Espetáculo musical 'Cartola: O Mundo é um Moinho' chega a Belo Horizonte

Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br
10/08/2017 às 18:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:01
 (Aline Aquino/Divulgação)

(Aline Aquino/Divulgação)

"Somos muitos negros e negras no Brasil, e também temos heróis e heroínas. Cartola, sem dúvida, é um dos nossos grandes heróis na música”. A frase é de Flávio Bauraqui, intérprete disputado de uma geração que amplifica o coro pelo protagonismo de atores negros no cinema e no teatro nacional. Desde 2016, o carioca empresta seu talento ao musical “Cartola: O Mundo é um Moinho”, que acontece nesta sexta-feira e sábado no Sesc Palladium, pela primeira vez em Belo Horizonte.

Idealizada pelo ator e produtor Jô Santana, a peça conta a história de Angenor de Oliveira, o Cartola, cânone da música brasileira. Co-fundador da Estação Primeira de Mangueira, o sambista carioca vira tema de outra escola, do segundo grupo, décadas depois de sua morte. A partir daí, os carnavalescos se debruçam sobre a biografia de Cartola – que surge em cena como uma espécie de memória viva.

Santana conta que a dinâmica do espetáculo foi conduzida em três vias: pela dramaturgia de Artur Xexéo, pela direção cênica de Roberto Lage e pela direção musical de Rildo Horta. “É uma história que vai e volta. Ora está em 2017, ora nos anos 1930. É Brecht dentro de Brecht”, defende, lembrando que são executadas no espetáculo 28 canções de Cartola, além da música-tema, criada por Arlindo Cruz. 

Sobre a escolha do elenco, formado por 18 artistas negros, Santana conta que foi realizada audição com mais de três mil pessoas pelo Brasil. “Minha meta era a diversidade. Não queria um padrão Broadway, mas todos os tipos representados. Aquele cara que você vê na rua, na padaria, na escola de samba”, afirma, lembrando que, em BH, o espetáculo contará com as participações de Aline Calixto e Maurício Tizumba, que interpretam as músicas “As Rosas Não Falam” e o “O Sol Nascerá”.

Afetividade

A escolha de Bauraqui para o papel principal foi sugerida por ninguém menos que a neta de Cartola, Nilcemar Nogueira. “Eu já tinha feito a peça ‘Obrigado, Cartola’, em 2004, e fui convidado pela Nilcemar para participar da abertura do Centro Cultural Cartola. Também interpretei Cartola em um show da Beth Carvalho, em homenagem aos 100 anos dele. Então, é uma pesquisa que venho construindo há anos, com uma relação afetiva bem intensa”, conta o ator.

Bauraqui afirma que, quando foi convidado por Jô Santana, retomou seu trabalho de “artesão”. “Fiquei incontáveis horas ouvindo as músicas, pegando o timbre. Vesti um terno completo e fiquei andando pelas ruas do Rio, naquele calor, ensaiando os gestos, o jeito que ele cruzava as pernas”, relembra, destacando a realização pessoal de interpretar o sambista. “É um encontro com o meu próprio passado. Fazer essa peça me fez pensar muito sobre minha negritude, sobre ser brasileiro nesse momento político tão hostil. Eu me dôo completamente, porque vejo ali uma possibilidade de mostrar um espelho onde jovens negros possam se enxergar”, finaliza.

Serviço: Cartola: O Mundo é um Moinho. Sexta-feira (11), às 21h, e sábado (12), às 19h, no Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos: de R$ 25 a R$ 80.

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