Exposição de Regina Vater valoriza tesouro indígena

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
28/11/2017 às 07:34.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:55
 (dotART/divulgação)

(dotART/divulgação)

Das instalações criadas em 1985, nos Estados Unidos, quando Regina Vater havia mergulhado na cosmologia indígena, quase nada restou. “Eram elementos muito frágeis, como penas e peles de animais, e as peças se perderam”, lamenta. O que permaneceu, lembra a artista plástica, são o aprendizado sobre uma vida autossustentável, sem agressões à Natureza, e desenhos com os esboços das obras, que serão pela primeira vez mostrados no Brasil, a partir de hoje, na galeira dotART.

“São desenhos muito bem concluídos, de estilo mais naturalístico, do tipo que antigamente se fazia, com grafite. De tão elaborados, levava dias para fazê-los”, observa Regina, ao falar da exposição “Estórias do Jabuti”, que será inaugurada ao lado de “Desnatureza”, de Efraim Almeida. Apresentados em galerias e museus americanos, os desenhos não haviam despertado o interesse dos curadores brasileiros, mais interessados na fotografias e videoinstalações de Regina.

Foi esse mergulho nas tradições  que passou a marcar a carreira da artista, ganhadora do Guggenheim Fellowship ao desenvolver a questão das cosmologias indígenas. “A maneira como eles vêem o universo e a vida é muito simples e profunda, com a floresta se transformando na metáfora do cosmos”, destaca Regina, que, já no início dos anos de 1970 havia despertado para a questão ecológica, ao montar a sua primeira instalação com lixo retirado da praia.

A dotART também inaugura a exposição de Efrain Almeida, "Desnatureza", com lançamento do livro sobre a obra do artista

“Não sou antropóloga e sim uma artista e minha maneira de apresentar o que estudei é diferente, a partir do meu trabalho artístico. Voltei ao Brasil muito apaixonada com o que eu vi. A arte é  um instrumento de ampliar a consciência do mundo e da existência. Esse universo é um tesouro que precisamos preservar, inclusive a maneira de valorizar a Natureza”, registra a artista, que não refuta a ideia de refazer as obras no futuro.

Na época, ela usou os mesmos materiais adotados pelos índios, a partir de restos de animais, que, salienta Regina, são representantes da energia da floresta. “É só olhar para o pica-pau, uma ave pequena cujo bico parece ser uma furadeira elétrica. Se fôssemos nós a usar a cabeça daquele jeito teríamos um traumatismo craniano”, brinca a artista.

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