Espetáculo "As Polacas – Flores de Lodo" ocupa o Sesc Palladium sábado e domingo

Miguel Anunciação - Hoje em Dia
25/06/2013 às 08:59.
Atualizado em 20/11/2021 às 19:26

"O mundo não é perfeito, é uma falácia querer fazê-lo parecer bonitinho. Por isso, não acho pertinente quem tenta colori-lo, nem quero fazer um teatro feliz, de plumas e paetês". Quem afirma é Luciana Mitkiewicz, atriz e produtora de "As Polacas – Flores do Lodo", para quem o sobrenome polonês não teria sido o exato motivo para idealizar e erguer esta montagem de Campinas/SP, que viaja a Minas para ocupar o Sesc Palladium, só sábado (29) e domingo (30).

Escrita e dirigida por João das Neves, carioca tão bem aclimatado aqui que considerá-lo mineiro não seria improcedente, a encenação leva 11 atores ao palco para contar uma história ambientada no Rio, entre os séculos 19 e 20. A "volta por cima" de jovens judias, que deixam pequenas aldeias da Europa, muitas vezes iludidas por promessas de amor, para se defrontar com prostituição, violências e falta de amparos.

Contrariando a comunidade judaica, Moacyr Scliar falou algumas vezes dessas personagens. Parte da vasta e benquista obra do escritor gaúcho, morto em 2011, integra a "pequena biblioteca" sobre o tema da peça – um tema explorado até que com bastante frequência na literatura, mas ainda assim pouco conhecida do grande público. Pouco ainda se saberia sobre essas mulheres, que tiveram intenso convívio com negros recém-libertados, na região da Praça Quinze, tida como um dos berços do samba.

O enredo do espetáculo é basicamente articulado por ficções. Por isto, afora a reprodução fidedigna de alguns rituais judeus, do estatuto da associação de ajuda mútua que as prostitutas conseguiram instituir e da menção ao prolongado romance que Moreira da Silva manteve com a polonesa Estera, tudo o mais é imaginação apenas. Mas tão rigorosamente amparada em fatos históricos que, às vezes, até parece que a dramaturgia é realidade. E se não foi, deveria ter sido.

Só João das Neves poderia dirigir este espetáculo, sentencia Luciana. Só ele (que dirigiu sua montagem de formatura, uma versão da Guerra de Troia, segundo a escritora alemã Khrista Wolf, e "uma outra montagem histórica na Unicamp", "Primeiras Estórias", baseada em Guimarães Rosa) saberia articular tantas história reunidas em tantos estilos de dirigir – drama, comédia, musical, distanciamento brechtiniano, realismo etc.

Delicado, mas sem deixar de ir fundo no que toca

Contemplada com recursos do Prêmio Myriam Muniz para viajar, essa ‘megaprodução’, estreou em 2011. No momento, circula por seis cidades do interior de São Paulo e quatro capitais. As que teriam uma comunidade judaica mais expressiva e numerosa, já que os judeus foram bastante assíduos nas temporadas da peça no Rio e em São Paulo.

A aprovação de lei de incentivo é fundamental para poder colocar na estrada uma equipe de 16 pessoas (cinco são técnicos), quando é tão dispendioso se deslocar pelo país, hospedar e alimentar tanta gente. E poder contar com profissionais do calibre de João e de Hélio Eichbauer, cenógrafo também da ópera "Fedra e Hipólito".

Além das duas apresentações, a produção do espetáculo oferece uma oficina gratuita (inscrições encerradas) de quatro dias com João das Neves, descrevendo como construir personagens e cenas a partir de fotos e pinturas de época e desenhos do artista plástico Benjamin Levy.

O elenco da peça mescla atores de grupos de Campinas e convidados do Rio e de SP. A Bonecas Quebradas é uma produtora, não um grupo, admite Luciana. O que não causaria danos à abordagem do tema, que "é delicado, não deprecia os personagens, sem nunca deixar de ir fundo".

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