Especialistas criticam restauração do quadro "A Primeira Missa no Brasil"

Folhapress
09/11/2012 às 14:23.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:03
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

RIO DE JANEIRO - "A Primeira Missa no Brasil", famosa pintura histórica produzida por Victor Meirelles (1832-1903) em 1860, teve sua restauração questionada por especialistas na área.

Em reportagem da edição de novembro da "Revista de História da Biblioteca Nacional", o crítico de arte e historiador Carlos Roberto Maciel Levy afirmou que identificou na tela um provável "acidente de restauração" no trabalho realizado, em 2006, por técnicos do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), responsável pela obra.

Ele lamentou a inserção de duas faixas verticais pintadas, cada uma delas em uma lateral da tela, seguindo os mesmos tons da pintura histórica, que retrata a missa descrita na carta de Pero Vaz de Caminha.

A crítica foi avalizada pelo restaurador Cláudio Valério Teixeira, membro do conselho consultivo do Museu Nacional de Belas Artes.

Procurado, Teixeira acrescentou ainda que, além das intervenções nas laterais, a pintura perdeu profundidade de campo. "Houve perda de planos. Levei um susto com a alteração na qualidade da obra", disse o restaurador, que, no entanto, resolveu falar sobre o assunto apenas seis anos depois.

Teixeira já foi responsável pela restauração de "A Batalha dos Guararapes", outro quadro de Victor Meirelles que integra o acervo do MNBA. Ele acredita que a alteração em "A Primeira Missa no Brasil" estaria relacionada ao processo conhecido como "reentelamento", que consiste em reforçar a estrutura da tela original colando uma segunda tela por trás.

"A Primeira Missa no Brasil" já havia recebido o reforço em uma restauração anterior. E, na intervenção de 2006, os técnicos optaram por substituir a proteção existente fazendo um novo reentelamento.

"Durante a retirada do reentelamento antigo, eles utilizaram um processo que umedece a cola e, provavelmente, isso afetou a tela, porque o problema é visível", concluiu Teixeira.
A afirmação causou indignação na equipe técnica do MNBA.

"Se ele realmente acha que houve algo errado na restauração, por que nunca falou sobre o assunto nas reuniões do conselho do MNBA?", questiona Mônica Xexéo, diretora do museu.

Segundo Larissa Long, coordenadora de conservação do museu, a equipe de restauração identificou, na época, que as duas bordas laterais da tela acabaram pintadas em alguma restauração anterior.

"Optamos por remover essa pintura que não foi feita pelo Victor Meirelles e que criava uma falsa continuidade da tela neste trecho das bordas", explica Larissa. Em vez de manter a "extensão" da pintura nas bordas laterais, os técnicos reproduziram duas faixas verticais neutras, no tom da obra original. "Não quisemos falsear uma coisa que não existe. Preferimos deixar claro que aquele trecho da borda não foi feito pelo artista."

Larissa acrescentou ainda que o reforço da estrutura era essencial para a conservação da obra. "O reentelamento antigo estava completamente frágil, quebradiço. Restauramos a estrutura sem comprometimento estético algum da obra", completou a coordenadora do MNBA.

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