Estreia hoje o aguardado 'Me Chame pelo seu Nome'

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
17/01/2018 às 20:24.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:49
 (SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO)

(SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO)

 O que torna “Me Chame pelo seu Nome” um filme tão singular em relação a outras tantas histórias sobre iniciação amorosa e descoberta sexual, é o que está no seu entorno, em especial, seu contexto histórico, que faz de uma mansão no interior italiano da década de 80 uma espécie de oásis intelectual e afetivo. O diretor Lucca Guadagnino é muito preciso na forma como mimetiza um pensamento e uma atmosfera próprios daquela época, sem precisar entrar em detalhes marcantes. Em alguns momentos, os personagens ouvem o nome do primeiro-ministro Bettino Craxi, que levou a Itália a viver, entre 1983 e 1987, seu “milagre econômico”. NostalgiaEmbora essa informação justifique, de certa maneira, o instante de liberdade intelectual vivido pelos personagens, livres para fazerem suas escolhas, o paraíso terreno se sustenta pelo o que o filme tem de nostálgico, no seu olhar dirigido ao passado – mostrado não como uma perda, mas sim um ganho. Só da metade para o final da narrativa perceberemos algo que corre paralelamente à aventura amorosa de Elio (Thimotée Chalame), um jovem que terá oportunidade de experimentar uma vivência intensa, saudada por outro personagem – num dos diálogos mais cativantes do filme – como rara e plena, que deverá ser guardada para sempre. 

O filme do italiano Luca Guadagnino deve figurar entre as indicações ao Oscar, na próxima semana. E se for nomeado ao prêmio máximo, a chance de um brasileiro (o produtor Rodrigo Teixeira) subir ao palco será grande

 É desse passado mágico que “Me Chame pelo seu Nome” fala. Apesar da última cena se fixar num rosto choroso, há, ao contrário do que a imagem mostra, um regozijo, um entendimento de que a vida nos reserva certos momentos e precisamos aprender a usufrui-los enquanto duram, no lugar de querer perpetuá-los. VoyeurTalvez haja um incômodo ao se descobrir uma postura um tanto voyeur de como as pessoas assistem as descobertas de Elio, fingindo não saber, mas criando condições para que o garoto aflore em suas emoções. Neste ponto de vista, até a chegada de um acadêmico americano, que chega na mansão sob a tutela do pai de Elio, pode soar manipuladora. Todo o ambiente pode ser decalcado deste lado idílico e visto como um laboratório, como se buscassem criar as condições necessárias para a formação de um gênio, dosando as suas dores, importantes para o seu crescimento. E, se prosseguirmos neste raciocínio, podemos até enxergar uma prisão às avessas, uma Xangrilá. Há uma beleza que é contagiante e perturbadora. Os professores estudam os corpos nus e belos presentes nas esculturas da Antiguidade. Tudo surge perfeito, até a estampa do professor americano, interpretado por Armie Hammer. Convenções que são quebradas apenas no atrito dos corpos – o sexo, ao que parece, é a única “imperfeição” permitida.

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