Estratégias de poder: obra trata relação entre ditaduras e corporativismo

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
21/10/2016 às 15:17.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:19
 (José Medeiros / Arquivo Hoje em Dia)

(José Medeiros / Arquivo Hoje em Dia)

No momento em que os direitos trabalhistas estão em xeque e a negociação entre trabalhadores e patrões é cada vez mais complexa, vale a pena conferir o livro “A Onda Corporativa – Corporativismo e Ditaduras na Europa e na América Latina” (FGV Editora), com textos de pesquisadores de diferentes países. 

São textos que mostram como, nas décadas de 1920 a 1940, ditaduras espalhadas pelo mundo (inclusive aqui, com Getúlio Vargas) tenderam a se relacionar com o corporativismo como maneira de, ao mesmo tempo, reprimir e cooptar o movimento trabalhista. Como corporativismo entenda os sindicatos, câmaras comerciais e corporações que unam numa mesma organização patrões e empregados pertencentes ao mesmo ramo.

O professor de História da USP Francisco Palomanes Martinho, um dos organizadores do livro (ao lado do historiador português António Costa Pinto), explica que a relação entre governo ditatorial e organizações corporativas se dá de forma diferente, conforme o país e conforme a época. A aproximação entre ditadores e sindicatos, por exemplo, se deu especificamente no período Entre Guerras.

“As ditaduras corporativas, típicas entre os anos 20 a 40 do século passado, adotaram o modelo que, se por um lado garantiam direitos, inexistentes nos regimes liberais considerados carcomidos e decadentes, por outro exigiam obediência e ordem. Portanto, greves e manifestações autônomas eram proibidas”, afirma Martinho.

As ditaduras dos anos 1970 foram diferentes, pois muitas estavam vinculadas aos interesses dos Estados Unidos e tinham um perfil mais liberal. “Eram mais repressoras que garantidoras de direitos. Esses são os casos do Chile e da Argentina, por exemplo. Quanto ao Brasil, a história é curiosa: o golpe de 1964 foi dado em nome do rompimento com o passado getulista, ‘o colapso do populismo’, mas o modelo não só permaneceu como foi ampliado aos trabalhadores rurais”.

Vargas
Martinho explica como Vargas, mesmo sendo autoritário, conseguiu o apoio do povo e o título de “pai dos pobres”.  “As classes patronais se opuseram à legislação trabalhista (varguista), acostumadas que estavam com o quase que total livre arbítrio. Aos trabalhadores, a repressão não era novidade. É assim que eles foram sempre tratados, tanto à época da escravidão quanto depois, com o trabalho livre. Portanto, uma legislação minimamente garantidora de direitos não deixava de ser um avanço”.

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