tataraneta dele irá se envolver romanticamente com alguém do lado inimigo. Logo, é levada a desconstruir a imagem perpetuada na família de que os monstros precisam ser eliminados – objetivo que remete a questões muito atuais, em torno de conflitos étnicos.

Com rosto que lembra Betty Boop, talvez o primeiro ícone feminino da história da animação, Ericka, a tataraneta, tem cabelos loiros curtos e postura militar, que nos faz concebê-la como uma nazista. 

Os monstros, por sua vez, são divertidos e, dentro das características especiais, conseguem transpor mais humanidade. Helsing é bom exemplo do contraste: o corpo é um amontoado de parafusos e peças de ferro, como se fosse um Frankestein.

Questão Familiar

Eles estão cada vez mais associados a questões cotidianas e familiares. O Drácula, que tem a voz de Adam Sandler na dublagem original, virou um pai enciumado (no primeiro filme), avó coruja (no segundo) e, na terceira parte, ressente-se pela falta de uma companheira. 

O artifício não é novo, se lembrarmos de “Meu Malvado Favorito 2”, que também se volta para a questão familiar, mas em “Hotel Transilvânia 3” é costurado de maneira orgânica com a proposta anti-racista.

Assim como a localização da história (escrita, dentre outros, pelo diretor Genndy Tartakovsky, de “O Laboratório de Dexter”), que se passa em alto-mar. Não foram poucas as continuações que fizeram esta troca de ambiente (basta citar “Alvin e os Esquilos 3”), mas o roteiro tira daí boas piadas, principalmente referenciais. O navio faz alusão ao Titanic e o monstro que surge ao final é como o ser mitológico Kraken, de “Fúria de Titãs”. A cidade perdida de Atlântida vira um exuberante destino de férias.

Os mais crescidinhos vão se divertir com as citações aos gremlins – monstrinhos que protagonizaram filme homônimo de 1984, que misturava humor negro e elementos de terror. Eles agora comandam uma companhia aérea que não preza muito pelo bom atendimento e pelo conforto dos clientes.

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